O
dólar apresenta forte alta nesta sexta-feira (11), em meio a temores de
investidores sobre as contas públicas do país.
Às
15h23, a moeda avançava 0,86%, cotada a R$ 5,632. Na máxima da sessão, chegou a
bater R$ 5,653. Já a Bolsa tinha queda 0,34%, aos 129.898 pontos.
A
tônica do dia tem sido a retomada da desconfiança do mercado quanto à cena
fiscal brasileira. Em declarações nesta manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) voltou a defender a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até
R$ 5 mil.
A
proposta, para ele, "não é um compromisso de campanha, mas um compromisso
de justiça", afirmou em entrevista à Rádio O Povo/CBN, do Ceará.
"O
que nós queremos é isentar aquelas pessoas até R$ 5 mil e, no futuro, isentar
mais, porque, na minha cabeça, salário não é renda. Renda é o cara que vive de
especulação. Esse, sim, deveria pagar imposto de renda", disse o presidente.
Ele
também criticou a isenção do IR para dividendos: "Você não pode fazer com
que as pessoas que ganham R$ 5 mil paguem IR enquanto os caras que têm ação da
Petrobras recebem R$ 45 bilhões de dividendos sem pagar."
A
Folha de S.Paulo noticiou que o Ministério da Fazenda estuda a criação de um
imposto mínimo para pessoas físicas para garantir uma tributação efetiva da
renda dos milionários no Brasil, para bancar o aumento para R$ 5.000 da faixa
de isenção do IRPF. O valor atual de isenção é de dois salários mínimos (R$
2.824).
Na
proposta em estudo na Fazenda, o imposto mínimo sobre as pessoas físicas
milionárias teria uma alíquota a ser definida entre 12% ou 15% da renda.
As
falas de Lula criaram ruídos entre os investidores, em um momento em que o mercado
já se mostrava sensível ao risco fiscal. Na quarta-feira, as taxas de juros
futuros dispararam por dúvidas em relação à estabilidade das contas públicas.
"O
governo começou a falar que vai isentar e que vai arrecadar, mas não se sabe
como isso será feito. Em momento algum se fala em contenção de gastos ou
controle da ponta das despesas, então isso cria um ruído sobre o Brasil, que
está perdendo mais uma oportunidade de acompanhar as máximas das Bolsas
americanas e o bom humor global", avalia Ramon Coser, especialista da
Valor Investimentos.
Em
resposta, além da disparada do câmbio, as curvas de juros futuros subiam mais
de 1% nesta sessão.
A
taxa do contrato para janeiro de 2026 subia para 12,645%, de 12,595% do ajuste
anterior. A de janeiro de 2027 avançava para 12,795%, de 12,705%. A de janeiro
de 2029 marcava 12,745%, ante 12,675%.
A
leitura é que os juros terão de subir para dar conta das pressões
inflacionárias, causadas, em parte, pela expansão de gastos públicos. O mercado
ainda duvida da capacidade estrutural do governo de bancar as contas do país, à
medida que o déficit tem sido coberto com receitas não recorrentes.
O
alerta também apareceu na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política
Monetária) do BC (Banco Central), quando a taxa básica de juros do país, a
Selic, teve alta de 0,25 ponto percentual, a 10,75% ao ano.
Os
dirigentes da autarquia, em especial o presidente Roberto Campos Neto, têm
reiterado que é preciso de um choque fiscal positivo para que o país consiga
voltar a conviver com taxas mais baixas de juros.
O
movimento de aperto na Selic tem sido o oposto do adotado pelo Fed (Federal
Reserve, o banco central dos Estados Unidos).
A
autoridade americana iniciou o aguardado ciclo de cortes no encontro de
setembro, tendo como justificativa a gradual convergência da inflação à meta de
2% e a desaceleração dos níveis de emprego. A redução a primeira em quatro
anos foi de 0,50 ponto percentual, levando a taxa à banda de 4,75% e 5%.
Os
números de inflação e de emprego têm sido monitorados de perto pelos
investidores, que buscam pistas sobre as próximas decisões de juros.
Os
dados divulgados nesta e na última semana consolidaram apostas de que o ritmo
dos próximos cortes será mais moderado. "Os números de emprego e inflação
mais fortes reforçam o cenário de 0,25 ponto percentual de corte na decisão de
novembro", afirma Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas.
Na
ferramenta CME FedWatch, a probabilidade de um corte de 0,25 ponto reunia 85,9%
dos operadores, enquanto a de manutenção da taxa no atual patamar tinha os
14,1% restantes.
Quanto
menores os juros nos Estados Unidos, pior para o dólar, que se torna menos
atraente conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro
norte-americano, os treasuries, caem. A perspectiva de cortes mais graduais,
porém, tem favorecido a moeda em relação às outras divisas, sobretudo o real,
que acumula perdas de mais de 3,27% só nesta semana.
Também
na cena internacional, os investidores aguardavam o detalhamento do pacote de
estímulos da China.
Na
terça-feira, a divulgação de parte dos planos das autoridades chinesas para
reaquecer a economia decepcionou o mercado, e, no dia seguinte, o Ministério
das Finanças afirmou que irá realizar uma entrevista coletiva no sábado para
detalhar as medidas fiscais de estímulo, impondo cautela aos operadores.
A
junção de pressões domésticas e externas pressionava os ativos brasileiros. Com
boa parte das empresas no negativo, as perdas do Ibovespa só não eram maiores
por causa do apoio da Vale, em alta de 1,32% por causa da valorização do
minério de ferro no exterior.
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