(*)
JR Guzzo
Musk
era de esquerda quando seu nome vinha junto de “carro elétrico”. Ficou de
direita quando comprou o Twitter.
No
ambiente mental cada vez mais idiota em que se encontra o debate político
geral, no Brasil e no mundo, está sendo formada uma nova e neurastênica divisão
entre coisas de “esquerda” e coisas de “direita”. Era mais fácil, antigamente,
separar umas das outras.
Esquerda
era ditadura do proletariado, socialização dos meios de produção, propriedade
coletiva e mais do mesmo; um calouro de centro acadêmico aprendia isso tudo em
cinco minutos. Direita era o capitalismo, a propriedade privada e o
imperialismo americano. Hoje, porém, está tudo mais complicado. Há novidades,
muitas vezes inesperadas, em torno do que é de esquerda ou de direita – e as
pessoas que querem estar num dos dois lados precisam ficar atentas para não
acabar, por falta de informação, no campo contrário.
São
de direita os pagadores de imposto, os garimpeiros e os motoboys que não querem
carteira assinada.
Não
pergunte por que, exatamente, tal coisa é de esquerda ou de direita – muitas
vezes não há resposta racional para esse tipo de pergunta. É mais prático
seguir a classificação oficial em vigor no momento, e que está disponível na
mídia, nas mesas redondas de televisão e nas conversas de pessoas tidas como
inteligentes. Elon Musk, por exemplo, para se ficar no personagem mais falado
do momento: não há nada mais de direita, ou mesmo de “extrema direita”, do que
ele. Na verdade, Musk é um retrato perfeito da nova sintaxe ideológica.
Era
de esquerda quando seu nome vinha sempre acompanhado das palavras “carro” e
“elétrico” – porque o carro elétrico, já pode tomar nota, é de esquerda. Ficou
de direita quando comprou o Twitter por 45 bilhões de dólares e acabou com a
censura interna na plataforma – que, justamente, era de esquerda até então, mas
virou de direita quando Musk introduziu ali a liberdade de expressão. Ponha na
sua lista, a propósito: liberdade de expressão é uma das coisas mais de direita
que se pode encontrar no mundo de hoje.
São
de esquerda a abóbora orgânica, as multinacionais que acham o Brasil incapaz de
cuidar da Amazônia e o futebol feminino.
Da
mesma forma, são claramente de esquerda a máscara da Covid, a “crise do clima”
e os moradores de rua. São de direita os “agrotóxicos”, as pessoas que não
devem nada e os que vão a manifestações de rua na Avenida Paulista ou na Praia
de Copacabana – estes, inclusive, podem até pleitear um certificado de
“fascista” junto ao STF. Os negros são de esquerda, os brancos são de direita.
São de esquerda a abóbora orgânica, as multinacionais que acham o Brasil
incapaz de cuidar da Amazônia e o futebol feminino.
São
de direita os pagadores de imposto, os garimpeiros e os motoboys que não querem
carteira assinada. As “mulheres” são de esquerda. Os “homens” são de direita.
As ciências humanas são de esquerda. As ciências exatas são de direita. O
Nordeste e a Polícia Federal são de esquerda. O Sul e a PM de São Paulo são de
direita, com viés de “extrema direita”. Há, enfim, as balas perdidas. O
ex-governador João Doria, por exemplo, é de esquerda.
É
preciso estar atento, também, às variações sobre um mesmo tema. Um caso típico,
aí, é o da vacina, hoje um dos assuntos mais apaixonantes do confronto
ideológico através do mundo. A vacina está sendo “ressignificada”, como diria
Janja; pode ser de esquerda ou de direita, conforme a doença. Preste atenção
para não confundir uma com a outra, pois escolher o lado errado da contradição
histórica, nesse caso, pode lhe custar um inquérito na Polícia Federal.
Se
a vacina é contra a Covid, pode cravar, tranquilo – ela é de esquerda. Já a
vacina da dengue, que o governo Lula não consegue aplicar, é de direita. No
mais, em caso de dúvida, consulte um jornalista – como a OAB aconselha que se
consulte sempre um advogado. Com certeza ele lhe mostrará a escolha correta.
Fonte: Gazeta
do Povo
(*)
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro,
colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste,
publicação da qual integra também o conselho editorial.
Não deixe de curtir nossa
página Facebook e
também Instagram para
mais notícias do Blog do professor TM
AVISO: Os comentários são de responsabilidade dos autores e
não representam a opinião do Blog do professor Taciano Medrado.
Qualquer reclamação ou reparação é de inteira responsabilidade
do comentador. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos
de terceiros. Comentários postados que não respeitem os critérios serão
excluídos sem prévio aviso.
Postar um comentário