Deltan Dallagnol perde o mandato de deputado federal - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Com esse entendimento, o Tribunal Superior Eleitoral cassou o registro da candidatura do ex-chefe da finada “lava jato” paranaense e, consequentemente, seu mandato de deputado federal. Ele foi considerado inelegível com base no artigo 1º, inciso I, letra “q” da Lei Complementar 64/1990. A votação foi unânime.
A
norma atinge os membros do Ministério Público que tenham pedido exoneração ou
aposentadoria voluntária na pendência de processo administrativo disciplinar. Na
visão do ministro Benedito Gonçalves, relator do recurso apreciado, esses PADs
só não existiram porque Deltan praticou um ato lícito com desvio de finalidade.
O
julgamento do TSE baseou-se no entendimento do conselheiro do Conselho Nacional
do Ministério Público Otavio Luiz Rodrigues Jr., responsável pelas condenações
de Dallagnol nos PADs e depois no caso do PowerPoint (que estava prescrito,
mas que ele, como relator para o acórdão, conseguiu ainda assim condenar o
lavajatista a um pedido de providências).
Dallagnol
foi o deputado federal mais votado do Paraná nas eleições de 2022, com mais de
344 mil votos, os quais poderão ser aproveitados pelo Podemos-PR, que
preservará o quociente eleitoral.
A
candidatura do ex-chefe da “lava jato” foi contestada pelo Partido da
Mobilização Nacional (PMN) e pela Federação Brasil da Esperança, formada pelo
Partido dos Trabalhadores (PT), pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e pelo
Partido Verde (PV).
Fraude à lei
Para o TSE, Deltan Dallagnol cometeu fraude à lei: a prática de uma conduta que
tem amparo legal, mas que configura uma burla com o objetivo de atingir uma
finalidade proibida pela norma jurídica.
Em
suma, o ex-procurador da República renunciou ao cargo de forma dissimulada,
cinco meses antes do prazo exigido por lei e apenas 16 dias depois de um colega
seu ser demitido do cargo em virtude de outro PAD, para evitar que os
procedimentos dos quais era alvo no CNMP avançassem para PAD.
Potencial
para isso não faltava. Eram ao todo 15 procedimentos, decorrentes de
reclamações disciplinares, pedidos de providência e sindicâncias, visando
apurar condutas graves como compartilhamento de informações sigilosas com
agências estrangeiras, improbidade administrativa e lesão aos cofres públicos.
Todos
os 15 procedimentos foram extintos, arquivados ou paralisados pelo CNMP em
decorrência da exoneração do cargo. Restaram apenas dois PADs em que Dallagnol
foi efetivamente punido com as penas de censura e advertência, contra os quais
recorreu ao STF sem sucesso.
Esse cenário, segundo o ministro Benedito Gonçalves, tornaria Dallagnol reincidente, o que bastaria para gerar punições mais gravosas nos PADs que eventualmente responderia, caso não tivesse deixado o cargo estranhamente quase um ano antes das eleições de 2022.
“Pelo
conjunto de elementos, o recorrido estava ciente de que a eventual instalação
de procedimentos administrativos disciplinares poderia colimar em eventual
demissão. Não era uma hipótese remota, mas uma possibilidade concreta”,
explicou o relator.
Belo timing
O timing de Dallagnol também chamou atenção. Sua saída se deu 16 dias
depois de o CNMP condenar seu colega, Diogo Castor de Mattos, à pena de
demissão pela instalação de um outdoor em homenagem à autodenominada
"força-tarefa" da "lava jato" em Curitiba.
“Evidente
a intenção de adiantar em cinco meses a desincompatibilização do cargo para
fugir de sua responsabilização”, afirmou o advogado Luiz Eduardo Peccinin,
que representou a Federação Brasil da Esperança.
“O
recorrido agiu para fraudar a lei, uma vez que praticou, de forma capciosa e
deliberada, uma série de atos para obstar os procedimentos administrativos
disciplinares contra si e, portanto, elidir sua inelegibilidade”, concluiu o
ministro Benedito Gonçalves.
“O
candidato, para impedir a aplicação do artigo 1, inciso I, letra ‘q’ da Lei
Complementar 64, antecipou sua exoneração em fraude à lei”, continuou. “Em
fraude à lei, usou-se de subterfugio na tentativa de se esquivar nos termos da
lei”, acrescentou.
A
defesa do deputado, feita pelo advogado Leandro Souza Rosa, contestou o
uso do “conjunto da obra” para apontar para essa fuga de responsabilização.
Citou o julgamento em que o TSE manteve a candidatura de outro lavajatista, o ex-juiz
Sérgio Moro, porque a inelegibilidade em questão só se configuraria com a
existência de PADs.
Explicou
que Deltan Dallagnol, de fato, foi alvo de dois desses procedimentos, condenado
às penas de censura e advertência, as quais foram cumpridas e levaram ao
arquivamento. E apontou que o ex-procurador deixou o cargo embasado por uma
declaração do CNMP no sentido de não tinha contra si, naquele momento, nenhum
PAD.
RO
0601407-70.2022.6.16.0000
Com
informações de Danilo
Vital é correspondente da revista Consultor Jurídico em
Brasília.
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