A
recessão decorrente da pandemia atingiu um número maior de países do que
qualquer outra crise em 120 anos, desde que as contas nacionais são registradas
de modo amplo. Os efeitos deletérios tiveram maior dispersão econômica do que
as duas Guerras Mundiais e a crise financeira dos anos 2000. A reportagem é de Douglas
Rodrigues/Poder 360.
O
dado consta em relatório do Banco Mundial divulgado nesta semana. O levantamento
aponta que 90% dos países do globo tiveram contração do PIB (Produto Interno
Bruto) em 2020. Esse percentual equivale a 172 países, de um total de 192.
Antes,
o pior ano para a economia global havia sido 1931, no auge da Grande Depressão,
quando 83% das nações tiveram quedas em suas economias.
Eis
a íntegra do estudo do Banco Mundial (3 MB).
GASTOS
PARA CONTER CRISE
O
Brasil desembolsou 15% do PIB (entre estímulos fiscais e de liquidez) para
conter os efeitos da covid no 1º ano de pandemia. O percentual é acima da média
de outros países de renda média: 10%.
A
Itália, um país de renda alta, gastou muito mais: 46% de tudo que é produzido
pela economia em 1 ano. Os Estados Unidos, um país rico com uma população de
330 milhões, gastaram 28% do PIB em 2020.
A
média de gastos dos países de renda alta foi de 21%. O resultado dessas fortes
despesas para conter os efeitos da pandemia teve um custo: maior endividamento
global de governos, empresas e famílias, disse ao Poder360 a
economista portuguesa Rita Ramalho, do Banco Mundial. Ela é uma das coautoras
do estudo.
Na
análise do Banco Mundial, 51 países (incluindo 44 economias emergentes) sofreram
rebaixamento em sua classificação de crédito da dívida soberana. O estudo teve
destaque em artigo no Financial Times.
O
endividamento dos países tende a se agravar, disse Ramalho, por outra
consequência global da pandemia: a alta da inflação. O aperto da política
monetária faz com que os países aumentem as despesas com juros ou os incorpore
ao montante do débito.
Há
duas soluções para isso. “No curto prazo é preciso buscar a mudança do perfil
da dívida, com papéis mais longos e juros menores. No longo prazo é necessário
ter políticas fiscais adequadas por meio de controle de gastos e aumento da
arrecadação de impostos”, disse a economista.
Álvaro
Bandeira, economista-chefe e sócio do Banco Modal, afirma que a crise econômica
provocada pela pandemia de covid é “inédita”. Não tem comparação com os
efeitos da Gripe Espanhola, no final da década de 1910, nem com o colapso
financeiro iniciado em 2008.
“A
primeira veio de navio. Não fechou as economias nem provocou o impacto em
termos de mortes, de internações e de investimentos em estruturas hospitares
como vimos com a covid”, afirmou. “A crise de 2008 surgiu com o apertar de
um botão de computador e afetou todo o sistema financeiro. Desta vez, o setor
não foi central para a queda da atividade econômica dos países.”
Na
virada da década de 2000 para a de 2010, os bancos centrais injetaram liquidez,
como forma de manter a economia girando. A fórmula foi repetida em 2020 e 2021.
Mas agora, na fase de recuperação, essas instituições promovem o enxugamento,
com aumento de taxas de juros e o fim de medidas expansionistas.
Segundo
Bandeira, a inflação é a razão dessa guinada na política monetária, agora mais
complicada. Isso porque as medidas para impedir a escalada dos preços
naturalmente freiam o crescimento econômico.
Além
disso, a pandemia provocou desequilíbrios na oferta ainda não solucionados. Em
especial, os gargalos na entrega de insumos, como os semicondutores, para
setores produtivos. Em alguns segmentos, como o automobilístico brasileiro, há
também pressão de demanda.
Conforme
explicou, o setor petroleiro foi um dos vulneráveis ao longo da pandemia de
covid. Houve cortes expressivos na oferta de petróleo e derivados em 2020, como
meio de conter queda pronunciada nos preços internacionais. Em 2021, com o
afrouxamento das restrições sanitárias e a vacinação, a demanda voltou a subir
e a pressionar essas cotações.
O
aumento diário de produção de 400 mil barris pelos países da Opep, desde meados
de 2021,não foi suficiente para trazer os preços a um patamar adequado. É uma
das principais razões do aumento da inflação no Brasil, Estados Unidos e
Europa.
Para
Bandeira, o Brasil ainda continuará a estar entre as economias afetadas pela
pandemia em 2022. O crescimento é estimado entre -0,5% e +0,5%. Como o governo
projetou 2% no Orçamento, será provável que a arrecadação de impostos fique
aquém do esperado e aumente o déficit fiscal.
“O
problema é que, neste ano, o país não vai crescer nada. Terá inflação alta,
taxa de juros elevada, dívida pública crescente, medidas fiscais populistas”,
disse. “E não podemos contar com privatizações nem com reformas.”
Mundo
com mais miseráveis
O
Banco Mundial estima que 76 milhões de pessoas entraram para a extrema pobreza
em 2020, revertendo a tendência de redução doos que vivem nessa condição nas
últimas décadas. Não há perspectiva de melhora no curto prazo. O fornecimento
de vacinas, essencial para controlar a pandemia, permanece altamente desigual
em todo o globo.
Bancos
mais opacos
Uma
das consequências da pandemia é que o sistema financeiro está mais opaco,
disse Ramalho. O motivo é a postergação do pagamento de dívidas de pessoas
e empresas. Isso ajudou na recuperação econômica de vários países. Mas trouxe
risco para o sistema financeiro.
Uma
das recomendações do órgão é enfrentar as dívidas incobráveis. Isso pode ser
feito por meio de detecção precoce e a resolução rápida de fragilidades
econômicas e financeiras. “Como os balanços das famílias, das empresas,
das instituições do setor financeiro e dos governos estão fortemente
inter-relacionados, pode haver riscos ocultos”, diz o texto.
Na
perspectiva do banco, a recuperação econômica será lenta em muitos países
emergentes e em desenvolvimento. O Brasil, por exemplo, pode ter dificuldades
com o aumento de juros para conter a inflação.
O
país, na estimativa do Banco Mundial, recuperou quase totalmente, em 2021, a
redução do PIB em 2020. Em relação a 2019, o último ano pré-pandemia, a
variação negativa acumulada é 0,2%.
A única boa notícia global, como relata o Financial Times, é o aumento dos preços das commodities, que pode beneficiar países com o sul-americano.
Para
ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com
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