A decisão do Banco Central em manter a taxa de juros em 13,75% não foi bem recebida pelo governo do presidente Lula. Ao Brasil 61, o deputado federal Rubens Pereira Júnior (PT-MA), vice-líder do governo na Câmara dos Deputados, disse que já "não se satisfaz mais com acenos" futuros para a possível redução da Selic e que a política monetária do Bacen está prejudicando a criação de empregos e o crescimento da economia.
"Mais
uma vez o Banco Central dá as costas para a realidade. Mantém a política
monetária contrária a tudo o que está sendo feito pelo governo. Aparenta ser
decisões tomadas mais levando em conta a política e está prejudicando
extremamente o país, especialmente a retomada econômica e a retomada dos
empregos".
Segundo
o economista Benito Salomão, a manutenção do patamar dos juros pela sexta
reunião consecutiva – desde agosto do ano passado – não foi uma surpresa para o
mercado financeiro. "Não houve nenhuma surpresa. Isso já era esperado. O
que pegou alguns analistas de surpresa foi o tom do comunicado, em que o Banco
Central apresentou ali as razões pelas quais talvez a taxa de juros não comece
a cair já em 2023".
Em
seu comunicado após a decisão de manter a Selic em 13,75%, o Comitê de Política
Monetária (Copom) disse que a volta de parte dos impostos federais sobre os
combustíveis e, principalmente, a apresentação do arcabouço fiscal diminuíram
parte da incerteza em torno da política fiscal conduzida pelo governo. Mas o
Copom destacou que a inflação está resistente e que outros bancos centrais
continuam a subir as taxas de juros.
Questionado
se considerava o comunicado do Copom uma sinalização ao governo de que os juros
podem começar a cair no futuro, Rubens Pereira Júnior disse que esperava a
queda da Selic há duas reuniões do comitê e que "já não se satisfaz mais
com acenos".
Entidades
do setor produtivo também se posicionaram contrárias ao parecer do Banco
Central. Em nota assinada pelo presidente Robson Braga de Andrade, a
Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que considera
"equivocada" a decisão de manter os juros em 13,75% e que o cenário
atual já permitiria a redução da Selic.
A
CNI argumenta que a taxa de juros real de 7,7%, isto é a Selic menos a
inflação, está em "nível acima do necessário para garantir a manutenção da
trajetória de desaceleração da inflação nos próximos meses" e que tem
contribuído para o encarecimento do crédito para as empresas e para a
desaceleração da economia.
Benito
Salomão afirma também que, embora o Banco Central tenha dado a entender que o
ciclo de redução dos juros pode levar mais tempo para começar, isso não
significa, necessariamente, que o Bacen descarta diminuir a Selic ainda este
ano.
"Em
junho, o Copom se reúne de novo. Novas informações e novos dados vão ser
incorporados na análise. E, talvez, já com o arcabouço fiscal aprovado e
inflação um pouco mais cadente, talvez o Banco Central possa sinalizar uma
queda de juros no próximo comunicado", avalia.
Entenda
Desde
o início do ano, o governo elevou o tom das críticas contra o patamar da
taxa básica de juros da economia. O presidente Lula chegou, inclusive, ao dizer
que poderia tentar rever a autonomia do Banco Central após o fim do mandato do
atual presidente, Roberto Campos Neto.
Na
avaliação do governo e de representantes do setor produtivo, os juros elevados
estão dificultando o acesso ao crédito e freando a economia. O Banco Central,
por outro lado, argumenta que está cumprindo o seu papel de fazer convergir a
inflação para meta, responsabilidade da autoridade monetária, e que a
conjuntura exige paciência.
Fonte: Brasil 61
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