O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, informou em nota nesta quinta-feira, 02, que devolveu o dinheiro de diárias recebidas do governo irregularmente para cobrir despesas de uma viagem a São Paulo que teve como agenda principal compromissos particulares. O ministro não informou se também irá devolver as despesas com o avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que o trouxe de volta a Brasília quando não estava em serviço, contrariando as regras sobre o uso das aeronaves.
A
decisão ocorre três dias após o Estadão revelar que, dos quatro dias
de viagem, em três deles o ministro se dedicou a negócios relacionados aos seus
cavalos raça. Juscelino foi a dois leilões, a uma festa em homenagem aos
cavalos e inaugurou uma praça dedicada ao Roxão, um animal de seu sócio. Todos
os compromissos envolvendo cavalos foram omitidos da agenda oficial do
ministro. Na inauguração da praça, ele foi anunciado como integrante da “equipe
do presidente da República”. A presença de um ministro de Estado também foi
destacada pelos leiloeiros nos eventos equestres.
Na
nota, o ministro admitiu que sua agenda de trabalho em São Paulo se limitou a
dois dia e não explicou porque informou ao governo em documentos oficiais que
seu deslocamento era de quatro dias, de 26 a 30 de janeiro. No esclarecimento,
o ministro disse que “desconhece o suposto “caráter de urgência” destacado pelo
jornal” dado por ele à viagem para conseguir autorização do governo para viajar
de jatinho. No entanto, documentos oficiais mostram que ele mentiu no comunicado.
A urgência está registrada até no Portal da Transparência, abastecido com
informações da própria pasta.
Sobre
o uso da FAB na volta para Brasília na segunda-feira, o ministro disse na nota
que “retornou em voo compartilhado solicitado pelo Ministério do Trabalho” e
que portanto não haveria “cometimento de qualquer ilegalidade por parte do
ministro das Comunicações como insistentemente alguns veículos de comunicação
têm propagado”.
Juscelino,
porém, informou ao governo que estava, nesta data, em “serviço”, o que ele
mesmo reconhece que não é verdade. A própria nota oficial e a agenda pública
dele registram que o último compromisso de trabalho em São Paulo na ocasião
havia sido na manhã de sexta-feira, dia 27.
Juscelino
justificou na nota que as diárias serão devolvidas aos cofres públicos, ele não
informou o valor, após “averiguação nos últimos dias acerca do que ocorreu com
a viagem de São Paulo”. Contudo, não esclareceu o valor que será devolvido. Ele
não explicou porque solicitou diárias para quatro dias quando sua agenda se
limitava a dois dias de trabalho e a duas horas e meia de reuniões na capital
paulista.
Sobre
os compromissos com cavalos, a nota informou que “o ministro usufruiu, sim, do
seu direito de praticar atividades de foro particular em São Paulo” e que é
“inaceitável aventar qualquer prática ilegal, tampouco imoral da autoridade
pública ao desfrutar do seu período de folga para participar de qualquer
compromisso, no caso em questão”. Nesse trecho da nota o ministro também mente.
Foi ele próprio que pediu ao governo diárias referentes aos quatro dias que
passou em São Paulo e avião da FAB para ir e voltar do estado, o que cobre
todos os seus compromissos privados.
Decreto
presidencial prevê que as aeronaves da FAB devem ser solicitadas obedecendo uma
ordem de prioridade. Primeiro, em casos de emergências médicas, depois em
razões de segurança, e, em seguida, viagens a serviço. O custo estimado de um
voo privado, nos moldes do realizado por Juscelino, para ir e vir de Brasília a
São Paulo, gira em torno de R$ 140 mil.
Juscelino
Filho está em Barcelona, na Espanha, participando de um congresso sobre
telecomunicações. Em suas redes sociais, o ministro tem feito publicações
falando apenas do evento, sem mencionar a série de acusações sobre uso indevido
de verbas públicas reveladas pelo Estadão. Ele tem apagado comentários de
seus seguidores que o questionam sobre o tour em São Paulo que priorizou
eventos relacionados a cavalos.
Omissão
O
governo Lula segue em silêncio sobre a situação do ministro. Interlocutores do
presidente Lula dizem nos bastidores que ele deveria substituir Juscelino, mas
seguem a determinação do Planalto para que o caso não seja tratado em público
por envolver o União Brasil, que tem três ministros, incluindo o das
Comunicações.
A
sigla tem 59 deputados (a terceira maior bancada) e nove senadores e é
importante para assegurar governabilidade. Como mostrou o Estadão,
contudo, metade do partido apoiou a CPI dos atos golpistas, o que contraria um
pedido de Lula.
A
reportagem fez contato com a Comissão de Ética Pública na segunda-feira, 27, e
questionou se o órgão analisaria o caso do ministro. Não houve retorno até a
noite desta quarta-feira, 1. A Controladoria-Geral da União (CGU) informou à
reportagem que a análise desta questão cabe à comissão.
“A
CGU avalia os atos de gestão dos agentes públicos dos ministérios e a aplicação
de recursos públicos federais, porém não tem competência para responsabilizar
atos de ministros de Estado. Neste caso, a competência é da Comissão de Ética
Pública”, explicou a Controladoria.
O Estadão questionou
formalmente o Palácio do Planalto sobre o caso de Juscelino. Também não houve
resposta. Em entrevista à CNN, Lula disse que consultaria a CGU em caso de malfeito
de seus ministros.
Parlamentares
do PT têm pedido a troca do ministro. Questionado sobre o caso Juscelino Filho
nesta quinta-feira, 2, o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que foi líder do
partido na Câmara entre fevereiro de 2022 e janeiro de 2023, afirmou que o
governo “quer a maior transparência possível”. “Ninguém defende pegar avião da
FAB para fazer atividade privada”, disse o parlamentar.
Outros
feitos
Numa
série de reportagens, o Estadão revelou que o ministro destinou R$ 5
milhões do orçamento secreto para asfaltar uma estrada de terra que passa em
frente à sua fazenda e à sua pista de pouso privada, em Vitorino Freire (MA). A
obra é feita por uma empresa investigada pela Polícia Federal por supostamente
pagar propina a servidores federais para obter obras no Maranhão. O servidor da
Codevasf que autorizou a obra e é indicado do grupo do ministro está afastado
por receber propina da empresa. Ele está proibido de entrar na sede da
companhia.
A
cidade é controlada pela irmã do ministro, a prefeita Luanna Rezende (União). A
administração tem mais de R$ 36 milhões em contratos com pelo menos quatro
empresas de amigos, ex-assessoras e uma cunhada do ministro das Comunicações.
Todas as firmas intensificaram os negócios a partir de 2015, quando Juscelino
assumiu pela primeira vez uma cadeira de deputado.
O Estadão também
mostrou que, ao prestar contas da campanha à reeleição de deputado, Juscelino
Filho apresentou dados falsos ao TSE. Para justificar o uso de verba pública
com voos de helicóptero, ele incluiu como passageiros de 23 voos “três cabos
eleitorais”. O Estadão identificou, porém, que os nomes apresentados
por ele são de um casal e de uma filha de dez anos. A família é de São Paulo e
afirma não conhecer o político.
O
ministro também tem abrigado no ministério indicações do seu grupo político. O
diretor de radiodifusão não tem experiência na área, mas é apadrinhado do
advogado e empresário Willer Tomaz, que tem quatro rádios e uma TV no Maranhão,
reduto eleitoral do ministro. Tomaz é amigo e parceiro dos senadores Flávio
Bolsonaro e Weverton Rocha. Esse último compadre do ministro e fiador de sua
indicação como ministro de Lula.
O
post Juscelino Filho devolve dinheiro ao governo por viagem para ir
a leilão de cavalo apareceu primeiro em ISTOÉ DINHEIRO.
Para ler a matéria na íntegra acesse
nosso link na pagina principal do Instagram. www: professsortaciano
medrado.com e Ajude a aumentar a nossa comunidade.
AVISO: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Blog do professor Taciano Medrado. Qualquer reclamação ou reparação é de inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não respeitem os critérios serão excluídos sem prévio aviso.
Postar um comentário