Um
levantamento feito pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de
Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), com imagens de
satélite, mostra que os maiores rios do país estão secando. O estudo foi
publicado no periódico internacional Water.
O
problema já afeta 55% do território nacional, e a seca é a mais extensa já
registrada. No total, são 4,6 milhões de km² atingidos pelo problema.
Segundo
o estudo, a redução na vazão de rios, lagos e reservatórios acontece nas
regiões Centro-Oeste, Sudeste e também na Amazônia. Ao menos 12 grandes rios já
estão sendo afetados pela seca.
Como
foi feito o estudo?
Segundo
a pesquisa, o aumento das temperaturas teve impacto devastador. As ondas de
calor foram decisivas para a redução da vazão do Rio São Francisco durante as
“secas-relâmpago”.
Estudos
anteriores já mostraram que, com a redução das chuvas e aumento das
temperaturas, os rios poderiam secar. A nova pesquisa do Laboratório Lapis foi
além, e constatou que o aumento de temperatura foi maior do que a redução das
chuvas, e essas ondas de calor extremo foram cruciais para reduzir a vazão dos
rios, principalmente no início das secas.
Os
dados anuais da vazão dos rios foram analisados, assim como a precipitação e
temperatura na região da bacia. “A conclusão foi que a diminuição da vazão dos
rios foi atribuída a um declínio na precipitação e ao aumento simultâneo das
temperaturas do ar, durante as últimas três décadas.”
De
acordo com Humberto Barbosa, meteorologista fundador do Laboratório Lapis e
responsável pelo estudo, o principal motivo para o encolhimento do Rio São
Francisco foram as altas temperaturas, que aumentam o uso diário da água pelas
plantas, além da evaporação dos corpos d’água e dos solos.
“As
ondas de calor extremo foram cruciais para reduzir o volume do Rio. À medida
que fica mais quente, a atmosfera retira mais água das fontes da superfície e a
principal consequência é que menos água flui para o Rio São Francisco. Essas
descobertas da pesquisa podem ser aplicadas a todos os rios brasileiros”,
ressalta Humberto.
Quais
são os rios afetados?
Na
lista, a maior redução de volume de águas estão nos rios:
Manso
- MG
Paranaíba
- MG
Jequitinhonha
- MG
Tocantins
- entre os estados de Tocantins e Maranhão
Paraná
- no trecho entre São Paulo e Mato Grosso do Sul.
O
São Francisco já teve a vazão reduzida em 60% nos últimos 30 anos. Ele nasce em
Minas Gerais e termina ao desembocar no mar, em Sergipe.
O
levantamento mostra que, na Amazônia, as maiores reduções acontecem nos rios
que cortam o estado do Amazonas:
Mamiá
- cercado por 30 mil hectares de floresta nativa preservada, incluindo fauna em
risco de extinção.
Coari
Tefé
- forma o lago Tefé antes de desembocar no Rio Solimões
Badajós - afluente da margem esquerda do Solimões
Atividades
dependem dos rios
Os
principais rios do Brasil registram níveis muito baixos em decorrência da seca,
como no caso da Amazônia. Segundo o professor Humberto Barbosa, isso prejudica
as pessoas que dependem do rio para várias atividades, incluindo o
abastecimento humano e de animais, agricultura, pesca, transporte e geração de
energia.
Pelo
menos nove usinas hidrelétricas brasileiras podem ser afetadas pela redução no
volume de águas. O Rio Jequitinhonha abriga a segunda maior barragem do Brasil,
a UHE Irapé. No Rio Paranaíba está a UHE São Simão. No Rio Paraná está
instalada a UHE Porto Primavera, por exemplo. No Tocantins, está instalada a
UHE Estreito, no trecho entre Maranhão e Tocantins.
No
Rio São Francisco a situação é ainda mais grave. Além de abastecer centenas de
municípios, ele gera energia por meio de cinco usinas hidrelétricas -
Sobradinho, Apolônio Sales, Paulo Afonso, Luiz Gonzaga e Xingó.
Problema
internacional
A
questão também pode afetar países vizinhos, tornando-se um problema
internacional. A baixa vazão dos rios afeta a Baía Grande, que faz parte da
bacia Amazônica, e é dividida entre Brasil e Bolívia. No país, o local é
chamado de Laguna Marfil. O lago tem superfície de 100 km², sendo 52%
pertencentes à Bolívia e 48% ao Brasil. No país vizinho, a área faz parte de
uma unidade de conservação de manejo integrado. No Brasil, o acesso é
controlado por fazendeiros.
De
acordo com a previsão do tempo, o bloqueio atmosférico pode ser quebrado nos
próximos dias na Amazônia, devido ao avanço da Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT), fenômeno que leva chuvas à região.
Fonte: Portal Terra
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