Foto divulgação Internet/Google
Da Redação
Os vinhos produzidos na região
do Vale do São Francisco receberão, a partir de 2023, selos de Indicação de
Procedência (IP). A conquista, reconhecida através da publicação na Revista de
Propriedade Industrial (RPI) nº 2704, coroa o Brasil como o primeiro país do
mundo a receber uma Indicação Geográfica pela produção dos chamados vinhos
tropicais.
Com
a concessão, oito vinícolas do Vale do São Francisco (VSF) poderão ser
beneficiadas com o selo, válido para vinhos finos, nobres, espumantes naturais
e moscatel espumante. A área de produção das bebidas compreende cinco
municípios localizados em dois estados do Nordeste (Bahia e Pernambuco). Os
destaques baianos são Casa Nova e Curaçá.
“Com
esse selo, a Europa, modelo na produção de vinhos no mundo, reconhece a região
do Vale do São Francisco como referência no Brasil no tocante à produção de
vinhos. Até então o VSF era apenas conhecido pelo manejo e produção de uvas de
mesas e frutas tropicais”, afirma o secretário Leonardo Bandeira, titular da
Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia
(Seagri).
O registro de Indicação Geográfica (IG) é atribuído a produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem e que apresentam uma qualidade única em função de recursos naturais como solo, vegetação, clima e o “saber fazer” (know-how ou savoir-faire). A conquista da IG confere reputação e distingue o item em questão de seus similares disponíveis no mercado. O Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI é a instituição que concede o registro legal de IG no país.
“O selo, além de agregar valor aos vinhos
produzidos no Vale do São Francisco, também mostra a eficiência do trabalho
realizado no campo e a capacidade do estado da Bahia em entregar produtos de
qualidade para os mercados interno e externo”, completa Bandeira.
A IP, concedida por demanda do Instituto do Vinho
do Vale do São Francisco (Vinhovasf), foi uma conquista ancorada em parcerias.
O trabalho para caracterização da região, necessária para o registro, foi
coordenado pela Embrapa Uva e Vinho (RS), em conjunto com a Embrapa Semiárido
(PE), o que resultou em uma equipe com mais de 40 pessoas de várias
instituições buscando fortalecer a vitivinicultura do Semiárido nordestino.
Giuliano
Pereira, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, conta que o projeto fluiu bem por
conta da eficiência e capacitação da equipe, e que houve facilidade porque a
Embrapa conseguiu unir as vinícolas, as pessoas e as instituições engajadas no
trabalho.
“Nós levamos a nossa equipe do Rio Grande do Sul, que já tinha feito indicações
geográficas na Serra Gaúcha, para a região do VSF. Com a experiência e o
background dos últimos 20 anos, o pessoal já tinha o know-how. Unimos as
equipes das várias frentes, de caracterização de clima, solo, viticultura e
enologia. Também foi muito fácil mobilizar as vinícolas, era importante fazer
com que eles não pensassem que são competidores entre si, e sim pensassem em
conjunto, em nome do vinho do Vale do São Francisco”.
Pereira foi o líder do time multidisciplinar que
teve como missão entender a vitivinicultura do Semiárido nordestino,
principalmente a estabelecida no Vale do Submédio São Francisco. Os trabalhos
do projeto, que ocorreram entre 2013 e 2018, geraram as referências utilizadas
para elaborar o material técnico que embasou o pedido de registro da Indicação
de Procedência entregue ao INPI.
Enoturismo em alta
“Com a IP, a expectativa é aumentar a notoriedade dos produtos e conseguir melhorar ainda mais a qualidade das uvas e a tipicidade dos vinhos do VSF. Espera-se também que haja novos investimentos por parte dos produtores que se encontram naquela zona e por empresários de outras regiões. Além da promoção do enoturismo, do artesanato e da cultura local”, pondera Pereira.
José Figueiredo é dono da Vinícola Vinum Sancti
Benedictus (VSB), uma das que deve receber o selo de procedência de vinhos
tropicais a partir de 2023. Para ele, o reconhecimento que o empreendimento vai
ganhar com a IP vai impulsionar o número de clientes.
“A
indicação significa um reconhecimento maior da qualidade dos vinhos do Vale do
São Francisco. E nós da VSB, uma vez dentro do território da IP, aumentaremos
nossa exposição e desejo de consumo pelos nossos clientes e futuros
apreciadores. Nossa pequena produção artesanal certamente será ainda mais
buscada”, diz.
Figueiredo também comenta sobre o diferencial do vinho tropical. “As
particularidades dos vinhos tropicais são as possibilidades de colheita em
qualquer dia e mês do ano. Nossos maiores desafios são as quebras diárias de
paradigmas de se fazer acreditar na produção de vinhos tão próximos à linha do
Equador e com tamanha qualidade, esta já reconhecida pelas centenas de
premiações nos mais aclamados concursos no Brasil e no mundo”.
Marcos Gordilho, proprietário do Empório Casa
Dez, uma importadora e distribuidora de vinhos, explica que os consumidores
preferem, no âmbito dos produtos nacionais, o vinho branco e até apresentam
desconfianças com o vinho tinto feito por aqui.
“Na cabeça do consumidor, o vinho tinto feito na
Bahia, aqui nessa região mais tropical, não era de boa qualidade, mas esse selo
vai ser muito importante para mostrar que na verdade são vinhos de alto valor.
Com essa divulgação e com essa denominação da região, com certeza, o vinho
tinto baiano vai ganhar uma outra conotação e haverá crescimento muito grande nas vendas”, afirma.
“O nordestino de uma forma geral é muito
bairrista, ele valoriza muito o que é da terra, tanto que a gente prioriza
muito os produtos feitos na Bahia em nossas lojas, valorizando o que nós temos
de melhor. Então com relação a essa preferência já tem tido um crescimento
muito grande e a indicação, sem dúvidas, vai ajudar bastante as pessoas a
entenderem que são vinhos de qualidade”, completa Gordilho.
Leonardo
Bandeira, secretário da Seagri, ressalta ainda a importância dos
vitivinicultores da Bahia estarem se atualizando de forma constante para
melhorar a qualidade das uvas, dos vinhos produzidos na região do VSF, e para
aperfeiçoar a experiência dos clientes.
“É preciso se adaptar, o mercado muda ao longo dos anos e com os produtores de
uva do VSF não é diferente. Existem empresas que atuam desde a produção da uva
para vinho até a fase final, que é o envasamento dos seus produtos. Vale
destacar também que a abertura do mercado para vinhos da nossa região permitiu
ainda mais uma alternativa turística da região, a chamada “rota do vinho”, onde
o cliente tem a oportunidade de conhecer, com auxílio de técnicos especialistas
da área, desde o pomar das uvas até a degustação dos mais variados sabores de
vinho e espumantes produzidos”, ressalta.
FONTE: atarde.uol.com.br
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