O primeiro rascunho do plano de governo do PT
deu o que falar. Para quem se arvora em líder de uma formidável coalizão em
defesa da democracia e contra o autoritarismo, Lula da Silva constrangeu até
líderes de partidos aliados ao impor sua agenda na elaboração do documento. Os
eleitores moderados, grupo que o petista precisa conquistar, necessariamente,
para se eleger presidente pela terceira vez, viram naquelas diretrizes
programáticas o velho PT que há alguns anos vinham rejeitando. Algo precisava
mudar.
Pois o PT, para evitar “novos
atritos” com partidos coligados e com esses potenciais eleitores mais ao centro
do espectro político, propôs uma nova versão das tais diretrizes. Substituindo
um adjetivo aqui e um verbo acolá, às vezes nem isso, é tudo mais do mesmo. O
documento vendido aos incautos como “recuo” não passa de mais uma lorota
petista.
Tome-se, por exemplo, um dos temas
que mais repercutiram negativamente quando da divulgação da primeira versão
dessa espécie de pré-programa de governo: a reforma trabalhista. O termo
“revogação” foi suprimido da nova versão. Mas isso não quer dizer, em absoluto,
que os avanços para o mercado de trabalho trazidos pela aprovação da reforma
durante o governo do presidente Michel Temer não estejam ameaçados caso Lula
seja eleito em outubro. A equipe que coordena a pré-campanha do petista fala
agora em propor “uma extensa proteção social”, com atenção especial a autônomos
e trabalhadores que usam aplicativos, “revogando os marcos regressivos da atual
legislação trabalhista, agravados pela última reforma e restabelecendo o acesso
gratuito à Justiça do Trabalho”, diz novo trecho do documento.
Qualquer pessoa alfabetizada lê o que
vai acima e entende que, sim, o partido proporá mudanças na legislação
trabalhista de modo a restaurar, no todo ou em parte, o arcaico arcabouço legal
vigente até a sanção da Lei 13.467, de 13 de julho de 2017. Afinal, não se
sabe, e o documento não diz, o que o PT considera como “marcos regressivos” da
reforma trabalhista – mas intui-se, a julgar pelos raivosos discursos
lulopetistas, que sobraria pouca coisa da modernização das relações de
trabalho.
A
revogação do teto de gastos é outro ponto sensível para o País que foi mantido
nas diretrizes programáticas do PT. O partido tem o direito de defender a
agenda que bem entender, até rematados retrocessos, como o fim do teto de
gastos sem indicar uma nova âncora fiscal, e submetê-la a escrutínio público.
Só não é honesto dizer que recuou ou moderou seu discurso quando, a bem da
verdade, o que houve foi uma manipulação de meia dúzia de palavras.
Em
que pese a inclusão de um tópico no documento condenando ataques à imprensa e a
jornalistas – a rigor, uma obviedade para qualquer um que se apresente como
democrata –, a pauta da “regulação dos meios de comunicação”, um eufemismo para
o controle estatal do jornalismo profissional e independente, segue entre as diretrizes
programáticas do PT. Mas, agora, singelamente chamada de “democratização dos
meios de comunicação”.
Permanece
também o plano de “abrasileirar” os preços dos combustíveis, o que é uma forma
adocicada de defender a intervenção do governo na política de preços da
Petrobras. Aqui, Lula e o presidente Jair Bolsonaro andam de braços dados.
Assim,
com alterações mais ou menos acentuadas no que concerne à linguagem, mas não ao
espírito, o plano petista para governar o Brasil segue repleto de propostas
perigosas, como o alto intervencionismo estatal na economia, o descontrole dos
gastos públicos e a revogação da reforma trabalhista. Se aplicada, essa
plataforma eleitoral não só não tem o condão de apresentar soluções duradouras
para os atuais problemas do País, como pode criar outros, tão graves que nem
sequer podem ser mensurados neste momento.
Mas pode vir coisa ainda pior por aí, caso Lula seja eleito. Afinal, para o chefão petista, “é melhor colocar menos propostas no papel e executar mais”. Conhecendo o histórico do PT, isso soa menos como promessa e mais como ameaça.
Fonte: Matéria publicada pela coluna Noticias & Informações do Estadão
Para
ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com / Siga o blog do
professorTM/EJ no Facebook, e no Instagram. Ajude a aumentar a
nossa comunidade.
AVISO: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Blog do professor Taciano Medrado. Qualquer reclamação ou reparação é de inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não respeitem os critérios podem ser removidos sem prévia notificação.
Postar um comentário