Foto reprodução
O
senador Marcos do Val (Podemos-ES) deu versões diferentes sobre a reunião com o
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o suposto plano de gravar o ministro do STF
(Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes para reverter o resultado das
eleições de 2022. Reveja
Durante
a madrugada desta quinta (2), Do Val fez uma transmissão ao vivo pelas redes
sociais afirmando que a revista Veja publicaria uma reportagem mostrando que
Bolsonaro tentou coagi-lo a "dar um golpe de Estado junto com ele".
Horas
depois, questionado pela Folha de S.Paulo, o senador recuou na acusação direta
e disse que Bolsonaro "só ouviu" o plano do ex-deputado federal
Daniel Silveira e afirmou que iria pensar a respeito.
Apesar
disso, Do Val contou à reportagem que se encontrou com os dois porque recebeu
uma ligação do próprio ex-presidente da República e que entrou no local da
reunião em um carro da Presidência.
Mais
tarde, em entrevista à imprensa em seu gabinete, o senador afirmou que
conversou sobre sair da política com o filho mais velho do ex-presidente,
Flávio Bolsonaro (PL), e teria sido convidado por ele a se filiar ao PL.
Na
sessão do Senado desta quinta, enquanto Do Val falava à imprensa, Flávio
afirmou que tinha conversado com o colega sobre a reunião, mas "na
linha" de que houve "uma tentativa de um parlamentar de demover as
pessoas que estavam na reunião de fazer algo absolutamente inaceitável".
Do
Val também não esclareceu onde foi o encontro com Bolsonaro e Silveira.
Primeiro,
disse à Folha de S.Paulo que estava em dúvida e que achava que tinha sido no
Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência.
Depois,
na mesma entrevista à imprensa, mencionou a Granja do Torto, segunda residência
da Presidência. À Veja ele disse que o encontro foi no Palácio da Alvorada, a
principal residência oficial do presidente, e onde Bolsonaro se isolou após a
derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O
plano de Silveira, segundo Do Val, era gravar o ministro do Supremo e tentar
arrancar dele alguma contradição que pudesse, depois, prendê-lo. "Se
aceitar a missão, parafraseando o 01, salvamos o Brasil", diz uma mensagem
atribuída a Silveira, revelada pela Veja e obtida pela Folha de S.Paulo.
"Era
muito perceptível o medo do Daniel de ficar vivendo com a sombra do Alexandre
de Moraes querendo prender ele a qualquer hora. Aí ele queria fazer o inverso.
Construiu um complô para o Alexandre ser preso", disse à Folha de S.Paulo.
Do
Val afirmou que sua decisão sobre renunciar ou se afastar do mandato ainda não
está tomada e que vai conversar com sua equipe nesta quinta-feira. A decisão de
deixar a política também tinha sido comunicada por ele de madrugada, pelas
redes sociais.
Do
Val falou à Folha de S.Paulo na manhã desta quinta-feira.
PERGUNTA
- O que aconteceu?
MARCOS
DO VAL - Ele [Daniel Silveira] me chamou no plenário, do lado de fora, disse
que o presidente queria falar comigo. Nessa de querer falar comigo, ele passou
[o telefone] para o presidente. Presidente perguntou se eu poderia me reunir
com ele. Falei que naquela hora não dava porque eu estava por conta das
votações e tal, mas que poderia ser outro dia.
Aí
o Daniel me ligou, perguntou se podia, não lembro se de manhã ou de tarde, e aí
eu fui lá e o Daniel falando como seria, de que forma seria. E eu falei: 'Olha,
que ideia é essa de gravar conversa minha com ministro, ainda mais ministro com
quem eu lido profissionalmente. De forma profissional, não é nem meu amigo. E
nenhum juiz vai aceitar uma gravação feita de forma ilegal. Que ideia de
doido'.
E
eles [Silveira e Bolsonaro] tentando me convencer. Eu falei: 'Sabe de uma
coisa? Deixa eu ir embora, aí eu dou uma resposta para vocês'. Aí eu fui até o
ministro do STF e passei pra ele. Falei: 'Olha, saí de lá agora e o plano era
esse, esse e esse. Reportei para o ministro Alexandre. Eu não poderia
prevaricar, precisava passar isso para uma autoridade. E aí eu não sei o que o
Alexandre fez daí em diante.
Mas
o senhor e Daniel Silveira saíram do Senado juntos de carro?
M.V. - Não. A gente se encontrou no meio do caminho porque ele falou que não era
para eu entrar [na residência oficial] no meu carro, oficial. Aí eu entrei no carro
do presidente e fui lá encontrar ele.
Estou
vendo uma matéria aqui [da Folha de S.Paulo]: "Bolsonaro tentou coagi-lo a
dar um golpe". Não, não...
Por
isso eu estou ligando para o senhor. Então me explica. O que Bolsonaro falou
para o senhor?
M.V. - Nada, ouviu. O Daniel tentando me convencer de fazer isso. Não é o
Bolsonaro tentando me coagir. Coagir seria chantagear né. Mas não teve isso,
não. A manchete aí está errada. Sentou eu, o Daniel e o presidente e o Daniel
foi construindo como seria o raciocínio dele, a gravação e tal, tal, tal.
E
qual é a manchete correta, então?
M.V. - O melhor seria: senador evitou um golpe de Estado.
Mas
quem queria dar esse golpe?
M.V. - O Daniel. Estava tentando convencer o presidente. Tipo assim: tenho uma
ideia pra você não ser preso. E que é uma pessoa que está próxima do Alexandre
de Moraes. Entendeu? Não foi uma coisa que partiu do presidente, tentando me
convencer, não. Não foi isso, não.
E
o presidente falou o quê? Ele só ouviu? Não é possível, senador. Ele deve ter
feito algum comentário.
M.V. - Então, ele só ouviu junto comigo. Aí eu fiz os questionamentos, da questão
da legalidade, e por que. 'Ah, porque a gente consegue, desse jeito, impedir a
posse do Lula. E conseguimos também prender o Alexandre. E o presidente se
manter no cargo.' A única coisa que o presidente falou, quando eu fui embora...
[não conclui].
Falei
assim: 'Olha, eu não vou dar resposta agora'. Porque, se eu desse a resposta na
hora, eles poderiam ficar insistindo. Aí eu falei: 'Eu vou embora, me dá um
tempo e eu respondo depois'. E aí eu mandei uma mensagem para o Daniel. Olha,
última forma, não vou cumprir essa missão. E, na hora de ir embora, a única
coisa que o presidente falou foi o seguinte: 'Vamos pensar'. Só isso.
Vamos
pensar.
M.V. - É.
O
Mourão estava, já que foi no Jaburu?
M.V. - Não. Só nós três.
Não
tinha mais ninguém ali.
M.V. - Não, ninguém. Ninguém. Zero. Nem segurança, ninguém.
E
a história da minuta encontrada na casa de Anderson Torres?
M.V. - Não, eu fiquei sabendo depois pela imprensa. Não foi tocado nesse assunto,
se tinha isso, se não tinha. Nem eu sabia disso.
Só
para entender. A proposta de Daniel Silveira efetivamente era qual?
M.V. - Gravar o ministro Alexandre. Eu conduzindo a conversa para ele falar que
ele ultrapassou a linha da Constituição. A gravação então seria usada para
invalidar as eleições, prender o Alexandre e o presidente permanecer no poder.
Era muito perceptível o medo do Daniel de ficar vivendo com a sombra do Alexandre
de Moraes querendo prender ele a qualquer hora. Aí ele queria fazer o inverso.
Construiu um complô para o Alexandre ser preso.
Ele
achava que a prisão do Alexandre de Moraes abriria caminho para Bolsonaro
continuar no poder?
M.V. - Não. Deixaria de perseguir eles. É como se o Daniel estivesse tentando
convencer eu e o Bolsonaro para fazer essa ação para que também o Bolsonaro
continuasse, para evitar que Lula subisse ao poder e, principalmente, tirasse o
Alexandre de Moraes do caminho.
Confesso
que estou confusa. De que forma a prisão do ministro Alexandre de Moraes faria
com que o presidente Lula não assumisse?
M.V. - Então, essa ideia do Alexandre ser preso, um ministro do STF ser preso.
Tinham umas coisas meio infantilizadas assim. Uma ideia infantil. Eu saí de lá
tipo assim, não acredito que eu ouvi isso. Era meio bizarro mesmo. Um troço
esdrúxulo. Essa chamada de coagiu, não coagiu, isso não aconteceu, não.
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