Brasil: o país onde a titularidade vale mais do que o notório saber

 

Foto produzida pelo TMNews do Vale com auxílio da ferramenta da I. A

(*) Taciano Medrado


Olá, leitor e leitora do TMNews do Vale. Vamos falar hoje sobre um fenômeno todo nosso, com sabor de jabuticaba e requintes de surrealismo acadêmico: o valor sagrado da titularidade no Brasil. Aqui, não importa se você domina um tema como ninguém, se escreveu livros, se lecionou fora do país, se é referência internacional ou se tem uma vida dedicada ao pensamento crítico — se não tem um papel carimbado, uma “titularidade reconhecida”, você é apenas um curioso com delírios de grandeza.

Sim, senhoras e senhores, nesta terra abençoada por Deus (e por diplomas autenticados em cartório), o saber é acessório, a forma vale mais que o conteúdo, e o carimbo tem mais peso que a ideia. Quer dar uma aula? Precisa de um título. Quer ocupar um cargo público? Mostre seu certificado. Quer participar de um debate sério? Apresente seu currículo Lattes, de preferência com mestrado, doutorado, pós-doc e, quem sabe, uma canonização pela CAPES.

A ironia disso tudo é que, em muitos casos, os "notórios sabedores" estão fora do jogo porque não preencheram todos os quadradinhos do bingo acadêmico. São profissionais brilhantes, inovadores, com décadas de experiência — mas que, por algum motivo, não seguiram a via-sacra burocrática da titulação formal. E aí, claro, não servem nem para fazer café na reunião do conselho.

Enquanto isso, vemos doutores em teoria que jamais pisaram no chão da prática dando palpite sobre tudo, desde política pública até física quântica. A autoridade vem da moldura do diploma, não do conteúdo das ideias. E a regra é clara: sem titulação, sem moral. É como se o Brasil tivesse transformado o ensino e o conhecimento em um clube fechado, onde só entra quem decorou o código, pagou as taxas e fez a reverência certa no portão.

A cereja do bolo? Quando algum nome sem os “devidos títulos” se destaca pelo mérito real, é logo deslegitimado com o argumento infalível: “mas ele não tem formação na área…” Como se talento, inteligência e dedicação tivessem prazo de validade ou dependessem de chancela institucional.

No fim das contas, o Brasil continua sendo o país em que formar-se é mais importante do que informar-se, e ser titular é mais relevante do que ser capaz. Seguimos assim, com doutores que não ensinam e especialistas que não compreendem, vivendo num país onde a sabedoria tem menos valor do que um carimbo azul com firma reconhecida.

E você, caro leitor, já teve seu saber desvalorizado por não ostentar a titulação adequada? Bem-vindo ao clube dos "notórios invisíveis".

(*) Professor e Psicopedagogo

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