A hanseníase sempre foi uma doença rodeada de estigmas. E esse é um dos aspectos que dificulta o acesso ao diagnóstico e, consequentemente, ao tratamento. De janeiro a novembro de 2023, houve um aumento de 5% no número de casos, em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com o Ministério da Saúde.
Foram
19.219 casos de hanseníase. Destes dados preliminares, quase 20% (3.927) estão
no estado do Mato Grosso — que registrou aumento de 76% quando comparado com
2022. Acredita-se que esse aumento expressivo seja explicado pela diminuição da
subnotificação.
A
hanseníase é uma doença infecciosa, causada pela bactéria Mycobacterium leprae
e é considerada uma das mais antigas doenças do mundo — antes conhecida como
lepra. Ela atinge a pele, mucosas e o sistema nervoso periférico.
O
Janeiro Roxo, mês de conscientização e combate à hanseníase, alerta para o
diagnóstico da doença, que não é simples, como explica o infectologista
Fernando Chagas.
“Ela
tem como característica se alojar nos nervos, especialmente nos nervos
periféricos, aqueles que saem da coluna para as pernas e braços. É um
microrganismo que se divide muito lentamente, por isso é de difícil diagnóstico
inicial. Ela não se desenvolve tão rapidamente e não se desenvolve em todo
mundo, depende da imunidade de cada pessoa”, explica.
Os
primeiros sinais são as manchas hipocrômicas — de cor diferente da cor da sua
pele —, geralmente com perda da sensibilidade no local, além das dores nos
nervos e fraqueza nas mãos. Qualquer um desses sintomas deve ser um sinal de
alerta para buscar atendimento médico imediato. Embora tenha cura, a falta de
tratamento da doença pode causar lesões irreversíveis.
Pessoas
com o sistema imunológico fragilizado e idosos têm mais chances de se infectar
pela bactéria. A prevenção é manter as medidas de higiene e em caso de contato
com algum paciente procurar atendimento para realizar o exame físico geral,
dermatológico e neurológico.
Tratamento
e preconceito
O
tratamento é à base de antibióticos e pode levar até dois anos. O paciente deve
tomar a primeira dose mensal supervisionada pelo profissional de saúde, sendo
as demais, auto administradas. Esse tratamento é disponibilizado pelo Sistema
Único de Saúde (SUS).
Associado
a isso, a fisioterapeuta dermatofuncional Adriana Hernandez ajuda com a
retomada dos movimentos.
“Atuamos
principalmente na perda dessa força muscular e na diminuição da sensibilidade,
que em muitos casos não é possível recuperar totalmente, então nós entramos
justamente trabalhando na diminuição dessas perdas”, explica.
Por
causa dos efeitos da hanseníase, ainda hoje existe um grande preconceito com os
pacientes, como relata o infectologista.
“É
um estigma muito pesado muito associado à história da doença por ser muito
antiga. E outra coisa, quando o microrganismo começa a destruir os nervos,
começa a prejudicar o movimento do membro, começa a destruir o tecido e pode
causar deformidades, e isso também contribui para o preconceito”, comenta
Chagas.
Nova
lei
Entre
as décadas de 1920 e 1970, a política do país era capturar os infectados pela
hanseníase e interná-los à força em hospitais-colônias, deixando-os isolados e
sem contato com os familiares. Por isso, em novembro do ano passado foi
sancionada a Lei nº 14.736/2023 que concede pensão vitalícia aos filhos dos
pacientes, por terem sido separados dos pais durante essa internação. O valor é
de um salário mínimo.
Fonte: Brasil 61
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