Artigo publicado na coluna Notas & Informações do Estadão
A
julgar por suas declarações nas últimas semanas, parece que o ex-presidente
Lula da Silva tem uma cota de besteiras para dizer até a eleição. É
impressionante. Não é à toa que o principal foco de crises em seu comitê de
campanha seja a área de comunicação.
Muito
distante daquele líder político dotado de um acurado tino eleitoral, atributo
que é reconhecido até por seus adversários, o Lula de 2022 nem parece ser
alguém que precisa, mais uma vez, conquistar eleitores fora da tradicional
órbita de atração do lulopetismo para confirmar seu favoritismo na disputa pela
Presidência da República. O que o líder petista anda dizendo tem chocado até
aliados históricos. Tanto é assim que próceres do PT e “marqueteiros” preparam
o discurso que Lula deverá ler no ato de lançamento de sua pré-candidatura, no
próximo sábado, tal é o receio quanto aos danos que a incontinência verbal do
ex-presidente pode causar.
O
mais recente desatino de Lula, dito em entrevista à revista Time, foi
atribuir ao presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky, uma parcela da
responsabilidade pela invasão de seu país por tropas russas. “Ele (Zelensky)
quis a guerra. Se ele não quisesse a guerra, teria negociado um pouco mais”,
disse Lula à Time, como se houvesse espaço para uma negociação de boa-fé
com quem se senta à mesa armado até os dentes. Lula trata como simétricas as
posições da vítima e do agressor, o autocrata russo Vladimir Putin, um
despautério que não tem o respaldo de nenhum líder democrático no mundo.
Lula,
que não sabe o que é uma guerra, ainda teve o desplante de censurar o
comportamento de Zelensky, dando a entender que seu passado como ator o faria
buscar mais os holofotes do que a diplomacia. “O comportamento dele é um pouco
esquisito, porque parece que ele faz parte de um espetáculo. Ele aparece na
televisão de manhã, de tarde e de noite (...) como se estivesse em campanha.
Ele deveria estar mais preocupado com a mesa de negociação.”
A
incrível insensibilidade de Lula em relação ao líder de um país que tem de
confortar seus concidadãos em meio às agruras de uma guerra só perde para seu
cinismo – afinal, se alguém busca os holofotes todo o tempo e transforma cada
gesto seu em peça de campanha, este é, inequivocamente, Lula da Silva.
Chega
a ser embaraçoso para alguém que se arvora em líder de uma notável “frente
ampla” pela democracia e contra o autoritarismo no Brasil dar amparo a um
evidente ato de violência injustificada perpetrado contra um país soberano,
sobretudo em entrevista à imprensa estrangeira. Ao fim e ao cabo, Lula se junta
ao presidente Jair Bolsonaro na condescendência com que trata os crimes de
guerra cometidos por Putin contra o povo ucraniano.
Em
relação aos temas domésticos, Lula também não tem poupado esforços para chocar
– ou ao menos constranger – apoiadores e afugentar eleitores mais moderados.
Semana sim e outra também, o ex-presidente tem dito, entre outras bobagens, que
é preciso “abrasileirar o preço da gasolina”, como se a política de preços da
Petrobras não estivesse fundamentalmente ligada às oscilações do mercado
internacional, assim como o milho, a soja e outras commodities.
Há
poucos dias, em outra fala desastrada, Lula deu a entender que policiais não
seriam “gente” ao dizer que Bolsonaro “não gosta de gente, gosta de policiais”.
O petista se desculpou com a categoria logo em seguida.
Em
outro aceno a seu público cativo, Lula prometeu, novamente, revogar a reforma
trabalhista, a despeito dos dados que atestam a importância da medida, aprovada
no governo de Michel Temer, para a redução do desemprego. Isso o fez levar
sermão de ninguém menos que Paulinho da Força (Solidariedade). “Esquece essa
história de reforma trabalhista. Ganha a eleição que eu resolvo com o (deputado)
Marcelo Ramos na Câmara em dois meses”, disse o notório líder da Força Sindical
ao petista.
Nessa
toada, o País ainda haverá de sentir saudades de Dilma Rousseff e sua “saudação
à mandioca”. Malgrado o desastre de seu governo, ainda era possível achar graça
nas bobagens de Dilma. Com Lula, não há graça nenhuma.
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