(*) Percival Puggina
O
esquerdismo militante convence seus agentes de que isso acrescenta importantes
polegadas à sua estatura moral, induzindo-os a olhar a humanidade de cima para
baixo. Cada um deles é o novo Adão que emergiu das trevas da injustiça, das
opressões e das exclusões que até então “encobriam a superfície do abismo”
(para usar a expressão bíblica).
Em
suas ocupações e atividades profissionais, o esquerdista militante coloca a
missão acima da função. Seja ele professor, jornalista, padre, pastor, artista,
militar, burocrata, empresário – o que for – antes de tudo é um esquerdista
empenhado no papel transformador e revolucionário que lhe cabe na construção
dessa nova humanidade, bem ali, no lado esquerdo do palco das ideias.
Em
todas as muitas experiências históricas e atuais, essas premissas e seus
fundamentos ideológicos levam, isto sim, a uma nova eugenia. A tal de direita
(sempre dita “extrema”) precisa ser sufocada para perder expressão política. Há
que quebrar esses ovos para a omelete da revolução. Daí a censura que sai do
texto, da obra, e atinge o autor, a família e o ordenamento jurídico do país,
com sucessivas e crescentes restrições de direitos. Daí termos modernos gulags
nos tais inquéritos sigilosos. Daí, também, serem os alunos, os pacientes, os
fiéis, os presos, os pobres, os negros, os pardos, os gays, os leitores e o
público de esquerda os únicos merecedores de atenção e defesa. Infelizmente, de
tanto ver, entendi, mas preferia não ter visto.
O
ministro Luís Roberto Barroso, em recente encontro da OAB Nacional, fez uma
série de afirmações que exigem reflexão (assista aqui). Disse ele, em síntese,
que:
a
democracia enfrenta uma onda de populismo autoritário, anti-institucional e
antipluralista que vem representando um risco em muitas partes do mundo;
a
referida onda se torna perigosa por ser “autoritária, xenófoba, racista,
homofóbica e misógina”;
o
populismo autoritário é o responsável por uma divisão política “nós e eles”;
no
Brasil e noutras partes do mundo, a comunicação direta by-passa instituições
intermediárias como o Legislativo, a imprensa, a sociedade civil, e com muita
frequência elege as Supremas Cortes como adversárias;
as
Supremas Cortes têm o papel de limitar o poder político das maiorias políticas;
a
articulação global extremista de extrema direita se utiliza das plataformas
digitais para espalhar ódio, desinformação, teorias conspiratórias e destruir
reputações.
O
ministro parece ter retomado nesse pronunciamento o múnus ideológico e o esquerdismo
militante que assumiu no último Congresso da UNE. O raciocínio, o vocabulário e
a rotulagem dos opositores como “autoritários, xenófobos, racistas, homofóbicos
e misóginos” o revelam.
Se
há algo que conservadores e liberais não têm é uma articulação internacional
que funcione em seu favor! Estaria o ministro se referindo a Elon Musk e à
plataforma X quando menciona “articulação global da extrema direita”? Nesse
caso, porém, não deveria levar em conta a atuação no sentido oposto dos
notórios Facebook, YouTube, Instagram, Google, etc., que já reprimiam por conta
própria e gosto os perfis e páginas de direita bem antes de serem instados a
isso pelo STF e pelo TSE?
Esse
by-pass às instituições intermediárias criticado pelo ministro não seria, em
palavras mais claras, simplesmente a livre busca da verdade? Não seria o mero
direito que assiste cada cidadão de interpretar e se expressar a respeito dos
acontecimentos com liberdade, independentemente do que proclamem os oráculos
oficiais?
Quando
li sobre a tal “articulação global extremista de direita” me lembrei de que
essa articulação sempre foi marca da extrema esquerda, com suas muitas e
sucessivas “Internacionais” que até um belo hino próprio têm há um século e
meio: (“De pé, ó vítimas da fome! De pé, famélicos da terra!”). Ademais, como
desconhecer o Foro de São Paulo, o Sul Global, a Pátria Grande e outras
articulações semelhantes? Como ignorar o movimento Woke? Onde ficam, nessa
narrativa, a Nova Ordem Mundial e seus bilionários promotores?
Por
fim, num país onde o presidente proclamado eleito é petista, tem maioria de 9 a
2 no STF, compra maioria no Congresso, conta com ampla cobertura do jornalismo
militante das grandes redações e comanda com o tilintar das moedas o setor
cultural, o ministro vê necessidade de controlar o poder político das maiorias!
E essa maioria – surpresa! – não é a maioria governista, mas a ameaçada e
silenciada oposição.
Infelizmente,
entendi, mas preferia não ter entendido.
(*)
Arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Membro da Academia
Rio-Grandense de Letras. Escreve, semanalmente, artigos para vários jornais do
Rio Grande do Sul, entre eles Zero Hora, além de escrever o seu próprio blog e
em outros websites de expressão nacional, a exemplo do Mídia Sem Máscara,
Diário do Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma
centena de jornais.
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