A
chuva que retornou à região metropolitana de Porto Alegre na quinta-feira (23)
fez os moradores reviverem o caos da grande enchente do lago Guaíba, que
atingiu o nível de 5,33 metros no último dia 2, superando o recorde histórico
de 4,76 metros de 1941. Desde então, as águas estavam baixando lenta, mas
constantemente.
Nesta
quinta, porém, um temporal de mais de 120 mm voltou a alagar bairros da capital
gaúcha. Desde então foram registrados volumes significativos de chuva em grande
parte do estado, com acumulados entre 40 mm e 60 mm no centro, nos vales e na
Costa Doce, e de mais de 80 mm na região metropolitana, segundo a Defesa Civil
estadual.
A
volta dos alagamentos a pontos da região central colocou a capital em alerta.
Isso fez com que o nível do Guaíba desse uma guinada, voltando a ficar acima
dos 4 metros nesta sexta-feira (24). Às 19h, o lago atingiu a marca de 4,32
metros.
O
alagamento prejudicou o trânsito nas avenidas Getúlio Vargas, Praia de Belas e
Borges de Medeiros. Na rua Doutora Rita Lobato, a redução no nível da água
permitiu a chegada de máquinas para recolhimento de móveis descartados e entulho.
Todos os prédios da rua foram inundados com a enchente, devido à falha na
estação de bombeamento do bairro.
A
continuidade da chuva e o vento forte seguem prejudicando o trânsito na cidade.
O entupimento da rede de esgoto também afetou o escoamento, fato que gerou
muitas críticas dos moradores à gestão do prefeito Sebastião Melo (MDB).
Um
trecho da avenida Ipiranga, na zona leste da capital gaúcha, foi interditado
por risco de afundamento após um buraco aparecer no asfalto. Técnicos da EPTC
(Empresa Pública de Transporte e Circulação) bloquearam parcialmente o trânsito
e investigavam a origem da cratera.
Na
zona sul, a rua Estevão Cruz, no bairro Cristal, foi interditada à tarde por
causa da água que tomou conta da pista.
Em
Canoas, cidade da região metropolitana, moradores protestaram nesta sexta em
frente à prefeitura pedindo ações para o escoamento das águas. O grupo também
chegou a bloquear um trecho da rodovia BR-116 pela manhã.
Em
nota, a Prefeitura de Canoas afirmou que "reconhece a legitimidade de
todas as formas de manifestações pacíficas e segue trabalhando sem parar para
solucionar e mitigar os transtornos causados pela enchente".
Enquanto
a insatisfação dos atingidos pela catástrofe climática no Rio Grande do Sul
aumenta, as chuvas fortes dos últimos dias exigiram novas ações para resgatar
moradores que haviam voltado para casa.
No
bairro Mathias Velho, o bombeiro civil Matheus Blech, do Paraná, contou que os
resgates aumentaram com o retorno dos moradores às suas casas na quarta-feira
(22), que depois foram surpreendidos pelas chuvas. "Algumas pessoas estão
ilhadas, outras se recusando a sair", disse. O frio também prejudicava os
trabalhos na tarde desta sexta.
O
último balanço da Defesa Civil indica 163 mortes em decorrência das chuvas que
tiveram início no dia 29 de abril. O número pode aumentar nos próximos dias, já
que ainda há 63 desaparecidos. São 806 feridos.
No
total, 469 municípios foram afetados, sendo que 63.918 pessoas continuam
desabrigadas e 581.638 foram desalojadas. Conforme o governo gaúcho, 83.593
pessoas foram resgatadas.
Para
este fim de semana, a previsão do tempo indica possibilidade de temporal com
queda de granizo em Porto Alegre. A Defesa Civil municipal emitiu um alerta,
válido até as 9h deste sábado (25), que inclui a possibilidade de rajadas de
vento de 60 e 80 km/h, descargas elétricas e quedas de árvores.
Outro
alerta preventivo, para risco alto de deslizamentos, erosões e rolamento de
blocos em áreas suscetíveis, é válido até segunda-feira (27). No documento foi
pedido ainda que os moradores das áreas citadas procurem outro local seguro
para ficar.
"Observa-se
novas elevações na região hidrográfica do Guaíba, podendo atingir cotas acima
da inundação nos deltas das bacias do Caí e Jacuí, assim prolongando as cheias
do Guaíba e a lenta propagação para a laguna dos Patos. Os rios Taquari, Sinos
e Gravataí apresentam novas elevações, com níveis em cotas de alerta nas
regiões mais baixas", destacou a Defesa Civil.
Em
Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari, moradores de vários pontos do bairro Morro
Toca dos Corvos receberam alerta para deixar imediatamente suas casas no início
da madrugada de sexta, devido ao risco de deslizamentos de terra na região.
O
aviso foi emitido pela Defesa Civil estadual, com base em vistoria e relatório
do Gamma (Grupo de Avaliação de Movimento de Massa do Rio Grande do Sul),
formado por representantes da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e
Infraestrutura, da Defesa Civil, do Ministério Público, da Universidade do Vale
do Taquari e do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
O
órgão afirmou também que o nível de água na lagoa dos Patos continua variando
em patamares elevados, com tendência de elevação também em função dos ventos.
De
acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a chuva prevista para
a manhã deve dar espaço a tempo firme à tarde. O avanço de um anticiclone
migratório, contudo, deve provocar queda ainda mais acentuada da temperatura,
com possibilidade de formação de geada nas regiões sul, campanha e fronteira
oeste do Rio Grande do Sul, ainda de acordo com a Defesa Civil estadual.
O
padrão deve se repetir no domingo (26), com probabilidade de chuva mais
moderada sobre as regiões da serra, metropolitana e litoral norte, devido à
chegada de umidade oceânica do anticiclone.
Esse
sistema deve enfraquecer na terça (28), com a chuva concentrada na serra. A
temperatura deve cair em quase todo o RS, mas a previsão é de que volte a subir
na quarta (29), com tempo estável em todo o estado.
Com informações da Folha de São Paulo
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