O Taleban libertou, nesta
quarta-feira (2), dois jornalistas afegãos da emissora privada Ariana News
TV que haviam sido detidos um dia antes, sem justificativa oficial, pelo
grupo radical que governa o Afeganistão desde agosto
de 2015. As informações são da rede Gandhara.
“Finalmente
o TB [Taleban] libertou Aslam Ejab e Waris Hasrat. Eles ficaram detidos pelo TB
por duas noites”, disse Sharif Hassanyar, chefe da Ariana News, em sua
conta no Twitter.
Os
dois jornalistas foram
detidos por membros
do Taleban em frente ao prédio da emissora, na segunda-feira (31).
Desde então, o governo talibã não havia dado qualquer explicação para a
detenção. Sequer havia confirmação oficial de que haviam sido detidos.
Um
dia antes das detenções, um convidado de um programa da emissora havia
criticado o regime
talibã durante um debate ao vivo. Hasrat é âncora e produtor do
programa em questão, enquanto Ejab cobre economia na Ariana News.
A
libertação da dupla ocorreu em meio à pressão de grupos de direitos humanos. A
ONG afegã Free Speech Hub foi uma das primeiras instituições a se
manifestar, instando o governo talibã a “libertar imediatamente os jornalistas
detidos e não suprimir a liberdade de expressão no Afeganistão”, de acordo com
o site La
Prensa Latina.
Já
a Anistia Internacional disse que as detenções “não eram justificáveis” e que
tais medidas representam uma “grave ameaça ao direito à liberdade de
expressão”. Igualmente, pediu a libertação “incondicional e imediata” dos
profissionais.
Por
sua vez, a Unama, missão da ONU (Organização das Nações Unidas) no Afeganistão,
usou o Twitter para cobrar explicações.
“Crescente
preocupação com as restrições à mídia e à liberdade de expressão. A ONU pede
que o Taleban torne público por que eles detiveram esses repórteres da
@ArianaNews_ e respeite os direitos dos afegãos. Continuamos a pedir aos
talibãs que esclareçam o paradeiro das mulheres ativistas que desapareceram há
duas semanas”.
Por
que isso importa?
Ao
menos seis pessoas foram presas pelo Taleban em 2022 por serem jornalistas ou
colaborarem com profissionais da área. No dia 6 de janeiro, três repórteres
foram detidos enquanto trabalhavam na cobertura de manifestações contra
o Taleban na província de Panjshir. Eles estavam a serviço de um
canal no YouTube chamado Kabul Lovers, com aproximadamente 244
mil inscritos.
Em
outro caso registrado neste ano, o Taleban prendeu Faizullah Jalal, professor
de Direito e ciência política da Universidade de Cabul, em 8 de janeiro. Ele
foi detido por quatro dias sob acusações de fazer declarações “sem sentido” e
“incitar” pessoas contra os talibãs. Depois de solto, Jalal disse ter sido
preso por ter discutido com um porta-voz talibã em um debate na televisão.
Aslam Ejab e Waris Hasrat, da Ariana TV, são as vítimas mais recentes da
repressão talibã à mídia.
Números
mostram que o jornalismo afegão tem sido sufocado pelo Taleban. Em dezembro de
2021, uma pesquisa conduzida em parceria pela ONG Repórteres
Sem Fronteiras (RSF) e pela Associação de Jornalistas Independentes do
Afeganistão (AIJA) apontou que 231 veículos de imprensa foram fechados e mais
de 6,4 mil jornalistas perderam o emprego no Afeganistão desde o dia 15 de
agosto, quando o Taleban assumiu o poder no país.
Os
dados apontam que mais de quatro em cada dez veículos de comunicação
desapareceram nesse período, e 60% dos jornalistas e funcionários da mídia
estão impossibilitados de trabalhar. As mulheres
sofreram muito mais: 84% delas perderam o emprego, contra 52% no caso dos
homens. Entre as 34 províncias do país, em 15 delas não há sequer uma mulher
jornalista trabalhando atualmente.
Dos
543 meios de comunicação registrados no Afeganistão antes da ascensão talibã,
apenas 312 ainda operavam no final de novembro. Isso significa que 43% dos
meios de comunicação afegãos desapareceram em
um espaço de três meses. Das 10.790 pessoas que trabalhavam na mídia afegã
(8.290 homens e 2.490 mulheres) no início de agosto, apenas 4.360 (3.950 homens
e 410 mulheres) ainda estavam trabalhando quando a pesquisa foi realizada.
Matéria publicada originalmente pelo site de notícias internacionais A Referência.
Para ler mais acesse, www:
professortacianomedrado.com
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