© Thomas Samson
Os
sindicatos planejam "paralisar a França" na terça-feira (7) com a
retomada das grandes manifestações contra a reforma da Previdência, promovida
pelo presidente Emmanuel Macron, acusado de "permanecer surdo" à
rejeição popular.
"Convoco
os trabalhadores, os cidadãos, os aposentados a protestar em grande
número", afirmou, nesta segunda-feira (6), Laurent Berger, líder do
sindicato CFDT. "O presidente não pode permanecer surdo",
acrescentou, em declarações à rádio France Inter.
Dois
em cada três franceses, segundo as pesquisas, são contrários ao projeto de
adiar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos a partir de 2030 e de
antecipar para 2027 a exigência de contribuir por 43 anos (e não 42 como
atualmente) para receber a pensão integral.
O
governo afirma que, ao elevar uma das menores idades de aposentadoria da
Europa, pretende evitar um déficit da Previdência. "Vamos cumprir o
objetivo de um sistema equilibrado até 2030", disse o porta-voz do
Executivo, Olivier Véran, ao canal de televisão France 2.
Desde
a apresentação do projeto, em janeiro, os sindicatos organizaram grandes
manifestações, incluindo a maior em três décadas no país, em 31 de janeiro -
que mobilizou de 1,27 milhão a 2,8 milhões de pessoas -, o que não foi
suficiente para forçar o governo a recuar.
Agora,
esperam intensificar o protesto e "paralisar" o país, um objetivo que
a primeira-ministra, Élisabeth Borne, qualificou, em declarações à emissora
France 5, de "irresponsável". Os franceses "mais humildes"
serão os "principais afetados", afirmou.
Uma
fonte policial estima o número de manifestantes na França entre 1,1 milhão e
1,4 milhão. "Será um tsunami social", disse Murielle Guilbert, do
sindicato Solidaires, nesta segunda-feira.
Os
serviços ferroviários na França e o transporte público de Paris, crucial para a
economia da capital, devem ser muito prejudicados pela greve, que os sindicatos
desejam prolongar para além de terça-feira.
As
autoridades, que pediram a quem puder para trabalhar remotamente, solicitaram o
cancelamento de 20% a 30% dos voos programados nos principais aeroportos.
-
Impacto econômico 'limitado' -
Os
sindicatos também pediram o fechamento das escolas, uma vez que os docentes
voltarão a parar. Obras paralisadas, lojas fechadas, pedágios abertos e
estradas bloqueadas também estão no programa de ações previstas.
Os
catadores de lixo de Paris e os caminhoneiros já iniciaram a greve e provocaram
engarrafamentos em cidades como Lille (norte) e Rouen (nordeste). Desde a
sexta-feira passada, trabalhadores do setor de energia provocaram reduções na
produção em várias usinas nucleares.
Três
dos quatro terminais de GNL da França, que permitem importar gás natural
liquefeito, ficarão parados "por sete dias", anunciou o sindicato CGT
na noite desta segunda.
Apesar
do objetivo de bloquear a economia, o impacto das paralisações será
"limitado", segundo os analistas do banco ING, que calculam, em caso
de longos bloqueios, uma queda de apenas 0,2 ponto percentual no PIB.
A
última vez que os franceses conseguiram evitar uma reforma da Previdência
aconteceu em 1995. Os sindicatos paralisaram os serviços de trens e metrô por
três semanas e conseguiram manter um grande apoio da opinião pública.
A
maioria dos franceses apoia atualmente o princípio de greves prorrogáveis (56%)
e o objetivo sindical de "paralisar a França" (59%) para forçar o
governo a recuar, de acordo com uma pesquisa da Elabe publicada nesta
segunda-feira.
O
projeto, no entanto, segue o trâmite parlamentar. Depois de passar pela
Assembleia (Câmara baixa), o plenário do Senado (Câmara alta) debate desde
quinta-feira as propostas, que avançam graças ao apoio da oposição de direita.
O
governo optou por um polêmico procedimento parlamentar que limita o tempo de
debate e permite aplicar as medidas caso as duas Câmaras do Parlamento não
aprovem o mesmo texto até 26 de março. A Assembleia não votou o projeto.
O
Dia Internacional da Mulher, na quarta-feira, também pode registrar uma forte
mobilização, em particular devido ao fato de os opositores do projeto
considerarem que as mulheres são um dos grupos mais prejudicados pela reforma.
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