Conhecida
como “la Doctora” por suas brilhantes credenciais acadêmicas, Claudia Sheinbaum é uma física com doutorado em
engenharia energética, ex-prefeita de uma das cidades mais populosas do mundo e
fez parte do painel de cientistas climáticos das Nações Unidas que recebeu o
Prêmio Nobel da Paz.
E no domingo (2), ela se tornou a primeira mulher, e a primeira pessoa de herança judaica, a ser eleita presidente do México.
Sheinbaum
venceu com cerca de 60% dos votos na maior eleição da
história do México, marcando uma conquista histórica em um país
majoritariamente católico, conhecido por sua cultura profundamente patriarcal.
Aos
61 anos, ela está prestes a substituir o presidente em fim de mandato, Andrés Manuel López Obrador, seu aliado de longa data,
cujos programas de bem-estar social tiraram muitos mexicanos da pobreza,
tornando seu partido de esquerda, o Morena, favorito nas pesquisas.
“Nossa
obrigação é e sempre será cuidar de cada mexicano sem distinção,” disse
Sheinbaum em um discurso na manhã de segunda-feira (3). “Embora muitos
mexicanos não concordem totalmente com nosso projeto, teremos que caminhar em
paz e harmonia para continuar construindo um México justo e mais próspero”.
Depois
que seus avós maternos emigraram da Europa para escapar do Holocausto,
Sheinbaum nasceu na Cidade do México em 1962 – uma cidade que ela serviria em
vários cargos ao longo de décadas.
Enquanto
estudava para sua graduação na Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM),
ela se envolveu na política estudantil, protestando contra a privatização da
educação pública. Após se formar, ela estudou engenharia energética na
Universidade da Califórnia, Berkeley, onde se tornou fluente em inglês e obteve
um mestrado, antes de retornar à UNAM para estudos de doutorado.
Sheinbaum
entrou na política em 2000, quando foi nomeada secretária de meio ambiente da
Cidade do México por Obrador, então chefe do governo da cidade.
Após
deixar o cargo em 2006, Sheinbaum se dedicou ao estudo da energia, juntando-se
ao Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e tornando-se parte da
equipe que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2007.
Em
2015, ela se tornou a primeira mulher eleita chefe do distrito de Tlalpan, na
Cidade do México, servindo até 2017. No ano seguinte, ela foi eleita chefe do
governo de toda a cidade – novamente, a primeira mulher a fazer isso – deixando
o cargo em junho de 2023 para iniciar sua candidatura à presidência.
Sheinbaum
tem dois filhos e um neto. Seu parceiro, Jesús María Tarriba, que conheceu na
universidade enquanto ambos estudavam física, é especialista em risco
financeiro no Banco do México.
Quais
desafios estão à frente?
Se
a constituição permitisse, o México provavelmente teria reeleito Obrador, um
daqueles raros políticos que – como FDR (Franklin D. Roosevelt) e JFK (John F.
Kennedy) – é conhecido simplesmente por suas iniciais, AMLO (Andrés Manuel
López Obrador ).
Após
surfar na onda de popularidade de AMLO, alguns questionaram se Sheinbaum
conseguirá se distanciar suficientemente de seu aliado de longa data.
Um
dos biógrafos de Sheinbaum, o jornalista Jorge Zepeda, argumentou que, uma vez
no cargo, Sheinbaum provavelmente revelará sua própria plataforma gradualmente:
primeiro ela agirá como “a discípula fiel do líder”, antes de oferecer
“vislumbres” de seu próprio programa, cuidando para não provocar instabilidade
na base do movimento.
Mas
Zepeda também notou claras diferenças entre os dois líderes. Em um artigo para
o diário espanhol El País, Zepeda lembrou de ter perguntado a Sheinbaum o que a
diferencia de outros políticos. “Sou alguém que toma decisões com base nos
dados” disse ela.
Por
outro lado, Zepeda afirmou que Obrador poderia sacrificar dados pela lealdade
partidária. “Se (um dado) atrapalha, outro dado é escolhido”, ele disse,
enquanto Sheinbaum se deixa guiar pela ciência.
Obrador
deixará o cargo com amplo apoio e um impressionante histórico de alívio da
pobreza, mas seu mandato foi marcado por sua política de “abraços, não balas”
de não confrontar os cartéis, permitindo que a violência aumentasse.
A violência teve um grande impacto nesta eleição, a mais
sangrenta da história do México. Dezenas de candidatos políticos e
postulantes foram mortos por organizações criminosas tentando influenciar os
novos ocupantes do poder.
A
taxa de homicídios do México está entre as mais altas do mundo, e mais de 100
mil pessoas continuam desaparecidas no país. Também continua sendo um lugar
perigoso para ser mulher, com taxas altíssimas de feminicídio para a região –
com dados mostrando que cerca de 10 mulheres são assassinadas por dia.
Sheinbaum
terá que agir rapidamente nas questões de crime organizado e segurança do
México, disse Will Freeman, pesquisador para estudos da América Latina no
Conselho de Relações Exteriores.
“É
surpreendente que o partido governante possa vencer a reeleição por uma grande
margem, como parece… dada a violência generalizada, a questão é que a oposição
não parecia ter reunido um conjunto de propostas muito mais credíveis sobre o
que fariam”, disse Freeman.
Sheinbaum
conta com uma equipe de seu tempo como prefeita da Cidade do México que tem um
histórico comprovado na melhoria da segurança, mas ainda resta saber se ela
conseguirá replicar isso em nível nacional, disse Freeman.
Tanto
o México quanto os EUA estão
realizando eleições em 2024, algo que acontece apenas uma vez a cada
12 anos – e ocorre em um momento de transição no relacionamento entre os dois
países. Sheinbaum assumirá o cargo apenas um mês antes dos americanos irem às
urnas em novembro, onde a imigração é um dos principais temas na pauta de Joe
Biden e Donald Trump.
O
México é um aliado-chave dos EUA em uma série de questões, desde o comércio até
o combate ao tráfico de drogas e a gestão da imigração.
Ex-oficiais
e atuais dos EUA frequentemente descrevem o relacionamento entre o presidente
Joe Biden e o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador como amigável e
profissional – e antecipam um relacionamento produtivo com a próxima presidente
do México. Mas a eleição no México também ocorre em um momento crítico para a
administração Biden.
Nos
últimos meses, os EUA têm dependido fortemente do México para intensificar a
aplicação da imigração e ajudar a conter o fluxo imigratório para a fronteira
sul dos EUA. A eleição no México levantou incertezas na mente de alguns
funcionários de Biden sobre o que, se é que algo, mudará com um parceiro-chave
quando se trata de cooperação fronteiriça.
Uma
das considerações ao lançar uma nova ação executiva de fronteira foi fazê-lo
após a eleição no México. A administração provavelmente precisará de apoio e
assistência do México para executar a ordem.
Os
oficiais esperam que uma nova administração no México provavelmente continue
cooperando com os EUA na questão da imigração, dado os anos de parceria, mas
não está claro como os imigrantes – e especialmente os contrabandistas – podem
planejar seus próximos movimentos em um momento de transição governamental.
*Com
informações de Priscilla Alvarez, Rey Rodríguez, Laura Paddison, Jack Guy,
Fidel Gutiérrez, Krupskaia Alís, Aditi Sangal, Karen Esquivel e Carmen Sánchez,
da CNN.
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