Associações de jornalismo divergem sobre remuneração da mídia

Fotomontagem TM

Por Vitória Queiroz/ Poder 360


Câmara dos Deputados pode votar na próxima 4ª feira (26.abr.2023) o requerimento de urgência do PL 2630 de 2020 em meio a um cenário de divergência de opiniões dos setores envolvidos. O projeto determina a remuneração de veículos jornalísticos por parte das big techs.


Associações e federações de jornalismo divergem sobre o conteúdo do projeto, também conhecido como PL das fake news. Embora a maioria seja favorável à aprovação do texto, há entidades que defendem a criação de um fundo de financiamento a partir da taxação dessas empresas de tecnologia.


As plataformas digitais são contra o PL. Elas defendem que a proposta seja mais debatida. O Google sugeriu a criação de uma comissão especial para ampliar o debate dos artigos com outros segmentos da sociedade.


O projeto pode entrar na ordem do dia e, consequentemente, ser votado, caso a urgência seja aprovada. Para isso, 257 congressistas precisam ser favoráveis. Em 2022, a urgência foi rejeitada por 8 votos.


O texto é de autoria do senador Alessandro Vieira (PSDB-SE). A proposta foi aprovada em 2020 no Senado Federal e seguiu para a Câmara dos Deputados, onde sofreu alterações. Se aprovado na 4ª feira (26.abr), ele retornará à Casa Alta para nova análise dos senadores.


“Por sua relevância, o pagamento de direitos autorais pelas chamadas big techs a produtores culturais demanda uma discussão à parte, de modo que possa vir a ser devidamente debatido e, oportunamente, acolhido pelo Congresso brasileiro”, diz o texto.


No documento, as entidades citam que a remuneração do jornalismo pode ser um elemento decisivo para a formação de um “ecossistema jornalístico amplo, diverso e saudável, capaz de se opor à difusão da desinformação e dos discursos de ódio”.


“O PL nº 2630 de 2020 é uma oportunidade de levar essa discussão adiante, sedimentando o princípio de que as plataformas devem pagar aos produtores de conteúdo jornalístico”, afirmam as entidades.


O documento é assinado por 11 entidades:


Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão;


Aner (Associação Nacional de Editores de Revistas);


ANJ (Associação Nacional de Jornais);


Ajor (Associação de Jornalismo Digital);


ABMD (Associação Brasileira de Mídia Digital);


AIP (Associação da Imprensa de Pernambuco);


APJ (Associação Paulista de Jornais);


ARI (Associação Riograndense de Imprensa);


CNCOM (Confederação Nacional da Comunicação Social);


Fenajore (Federação Nacional das Empresas de Jornais e Revistas);


Fenaert (Federação Nacional das Empresas de Rádio e Televisão).


Posição da Fenaj


Associação Nacional de Jornais é a favor da remuneração dos veículos de imprensa proposta pelo PL das fake news. Segundo o presidente-executivo da ANJ, Marcelo Rech, a forma mais eficaz de remunerar os jornais é por meio da negociação.


“Espero que a lei seja aprovada e que o princípio essencial, que é o combate à desinformação, seja bem sucedido”, disse Marcelo ao Poder360.


Ele criticou a criação de um fundo, como proposto pela Fenaj. De acordo com Rech, o fundo seria uma medida “perigosa”, sobretudo, durante gestões autoritárias, uma vez que o governo –junto com os representantes dos jornais e jornalistas– teria poder de definir quem será beneficiado com os recursos.


“Neste momento, aprovar a lei é o 1º importante passo. Não é a solução imediata. O governo fica com a obrigação de fazer a regulamentação, ouvindo todos os segmentos, inclusive, as plataformas, para que seja uma regulamentação bem feita e que atenda os objetivos propostos na lei das fake news”, afirmou.


BIG TECHS PEDEM DEBATES


As plataformas defendem mais debates sobre o tema. Uma das propostas apresentadas pelas big techs é a instalação de uma comissão especial para a realização das discussões.


Segundo o Google, a comissão daria mais visibilidade ao texto e oportunidade para que outros setores da sociedade contribuíssem. 


Entidades do setor de tecnologia também solicitaram a abertura de comissão especial, em carta aberta. O documento foi assinado por Alai (Associação Latino-Americana de Internet), Camara-e.net (Câmara Brasileira da Economia Digital) e Assespro (Federação das Associações das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação).


Em manifesto divulgado na 5ª feira (20.abr.2023), o Google afirmou que o PL 2.630 de 2020 apresenta riscos para o ecossistema de anúncios digitais e para que as plataformas possam aplicar suas políticas, como está previsto no Marco Civil.


Além disso, o Google afirma que uma legislação “apressada” pode piorar o funcionamento da internet, cercear direitos fundamentais, favorecer determinados grupos ou setores da economia e criar mecanismos que coloquem em risco discursos legítimos e a liberdade de expressão.


O Google disse em nota que acredita ser importante que eventuais propostas sejam amplamente discutidas com vários setores da sociedade e elaboradas para assegurar a proteção de direitos como liberdade de expressão, privacidade e igualdade de oportunidades para todos.


Em nota, a Meta defendeu uma regulação que seja clara, objetiva e que traga segurança jurídica para a atuação das plataformas. “Entendemos que novas regras precisam ser debatidas de forma plural, com participação ampla e ativa da sociedade civil e demais atores”, completou.


O Poder360 procurou a assessoria de imprensa do Tik Tok, mas não recebeu respostas até a publicação deste texto. O espaço segue aberto para futuras manifestações.


O Twitter não possui equipe de assessoria de comunicação no Brasil. 


A Meta e o TikTok comentaram o tema no fim de março durante seminário realizado pela Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) no fim de março. Leia os destaques:


META

A chefe de políticas públicas de integridade do conglomerado Meta, Monica Steffen Guise, afirmou que a empresa contribui junto ao governo brasileiro para construir uma regulamentação “efetiva e democrática” das plataformas digitais.


A Meta tem mais de 3 bilhões de usuários mensalmente em todo o mundo. E por isso, Monica Steffen acredita que o PL das fake news precisa pensar a pluralidade de pessoas ativas nas plataformas.


“Isso se traduz em um volume gigantesco de conteúdo subindo para as plataformas a cada minuto. Por isso, é extremamente oportuno e adequado a regulação, desregulação ou auto regulação das redes”, disse.


Para a representante da Meta, a discussão abrange “jurisdição, de leis aplicáveis, de empresas que atuam globalmente, mas que estão em tantos lugares ao mesmo tempo no mundo e se regem por um conjunto de regras que é global”.


Steffen analisou que a moderação de conteúdo não pode ser só de responsabilidade das big techs.


“[…] Decisões de conteúdos são grandes demais para serem tomadas pelas plataformas e o Congresso Nacional pode e deve ditar parâmetros. Como representante da empresa Meta, eu devo concordar”, afirmou.


Monica Steffan destacou também que a regulamentação integra um conjunto de “decisões extremamente difíceis que influenciam o discurso online. […] São decisões que vão impactar a liberdade de expressão, a capacidade das pessoas conversarem e se expressarem nas redes de forma muito direta.”


“O posicionamento da Meta é de acolher essa regulamentação para que juntos possamos pensar uma regulamentação que faça sentido, que seja factível do ponto de vista técnico”, disse.


TIKTOK


O diretor de políticas públicas do TikTok, Fernando Galo, destacou na ocasião que é preciso desmistificar que as plataformas “estão passivas e inertes à espera de ordens judiciais para agir”. 


Atualmente, o TikTok alcança 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. A plataforma é uma das mais novas em relação a outras do segmento, com 6 anos.


“Procuramos aprender com o que ocorreu, antes que estivéssemos aqui, trabalhando de forma consciente, pois sabemos a responsabilidade que temos. Todas as medidas que tomamos podem ter efeitos muito significativos para a liberdade de expressão e outros direitos fundamentais nos anos e nas décadas seguintes”, afirmou.


Fernando Galo destacou que o TikTok tem um trabalho de segurança com abordagens para moderação e remoção de conteúdos que violem as regras da plataforma. “Sabemos que é um momento de muita desconfiança em relação à indústria de tecnologia e estamos trabalhando para merecer a confiança das pessoas a quem servimos”, falou.


O diretor de políticas públicas disse que as plataformas como o TikTok “se regulam constantemente. Seja atualizando as regras, melhorando suas tecnologias de detecção de conteúdo potencialmente problemático, dando mais visibilidade aos seus relatórios de transparência.”

Texto: 


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