Já deu errado uma vez, mas Lula quer repetir o modelo

 

Voltemos 15 anos no tempo. Em fins da década de 2000, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua ministra de Minas e Energia e mais tarde sucessora, Dilma Rousseff, transformaram a empresa estatal Petrobras na locomotiva industrial brasileira. E nisso dividiram os ovos antes mesmo de a galinha pô-los.


O estopim foi a descoberta de profundas reservas marítimas de petróleo, o pré-sal, a partir de 2006. Lula e Dilma abriram gigantescas opções de financiamento para a petrolífera. Como consequência, a Petrobras investiu em muitas cadeias produtivas, e algumas delas só de longe tinham algo a ver com petróleo.


Por exemplo, iniciou-se uma indústria naval própria para suprir com produção nacional as plataformas offshore e os navios-tanque. Enormes refinarias foram construídas ou até mesmo compradas no exterior. Concessões de exploração foram adquiridas no mundo todo.


Mas, diante da tecnologia complexa necessária para a exploração do pré-sal, os ganhos não jorraram como o esperado. Para mesmo assim poder investir, a empresa endividou-se de tal maneira que em 2013 era a empresa de capital aberto mais endividada do mundo, segundo uma análise do banco de investimentos Merrill Lynch.


Quase todos os investimentos se revelaram um furada: navios-tanque afundaram na inauguração. As plataformas eram muito mais caras do que os preços no mercado internacional e foram entregues anos depois. As refinarias no Rio e em Pernambuco custaram muito acima do planejado – e ou nunca ficaram prontas ou produziram apenas uma parcela do combustível previsto, e isso bem mais tarde.


Ao mesmo tempo, o governo federal usou a empresa para frear a inflação: gasolina e diesel foram vendidos a preços abaixo aos pagos pela empresas na importação. Para cada litro vendido, a Petrobras registrava prejuízo. E isso ao longo de anos.


Depois de três de governo da presidente Dilma Rousseff, a Petrobras estava totalmente arruinada. Em 2014, a empresa valia só a metade e estava quatro vezes mais endividada do que no início do mandato da presidente.


Mais tarde, a Justiça descobriu um enorme esquema de corrupção: empreiteiras privadas, sobretudo a Odebrecht, junto com a direção de Petrobras, desviaram bilhões de reais com a benção do governo e dos partidos políticos aliados. O que surgiu foi um enorme prejuízo para a economia brasileira.


Eu relembro tudo isso, e de forma tão detalhada, porque agora, 15 anos depois, o governo Lula quer fazer tudo isso de novo.


O governo anunciou que vai, de novo, investir em refinarias nacionais. Mesmo que, por causa da transição energética mundial rumo às energias renováveis nas próximas décadas, logo haverá excesso na capacidade mundial de refino.


O governo federal quer, de novo, desenvolver a indústria naval – o que, na gestão Juscelino Kubitschek, no regime militar e nos primeiros governos do PT, já deu errado três vezes e, em casa uma delas, gerou enorme corrupção.


O governo federal debate "abrasileirar" os combustíveis, ou seja, controlar os preços, o que equivale a uma sangria para a Petrobras.


Agora, o governo criou um imposto de exportação temporário para o petróleo. Ele serve para compensar a arrecadação perdida com o valor reduzido da tributação sobre combustíveis. Diante dos elevados preços internacionais atuais, isso não é mesmo um problema para a Petrobras. Mas cobrar impostos sobre a exportação de petróleo pode se tornar algo atraente para um governo cronicamente sem recursos – e por que não também sobre minério de ferro ou celulose no futuro?


O Dieese, que é ligado aos sindicatos, calculou os prejuízos do escândalo da Lava-Jato à economia brasileira em 3,6% do PIB.


Diante do fraco crescimento que os bancos de investimento projetam para o Brasil até 2024, essas são perspectivas desanimadoras.

Texto publicado, originalmente, do DW


(*) Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil. O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.


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