A bacia de Pilatos



Por: Percival Puggina*

Em um dos acontecimentos marcantes desta semana, o ministro Luís Roberto Barroso anunciou, entre lágrimas, que deixaria o posto de ministro do Supremo Tribunal Federal. Sob sua presidência, a Corte despencou no apreço popular. Não apenas acirrou-se o ativismo. A “vertiginosa ascensão política do Supremo” foi proclamada pelo ministro como um feito da Constituinte de 1988 enquanto, em plena atividade política, negava o ativismo e o protagonismo político do Supremo.

Se apenas a justiça padecesse, a situação já seria seriíssima. Tudo piora, porém, quando, ali em frente, a legítima representação política se ressente das ameaças, das desautorizações e das imposições que cruzam a praça como se Têmis lançasse mísseis sobre as duas cúpulas do parlamento nacional. Não é do bom feitio de um tribunal constitucional derrotar tal ou qual corrente política! Menos ainda corresponde à sua missão derrotar sempre a corrente a que dirige frequentes descomposturas. Se um dia existiram no Brasil, arautos do rei perderam o emprego há muito tempo.

Ocorreu-me outro dia a seguinte indagação: qual a semelhança entre um DCE de esquerda e a atual composição do STF? A resposta me veio da antiga parábola do Boneco de Sal. Procure-a por aí, é altamente educativa. Em síntese, o boneco de sal quis conhecer o mar, mas esse conhecimento só aconteceu quando perdeu a própria individualidade desintegrando-se, mar adentro, na natureza daquele que o desafiava a esse conhecimento. É o que fazem os coletivismos com suas exacerbações e comandos. Nos “coletivos” de esquerda, como tantos DCEs, sindicatos, organismos e movimentos sociais, ocorre essa desintegração das individualidades. As perdas pessoais se tornam visíveis ao longo do processo, percebidas pelos pais, pelos antigos amigos e por todos que conheceram cada um, antes dessa destruição. Nos “coletivos”, os membros cometem excessos que não cometeriam antes, assumindo o aspecto comum, açulado, de matilha, contra quem julgam merecer seu incivilizado repúdio.

No STF, o “coletivo” se chama “colegialidade”. A colegialidade sobresta convicções anteriores, contrasta textos antigos produzidos para as bibliotecas acadêmicas, faz de conta que não lembra os apropriados e próprios comentários à Constituição, lidos e relidos por estudantes e – quem sabe? – até por militantes de … DCEs.

Por essas e outras, creio que deveria haver uma bacia de Pilatos na saída de certos plenários e de certas “plenárias”. Por essas e por outras, enfim, recuso qualquer coletivo que se oponha à natureza única e insubstituível, da pessoa humana, criada num ato de bondade divina. Bondade, aliás, desse mesmo Deus que é juiz no tribunal da eternidade e permite a seus filhos viver com Ele, sem Ele ou contra Ele, o imenso dom da liberdade.

(*) Arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras. Escreve, semanalmente, artigos para vários jornais do Rio Grande do Sul, entre eles Zero Hora, além de escrever o seu próprio blog e em outros websites de expressão nacional, a exemplo do Mídia Sem Máscara, Diário do Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma centena de jornais.

Importante: Precisamos, mais do que nunca, da sua ajuda para continuar no ar. Entre nessa luta com a gente: doe via PIX (20470878568) ou PIX (tgmedra@hotmail.com)

 

Não deixe de curtir nossa página www.profesortacianomedrado.com e no  Facebook e também Instagram para acompanhar  mais notícias do TMNews do Vale (Blog do professor TM)

 

Envie informações e sugestões para o TMNews do Vale  pelo   e-mail: tmnewsdovale@gmail.com

 

AVISO: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do TMNews do Vale (Blog do professor TM) Qualquer reclamação ou reparação é de inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não respeitem os critérios serão excluídos sem prévio aviso.

Faça um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem