O Irã realizou nesta quinta-feira (8) a primeira execução conhecida vinculada aos protestos contra a morte de Mahsa Amini: um homem foi enforcado depois de ter sido condenado por bloquear uma rua e ferir um integrante da força paramilitar Basij.
O
Irã é palco de uma onda de protestos desde a morte, em 16 de setembro, de Mahsa
Amini, uma curda iraniana de 22 anos que faleceu depois de ser detida pela
polícia da moralidade por supostamente desrespeitar o código de vestimenta do
país, que obriga as mulheres a usar o véu em público.
De
acordo Mizan Online, o veredicto preliminar do caso foi anunciado em 1º de
novembro pelo Tribunal Revolucionário de Teerã e a Suprema Corte rejeitou um
recurso de apelação em 20 de novembro, o que levou à execução da sentença.
A
justiça iraniana afirma que Shekari se declarou culpado de ter lutado e de
sacar "a arma com a intenção de matar, provocar terror e perturbar a ordem
e a segurança da sociedade".
"Ele
feriu de maneira intencional um basij com arma branca, enquanto este cumpria o
seu dever e bloqueou a rua Sattar Khan em Teerã", afirma a agência.
A
Basij é uma força paramilitar vinculada à Guarda Revolucionária, o exército
ideológico do Irã.
Outros
10 réus correm o risco de ter o mesmo destino por participação nos protestos.
As
manifestações têm sido lideradas por mulheres, estudantes universitárias e
alunas do Ensino Médio, que retiraram os véus em público e gritaram palavras de
ordem contra o governo, enfrentando diretamente as forças de segurança.
-
"Desumano" -
"A
execução de Mohsen Shekari deve provocar fortes reações, pois em caso contrário
vamos enfrentar execuções diárias de manifestantes", declarou Mahmood
Amiry-Moghaddam, diretor da ONG Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo.
O
ativista disse que Shekari foi "condenado à morte em uma farsa judicial,
sem o devido processo legal".
"A
execução deve ter consequências práticas rápidas e em nível
internacional", tuitou.
O
ativista pela liberdade de expressão Hosein Ronaghi, libertado recentemente da
prisão, advertiu o governo que "a execução de qualquer manifestante terá
graves consequências para vocês".
"Tirar
a vida de uma pessoa é tirar a vida de todos. Vocês têm forcas
suficientes?", tuitou.
No
exterior, o ministério austríaco das Relações Exteriores chamou a execução de
"desumana", enquanto a Alemanha afirmou que o "desprezo do
regime (iraniano) pela humanidade não tem limites". A França também
expressou "a mais veemente crítica" à execução.
Na
terça-feira, um tribunal iraniano condenou cinco pessoas à pena capital pelo
assassinato de paramilitares durante os protestos, o que elevou a 11 o número
de sentenças de morte.
As
autoridades, que denunciam as manifestações como "distúrbios", acusam
com frequência os Estados Unidos e seus aliados ocidentais, assim como grupos
curdos no exterior, de estimularem o movimento de protesto sem precedentes.
-
Centenas de mortos na repressão -
Em
um balanço publicado na quarta-feira, o IHR afirma que a repressão dos
protestos provocou pelo menos 458 mortes, incluindo de 63 menores de idades.
O
Conselho Supremo de Segurança Nacional anunciou no sábado que "mais de 200
pessoas", incluindo civis e membros das forças de segurança, morreram nos
protestos. Um general da Guarda Revolucionária já havia divulgado um balanço de
mais de 300 mortes.
A
justiça iraniana informou que mais de 2.000 pessoas foram indiciadas.
Ao
menos 28 pessoas, incluindo três menores de idade, podem ser executadas no país
em conexão com a mobilização, afirmou no dia 2 de dezembro a ONG Anistia
Internacional (AI), que também chamou de "farsa" os processos contra
os manifestantes e acusou Teerã de utilizar a "pena de morte como uma
ferramenta de repressão política para instigar medo entre as pessoas e terminar
com a revolta popular".
O
Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas aprovou uma resolução em 24 de
novembro para investigar as violações de direitos humanos cometidas durante a
repressão aos protestos.
Com informações da AFP (sk/dv/fz/jvb/zm/fp)
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