Prof.Taciano Medrado
No encontro entre o compositor e cantor Caetano Veloso e o escritor
espanhol Paul B. Preciado, que está em Paris, mediado pelo mexicano Ángel
Gurria-Quintava, o avanço da extrema direita no mundo foi um dos temas
discutidos, mas não o principal no sábado, 5. A mesa de número oito
(Transições) da edição virtual da Festa Literária Internacional de Paraty, foi
pré-gravada, mas não perdeu o impacto. Preciado, autor de Um Apartamento em
Urano e um dos primeiros pacientes do covid-19, perguntou sobre o significado
do título Narciso em Férias, que Caetano tirou de um capítulo de um livro de F.
Scott Fitzgerald. “Narciso é um deus básico, e, em geral, usam a palavra de
Narciso de maneira pejorativa”, respondeu, lembrando que o livro do escritor
americano lhe veio à mente quando ficou numa solitária, preso pela ditadura militar,
tema de sua obra.
Parecia
que minha vida tinha sido essa o tempo todo e, quando me decidi narrar a
experiência da prisão, me pareceu um bom título”. Sobre o gênero do livro, que
Gurria-Quintaca classificou de autoficção, Veloso admitiu
que não pode deixar de haver, no caso, a construção de um personagem.
Já Preciado escreve em seu livro recém-lançado, que a filosofia
é um tipo de ficção que pretende transformar a realidade. Com nacionalidade
espanhola, ele pediu a mudança de sexo, discutindo a questão da
homossexualidade no encontro. Caetano citou o crítico Luís Carlos Maciel quando
o livro Vereda Tropical (origem de Narciso em Férias) foi lançado: “Caetano se
revelou: ele não é homossexual, nem bissexual nem heterossexual”. O compositor
riu e admitiu que já se apaixonou por homens, após ler um poema elegíaco à pansexualidade,
estranhando a ausência de “bichas” no colégio dos filhos, no Rio. Na Bahia, segundo Caetano, ele vivia rodeado de colegas homossexuais.
Caetano
falou também sobre o momento em que esteve preso. “O espaço muito masculino da
prisão militar causou um outro apagão aqui, que foi a atração sexual e
sentimental por homens. Fiquei com uma rejeição sexual em relação à figura dos
homens, que eu não tinha”, disse.
O
compositor, referindo-se à sua formação, citou a intelectualidade francesa
(Sartre, Simone Beauvoir, Lévi-Strauss) e destacou o papel de Foucault como uma
inteligência que abriu novos caminhos para a sua filosofia.
Já
Preciado, filho de uma tradicional família do Norte da Espanha, franquista, teve dificuldades para aceitar sua mudança de
sexo (ele era a escritora Beatriz Preciado). “Toda a memória do fascismo é a
memória da cultura dos meus pais, de uma cultura patriarcal, em que a
masculinidade é definida como um luxo, o monopólio legítimo da violência que,
afinal, é compartilhado tanto pela cultura espanhola como portuguesa”. Apesar
de tudo, ele se definiu como um “otimista patológico”.
Fonte: Isto É Gente
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