Por: Felipe Moura/Brasil 61
De acordo com levantamento da Infinity Asset Management, o Brasil tem a segunda maior taxa de juros entre os principais 40 países do mundo. Apenas a Argentina, vizinha sul-americana cuja inflação no ano passado foi de quase 100%, está à frente no ranking, com juros de 75% ao ano. Vizinhos como a Colômbia, com 12,75%, e Chile, com 11,25%, também estão entre os países com as maiores taxas de juros do mundo, mas, ainda sim, abaixo da brasileira.
Quando o parâmetro de comparação é a taxa de juros reais da economia, que é a diferença entre os juros nominais e a inflação, o Brasil é o primeiro país do ranking, com 7,38% de juros reais. Em seguida, vem México (5,53%), Chile (4,71%), Colômbia (3,04%) e Hong Kong (2,35%).
O
administrador e economista Eduardo Fayet, especialista em gestão e
desenvolvimento público e privado, explica como a taxa de juros impacta a
atividade econômica do país, o que ajuda a explicar a campanha pela queda da
Selic.
Fayet
diz que quando o preço dos produtos e serviços começa a subir por causa do
excesso de demanda da população e da incapacidade das empresas de atender a
isso, a saída é desestimular o consumo. É por isso que em momentos de inflação
alta o Banco Central sobe a taxa de juros, porque isso encarece o crédito para
empresas e pessoas, o que contribui para que a demanda por bens e serviços
diminua e os preços se estabilizem ou comecem a cair.
"Se
o juro está muito alto, o preço final dos bens e serviços fica muito caro. Elas
passam a reduzir o consumo para economizar, porque esse gasto não cabe dentro
do orçamento das famílias e da receita geral das próprias empresas. Portanto,
isso vai gerar um desaquecimento da economia".
Fayet
explica que os juros altos atrapalham o crescimento econômico, porque se torna
mais vantajoso para as empresas emprestar dinheiro ao governo do que tomar
crédito emprestado para ampliar a produção, comprar novas máquinas e
equipamentos ou contratar mais funcionários.
"Se
não tem investimento produtivo, a economia não cresce, porque investir em
títulos da dívida não faz a economia crescer. O que gera emprego, o que gera
renda, o que gera salário, o que gera, inclusive, lucros para o setor privado
são investimentos na economia real. Em negócios, portanto".
O
economista defende a revisão da taxa de juros para baixo para que a economia se
aqueça novamente, mas diz que isso não pode ser feito de qualquer jeito.
"Não é uma conta simples. O Banco Central não pode fazer uma redução
brusca dos juros, porque isso impacta na previsibilidade, é ruim para o mercado
financeiro e, também, para as indústrias e investidores da economia real.
Vários economistas têm feito uma conta que a taxa Selic poderia estar entre 8%
e 9%, mesmo com a inflação que temos hoje".
A
economista Deborah Bizarria acredita que o Banco Central age corretamente ao
esperar mais antes de começar um ciclo de redução da taxa de juros. Ela explica
que fatores importantes para balizar a decisão em torno da Selic não estão
claros, como o compromisso do governo com as contas públicas. O ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, disse que pretende entregar uma nova regra fiscal
para substituir o teto de gastos ainda em março.
"É
saudável que o Banco Central esteja agindo com cautela. Uma definição de qual
vai ser a política fiscal do governo Lula é fundamental como insumo para as
decisões do Banco Central de manter a subida ou diminuir a taxa de juros.
Afinal de contas, se a política fiscal for expansionista, ela adiciona demanda
e pressiona a inflação e, também, os juros para cima".
O
deputado Evair de Melo (PP-ES) diz que, assim como o Brasil, outros países,
como os Estados Unidos, têm o desafio de encontrar um patamar de juros que
contenha o avanço inflacionário e, ao mesmo tempo, permita que a economia
cresça. Para ele, a solução para o problema deve vir de forma técnica e não com
pressão sobre o Bacen.
"O governo deveria se centrar e apresentar um plano da retomada do emprego, da retomada do crescimento econômico, para atrair novos investimento para o Brasil, principalmente com o capital externo. Isso naturalmente vai distensionar a pressão sobre a economia brasileira e vai trazer uma redução nos juros e quando eu tiver o crescimento da cadeia produtiva, também vou reduzir a inflação, porque eu tenho maior oferta".
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