Da redação
O
jornalista Aref Nouri, diretor da rede de televisão
afegã Nourin, foi preso pelo Taleban neste domingo (26).
Integrantes das forças de segurança talibãs invadiram a casa do profissional,
em Cabul, e o detiveram na frente da família, sem dar maiores explicações sobre
as razões da prisão, de acordo com a rede Radio
Free Europe.
“Não
temos ideia de onde ele está detido”, disse Roman Nouri, filho de Aref,
acrescentando que o Taleban mais tarde confirmou ter realizado a prisão, ainda
sem informar o paradeiro
do pai dele.
Roman
afirmou, ainda, que não foi apresentado nenhum mandado de prisão ou qualquer
outro tipo de ordem judicial relativa à ação das autoridades talibãs. De acordo
com a Associação dos Jornalistas Livres, um órgão de imprensa do Afeganistão, a prisão de Nouri
não estaria relacionada com as atividades dele como jornalista.
Repressão
à mídia
Na
semana passada, uma pesquisa conduzida em parceria pela ONG Repórteres
Sem Fronteiras (RSF) e pela Associação de Jornalistas Independentes do
Afeganistão (AIJA) apontou que 231 veículos de imprensa foram fechados e mais
de 6,4 mil jornalistas perderam o emprego no Afeganistão desde o dia 15 de
agosto, quando o Taleban assumiu o poder no país.
Os
dados apontam que mais de quatro em cada dez veículos de comunicação
desapareceram nesse período, e 60% dos jornalistas e funcionários da mídia
estão impossibilitados de trabalhar. As mulheres
sofreram muito mais: 84% delas perderam o emprego, contra 52% no caso dos
homens. Entre as 34 províncias do país, em 15 delas não há sequer uma mulher
jornalista trabalhando atualmente.
Dos
543 meios de comunicação registrados no Afeganistão antes da ascensão talibã,
apenas 312 ainda operavam no final de novembro. Isso significa que 43% dos
meios de comunicação afegãos desapareceram em
um espaço de três meses. Das 10.790 pessoas que trabalhavam na mídia afegã
(8.290 homens e 2.490 mulheres) no início de agosto, apenas 4.360 (3.950 homens
e 410 mulheres) ainda estavam trabalhando quando a pesquisa foi realizada.
Em
muitas localidades, o Taleban impõe condições à mídia local que incluem não
empregar mulheres como jornalistas. Mesmo na capital Cabul, onde a presença
feminina era maior, o cenário da mídia em grande parte sem
profissionais do sexo feminino. Isso porque poucas ousaram retornar ao trabalho
depois que os talibãs assumiram o governo. Das 1.190 mulheres jornalistas e profissionais
da mídia na capital no início de agosto, apenas 320 trabalham hoje, uma queda
de 73%.
A
mídia é obrigada a respeitar uma cartilha do Ministério da Informação e
Cultura, as “11 Regras do Jornalismo”. É uma arma do governo talibã para impor
o rigor religioso também ao jornalismo. Em, determinadas províncias, programas
jornalísticos e musicais tiveram que dar lugar ao conteúdo religioso, veto que
levou algumas estações de rádio locais a encerrarem suas transmissões.
“As
perigosas ‘Regras do Jornalismo’ abrem caminho para a censura e a perseguição e
privam os jornalistas de sua independência, forçando-os a dizer aos
funcionários do Ministério da Informação e Cultura o que gostariam de cobrir,
obter sua permissão para prosseguir e, finalmente, informá-los sobre os
resultados de seus relatórios para poder publicá-los”, diz a RSF.
Ainda
assim, o porta-voz do governo Zabihullah Mujahid afirma que o governo
talibã apoia “a liberdade da mídia na estrutura definida para
preservar os interesses superiores do país, com respeito à Sharia e ao Islã”.
Segundo ele, o governo talibã quer “ajudar os meios de comunicação que estão
operando a continuar a fazê-lo e ajudar os demais a encontrar soluções para que
possam retomar suas atividades”.
Por
que isso importa?
Foram
registrados desde agosto ao menos 40 episódios de violência
contra jornalistas no Afeganistão. Questionado sobre esses incidentes,
o porta-voz do governo Zabihullah Mujahid reconhece a responsabilidade das
forças de segurança, cujo “comportamento nem sempre foi correto e
profissional”. Ao mesmo tempo, diz que esforços serão feitos “para tentar
treiná-los e controlar esse comportamento”.
Num
dos primeiros episódios de violência pós-ascensão talibã, o jornalista Ziar
Khan Yaad, da emissora afegã TOLO TV, foi
atacado por membros do Taleban em Cabul, em agosto. Yaad e seu
cinegrafista foram surpreendidos pela ação violenta dos extremistas enquanto
trabalhavam em uma reportagem sobre a situação de pessoas desempregadas e
trabalhadores.
Em
setembro, o fotojornalista afegão Morteza Samadi passou mais de três semanas
detido pelo Taleban. A informação de sua soltura foi
confirmada por amigos do fotojornalista à reportagem de A
Referência, em meio a temores de que ele pudesse ser executado pelos
extremistas.
Em
outubro, membros do Taleban agrediram um grupo
de jornalistas que faziam a cobertura de um protesto de mulheres em
Cabul. Um fotojornalista estrangeiro
foi atingido com uma coronhada de um rifle por um talibã, que ofendeu o
fotógrafo enquanto desferia socos e chutas nas costas dele. Pelo menos mais
dois jornalistas foram atingidos no processo de dispersão, enquanto os extremistas os
perseguiam portando rifles e outras armas pesadas.
Além
do assédio do Taleban, os proprietários da mídia precisam lidar com novas
restrições econômicas. Muitos meios de comunicação que recebiam financiamento
nacional e internacional não têm mais acesso ao dinheiro desde que o Taleban
assumiu o poder. “Esses subsídios, vindos principalmente de países que tinham
presença militar no Afeganistão e que tinham interesse em fornecê-los, acabaram
agora”, disse o porta-voz do governo.
A
mídia também foi duramente atingida por uma perda de receita de publicidade. Na
província de Nangarhar, que perdeu 35% de seus veículos de comunicação, o dono
de uma rádio que fechou em outubro disse que “a situação econômica é tão ruim
que a maioria dos empresários, mesmo que não tenha fechado as lojas, não pode
mais gastar dinheiro com publicidade”.
Mujahid
reconhece o fim de diversos meios de comunicação, mas afirma que muitos
“executivos e gerentes da mídia fugiram do país”. Segundo ele, isso contribuiu
para o “colapso” dos veículos e para a perda de empregos.
“Além dos números, o fechamento de quase metade da mídia do país e a perda de mais de seis mil empregos são um desastre para a liberdade de imprensa”, disse Hojatollah Mujadadi, diretor-executivo da IAJA. “Se as instituições internacionais não ajudarem os jornalistas e a mídia no Afeganistão e se o governo não tomar medidas urgentes, a outra metade da mídia e dos jornalistas, que ainda estão trabalhando em condições realmente difíceis, terá o mesmo destino”.
Para ler mais
acesse, www: professortacianomedrado.com
AVISO: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Blog do professor Taciano Medrado. Qualquer reclamação ou reparação é de inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não respeitem os critérios podem ser removidos sem prévia notificação.
Postar um comentário