(*) Bruno Oliveira
Quando
se pensa em “laranja”, a primeira imagem que surge é a da fruta, utilizada em
sucos, bolos e diversas receitas. No entanto, o termo “laranja” também se
refere a pessoas que emprestam suas contas bancárias para o recebimento de
valores ilícitos oriundos de fraudes e golpes.
Mas
será que os “laranjas” estão sendo tratados com o rigor necessário?
Em
um evento recente, essa questão foi amplamente discutida. Durante uma das
palestras, os participantes foram levados a refletir: uma pessoa que possui 10,
20, 50 ou até 80 contas bancárias abertas em diferentes instituições e que
participa ativamente da “indústria” do empréstimo de contas, não deveria ser
responsabilizada tanto quanto, ou até mais, que o hacker que invade sistemas
para praticar fraudes?
A
mesma reflexão pode ser aplicada ao empréstimo de contas em marketplaces para a
venda de produtos inexistentes, ou até à exploração da imagem de uma pessoa
para dar credibilidade a golpes, como no caso de alguns influencers. Estas
práticas, embora muitas vezes subestimadas, contribuem diretamente para
esquemas fraudulentos, prejudicando consumidores e empresas de forma
significativa.
A
resposta para todas essas questões, sem dúvida, é sim. Esses indivíduos estão
diretamente envolvidos em atividades criminosas, ajudando estelionatários a
ocultar valores, a dificultar a rastreabilidade e a confundir a identificação
dos verdadeiros beneficiários. Ao emprestar contas bancárias ou até mesmo sua
imagem para esses fins, eles se tornam peças essenciais em esquemas
fraudulentos.
Nesse
contexto, os profissionais de prevenção a fraudes e de aplicação da lei desempenham
um papel crucial. É fundamental que se promova uma mudança na forma de pensar
sobre a responsabilidade dos “laranjas”, seja no setor financeiro, em
marketplaces ou em qualquer outro ambiente digital onde fraudes ocorram. Não se
pode mais tratar essas pessoas como meros coadjuvantes.
É
essencial que sejam implementadas campanhas rigorosas para que as áreas
jurídicas das empresas tratem os “laranjas” com a seriedade que o caso exige,
promovendo as ações legais cabíveis. Além disso, é imperativo conscientizar o
sistema judiciário e a sociedade sobre a gravidade dessas condutas, enfatizando
que as consequências podem ser severas, tanto para quem cede uma conta bancária
quanto para aqueles que cedem suas imagens para dar legitimidade a golpes.
A
visão de que “fulano é apenas um laranja” precisa ser substituída por “fulano é
responsável por ceder sua conta ou sua imagem para a prática de um crime”. Seja
qual for a natureza da colaboração — seja bancária ou de influência social —, a
participação ativa nessas atividades contribui para a perpetuação de crimes,
prejudicando tanto o sistema financeiro quanto a confiança do público.
A
figura do “laranja” muitas vezes é vista como secundária no contexto dos crimes
financeiros e digitais, mas essa percepção precisa ser urgentemente revisada.
Aqueles que participam ativamente do esquema, emprestando suas contas ou suas
imagens para facilitar golpes e fraudes, estão contribuindo diretamente para a
continuação de atividades ilícitas, prejudicando não só o sistema financeiro,
mas também o comércio eletrônico, os consumidores e a sociedade como um todo.
A
responsabilização desses indivíduos deve ser tratada com a mesma seriedade que
a dos autores principais dos crimes. A mudança de mentalidade é urgente, tanto
dentro das empresas quanto no sistema judiciário. É necessária uma ação
coordenada entre todos os envolvidos para garantir que os “laranjas” sejam
devidamente responsabilizados e que haja uma conscientização generalizada sobre
as graves consequências dessas práticas.
Somente
com uma abordagem mais rigorosa e uma conscientização ampla será possível
combater de forma eficaz essa indústria criminosa, protegendo o sistema
financeiro, o comércio eletrônico e a sociedade dos danos causados por tais
ações.
(*) Bruno César Teixeira de Oliveira, com uma carreira sólida na gestão de riscos, compliance e prevenção a fraudes em instituições financeiras e colunista no site O Boletim.
Não
deixe de curtir nossa página Facebook e também Instagram para
mais notícias do Blog do professor TM
AVISO: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Blog do professor Taciano Medrado. Qualquer reclamação ou reparação é de inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não respeitem os critérios serão excluídos sem prévio aviso.
Postar um comentário