Foto reprodução- AFP
O
preço do petróleo do tipo Brent subiu 6,7% na semana em que a Opep (Organização
dos Países Exportadores de Petróleo) anunciou corte de produção de 1,1 milhão de barris por
dia. Na 5ª feira (6.abr.2023), a commodity fechou em US$ 84,95 por
barril.
O
corte se soma à redução de 2 milhões de barris por dia acordada pelos
países do cartel em outubro de 2022. Além disso, a Rússia decidiu estender o
corte de 500 mil barris por dia, que se encerraria em julho, até o final de
2023. Na prática, significa 3,6 milhões de barris por dia a menos no mercado.
Liderada
pela Arábia Saudita, a Opep busca aumentar o preço do petróleo, em alinhamento
aos interesses da Rússia. O corte pegou o mercado de surpresa no domingo, uma
vez que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden,
havia visitado os sauditas em 2022 para convencê-los a aumentar a produção.
Para
o diretor técnico do Ineep (Instituto
de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) Mahatma dos
Santos, o corte mais surpreendeu o mercado do que deve ter um efeito estrutural
sobre a produção global de petróleo, já que representa cerca de 1% do petróleo
extraído no mundo.
Contudo,
“nesse momento, a Opep está forte para fazer esses movimentos”, declarou.
Segundo o pesquisador, isso mostra que o cartel nunca deixou de ser importante
na definição das tendências de preço.
Mahatma
afirma que 3 fatores ajudam a mensurar a influência da Opep sobre os preços no
mercado mundial:
intensidade
da produção mundial;
posicionamento
dos países da Opep em relação a tensões geopolíticas;
situação
dos estoques de petróleo.
Para
o analista chefe de Petróleo e Gás Natural do UBS BB, Luiz Carvalho,
a Opep mostrou que está determinada a aumentar o preço do petróleo e não deve
hesitar em anunciar novas reduções, caso outros países decidam aumentar sua
produção para fazer frente ao corte na oferta global.
“Do
ponto de vista geopolítico, a Opep não quer um preço perto de US$ 70 [por
barril]. Ela precisa de um preço mais alto. Se precisar cortar mais, vai
cortar mais”, afirmou Carvalho.
Os
países do cartel representavam 38% da produção global em 2021, segundo dados da
própria Opep. Na década de 1970, esse percentual chegou a 52,7%. De acordo com
informações de 2021, o cartel detinha ainda 80% das reservas provadas de
petróleo do mundo, cuja produção é viável economicamente.
Pressão
sobre política de preços da Petrobras
Em
um cenário de preços mais altos do barril de petróleo, a Petrobras tende a
ser pressionada para implementar reajustes no preço dos combustíveis, embora o
câmbio esteja favorável, com o dólar cotado a R$ 5,06.
O
preço do barril afeta o valor dos combustíveis no mercado nacional porque a
estatal adota desde 2016 uma política de precificação conhecida como PPI (Preço
de Paridade de Importação), que considera o valor do Brent, do câmbio e custos
de frete dos combustíveis.
O
corte da Opep já motivou declarações públicas do governo sobre mudanças no PPI.
Na 4ª feira (6.abr), o ministro de Minas e Energia, Alexandre
Silveira, disse em entrevista à GloboNews que a
Petrobras analisaria a mudança depois da eleição do novo Conselho de
Administração, em 27 de abril.
Logo
depois, a Petrobras publicou comunicado para negar que tenha recebido
proposta do governo para mudar o PPI. Silveira então disse a jornalistas no Palácio do Planalto que a
estatal não havia contrariado sua declaração e que esperava que a nova
diretoria da estatal iniciasse os estudos para a mudança.
Na
5ª feira (6.abr), em evento com jornalistas, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) desautorizou os 2, Silveira e Petrobras. Disse que irá
estabelecer critérios para mudar o PPI, que serão discutidos pelo governo
depois de seu retorno da China. Lula volta ao Brasil em 16 de abril.
O
fim do PPI precisa passar pelo Conselho de Administração da Petrobras, cuja
nova composição será eleita em 27 de abril. Até lá, a estatal segue indexando o
valor dos combustíveis em suas refinarias ao preço internacional.
Para
Mahatma, do Ineep, não se pode esperar uma resposta imediata da Petrobras. “Mas
se houver uma pressão inflacionária vindo do mercado internacional por meio do
preço do petróleo, é possível sim que haja uma pressão sobre os preços dos
derivados e do petróleo no mercado brasileiro. [Isso] se permanecer a
atual política de paridade de importação”, declarou.
Nesta
5ª feira (6.abr), o CBIE (Centro
Brasileiro de Infraestrutura) calculou defasagem de 13,26% para a gasolina no
mercado interno, o que representa cerca de R$ 0,49 por litro. Já para a Abicom (Associação
Brasileira dos Importadores de Combustíveis) a diferença do preço de importação
e o praticado pela Petrobras é de 7%, ou R$ 0,25 por litro.
Fonte: Post publicado originalmente pelo Poder 360
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