Foto: Taciano Medrado
Após
abrir os negócios nesta quarta-feira (4) em alta frente ao real, o dólar
reverteu a tendência no meio da tarde e passou a registrar desvalorização, na
esteira da decisão do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos)
de aumentar em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros americana, para 1%
ao ano. As
informações são de Lucas Bombana e
Clayton Castelani | Folhapress
No
fechamento da sessão, a divisa norte-americana marcava queda de 1,22%, cotada a
R$ 4,9030 para venda.
Os
índices acionários das Bolsas americanas, que iniciaram o dia no campo
negativo, também passaram a registrar ganhos expressivos após a decisão da
autoridade monetária americana vir em linha com as expectativa dos agentes de
mercado.
Nos
Estados Unidos, o S&P 500 avançou 2,99% e o Dow Jones teve ganhos de 2,81%,
enquanto o Nasdaq, onde se concentram as empresas de tecnologia, valorizou
3,19%. O avanço de quase 3% do S&P 500 foi o maior desde 18 de maio de
2020.
Na
Bolsa de Valores brasileira, o índice amplo Ibovespa também foi atingido pela
onda de otimismo dos mercados e igualmente reverteu a tendência de queda
observada no início da sessão. O índice terminou o pregão com ganhos de 1,70%,
aos 108.343 pontos.
INFLAÇÃO
EM NÍVEIS ELEVADOS
O
aumento promovido nesta quarta pelo Fed foi o maior em 22 anos. A autoridade
monetária disse ainda que começará a reduzir sua carteira de títulos no próximo
mês como mais um passo na batalha para reduzir a inflação.
Apesar
da queda no PIB (Produto Interno Bruto) nos primeiros três meses do ano,
"os gastos das famílias e o investimento fixo das empresas continuam
fortes. Os ganhos de emprego têm sido robustos", disse a autoridade
monetária dos Estados Unidos.
A
inflação "continua elevada" conforme a Guerra da Ucrânia e novos
lockdowns contra o coronavírus na China ameaçam manter a pressão de preços
elevada. "O Comitê está altamente atento aos riscos de inflação",
completou.
Segundo
Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, as sinalizações do Fed
sobre a política monetária trouxeram alívio aos investidores, ao reduzir a
possibilidade de um aperto mais agressivo no ritmo de altas.
"O
Fed indicou que uma alta de 0,75 ponto percentual não está sendo considerada para
o próximo encontro em junho", diz Lima, acrescentando que a autoridade
monetária americana condicionou a condução dos juros nos Estados Unidos aos
dados da atividade econômica e da inflação à frente.
"Um
aumento de 75 pontos-base não é algo que o Comitê (Federal de Mercado Aberto)
esteja considerando ativamente", afirmou Powell em coletiva após a reunião
do Fed.
Os
mercados futuros de juros vinham apontando para uma probabilidade significativa
de que o banco central elevaria os juros em 0,75 ponto percentual em sua
próxima reunião.
Analista
de investimentos na Toro, Paloma Brum afirma que, embora tenham ressaltado o
ímpeto do mercado de trabalho americano, os dirigentes do Fed destacaram as
incertezas quanto aos impactos dos dois eventos globais mais preocupantes
atualmente, a guerra da Rússia contra a Ucrânia e os lockdowns na China, além
de terem enfatizado que seguirão atentos a dados econômicos em diferentes
esferas que venham a afetar a inflação.
"Com
o ajuste de hoje, a maior alta nos juros em 2 décadas, os dirigentes do FOMC
mostraram que estão comprometidos em avançar no combate à inflação, que já
alcança os maiores patamares em cerca de 40 anos", diz a analista.
MERCADO
LOCAL
Por
aqui, a expectativa majoritária no mercado aponta para um aumento de 1 ponto
percentual na taxa Selic ao final do encontro do Copom (Comitê de Política
Monetária) do BC (Banco Central), para 12,75% ao ano.
Segundo
Fernando Marinho, gestor de crédito da Valora Investimentos, o aumento de juros
a ser anunciado em breve pelo BC brasileiro representa uma continuidade da
postura iniciada há mais de um ano. "Portanto, as mesmas classes de ativos
devem continuar se beneficiando: renda fixa pública e crédito privado. Já o
cenário para a Bolsa continuará desafiador", diz Marinho.
Apesar
da perspectiva de juros mais altos, ações de grandes exportadoras de
commodities tiveram forte valorização nesta quarta. As ações ordinárias da
Petrobras avançaram 4,72%, enquanto as preferenciais tiveram ganhos de 6%.
Os
papéis da estatal respondem ao anúncio de que os países da União Europeia
deixarão de importar petróleo e produtos refinados russos. A medida provoca
forte aumento no preço do petróleo, que é negociado no mercado internacional em
alta acima de 5%.
IMPACTOS
DOS JUROS NOS EUA PARA O BRASIL
Embora
o foco do banco central dos Estados Unidos com a alta dos juros seja a inflação
doméstica americana, os efeitos colaterais afetam investimentos de pessoas e
empresas em todo o mundo. E isso não mexe apenas com a vida de investidores e
empresários. Empregos, salários e o valor da conta do supermercado de
trabalhadores, inclusive os brasileiros, estão em jogo.
Em
tempos de dinheiro abundante e barato, grandes investidores ficam mais
dispostos a comprar ações de empresas de países de economia emergente, como é o
caso do Brasil, um tipo de aplicação considerada arriscada devido à
instabilidade desses mercados. Os recursos permitem o crescimento de negócios e
a geração de trabalho e renda.
O
aperto da política monetária nos Estados Unidos reduz as chances de ações de
empresas listadas na Bolsa brasileira serem compradas porque, simplesmente, há
menos capital disponível. Mas não é só isso.
Ao
aumentar os juros, o Fed eleva a recompensa para quem aplica no Tesouro
americano, cujo risco de perdas devido a um calote é considerado inexistente.
Com uma opção segura pagando mais, os investidores ficam mais seletivos. Muitos
desistem das ações de empresas, principalmente as mais arriscadas.
A
alta dos juros americanos também afeta o câmbio. Os investimentos de
estrangeiros no Brasil, sejam eles no mercado de renda variável ou na renda
fixa, trazem dólares para dentro do país. Se a moeda entra em menor quantidade,
ela fica mais escassa e o seu valor frente ao real tende a subir.
O
dólar valorizado é um potencial gerador de inflação no Brasil porque torna mais
cara a importação de maquinário e componentes utilizados na indústria local,
além de diversos itens de consumo.
Materiais
básicos exportados por companhias brasileiras pelo exterior também são
precificados em dólares. O petróleo produzido pela Petrobras é o exemplo mais
conhecido. O preço mais alto pago em dólares pelas commodities no exterior
também torna esses produtos mais caros para o consumo aqui no Brasil.
O
crescimento das exportações pode, eventualmente, favorecer a entrada de dólares
no país. Isso depende de onde os exportadores decidem investir os ganhos com as
vendas no mercado externo. É nesse ponto que a política ganha importância.
Um
cenário político conturbado, com ameaças ao funcionamento de instituições
democráticas e de interferência agressiva do governo no mercado financeiro,
afugenta investidores.
Há
consenso entre analistas de que o temor desse tipo de instabilidade afastou
investimentos do Brasil no ano passado, mesmo com um contexto favorável no
exterior devido à política expansionista dos Estados Unidos e de outras das
principais economias globais.
Em
2022, ano de eleições no Brasil, investidores estão especialmente atentos a
medidas que podem aumentar os gastos públicos.
Despesas
elevadas dificultam a execução do Orçamento, como investimentos em
infraestrutura, pagamento das dívidas da União e outras ações planejadas pelo
governo no ano anterior. É o chamado risco fiscal.
Mais
risco significa menos disposição de investidores para investir no Brasil e nas
empresas brasileiras, pois eles avaliam que as condições ficam desfavoráveis
para o crescimento do mercado interno.
A escassez de liquidez no exterior dificulta o jogo para o Brasil porque, com menos capital, investidores querem mais segurança e lucros maiores ao decidir onde aplicar.
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