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Por Ricardo Brito e Bernardo Caram
(Reuters) - No
momento em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, começa a apresentar as
linhas de sua proposta para o novo arcabouço fiscal a autoridades e lideranças
do Congresso, nomes do PT voltaram a pressionar o titular da pasta,
publicamente e nos bastidores, cobrando um texto flexível, que preveja até dose
de expansionismo fiscal para estimular o crescimento econômico.
Haddad
já se reuniu na manhã desta segunda-feira com os líderes do governo na Câmara,
José Guimarães (PT-CE), e do Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e à tarde se
encontrará com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado,
Rodrigo Pacheco (PSD-MG) em busca de apoios políticos ao texto, por
recomendação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O
ministro trabalha para que Lula aprove uma versão do arcabouço fiscal até o sábado,
antes de o chefe de Executivo, Haddad e outros aliados viajarem à China.
Entretanto,
mesmo sem o texto sequer ter sido divulgado, Haddad tem sido alvo de fogo amigo
dentro do próprio partido, como já aconteceu na questão da reoneração dos
combustíveis.
A
cobrança, segundo um influente parlamentar petista, é para tentar impedir que
Haddad encampe uma proposta muito ortodoxa e que dificulte ainda mais a
retomada do crescimento econômico, crucial para o sucesso do
terceiro mandato do presidente Lula. Na sexta, o governo reduziu a
expectativa oficial de crescimento para 2023 de 2,1% para 1,6%.
Esse
parlamentar disse reservadamente que qualquer que seja a configuração do
arcabouço pelo governo haverá queixa do mercado por “má vontade” e que uma
eventual proposta que contemple zerar o déficit primário no próximo ano poderia
inviabilizar a atual gestão e deixá-la, ainda mais, na dependência do chamado
centrão, grupo comandado por Arthur Lira na Câmara.
Uma
preocupação, segundo essa fonte, é com o relator que o presidente da Câmara vai
escolher para conduzir a proposta. Dois nomes vistos com receio pelos petistas,
contou, são os deputados Mendonça Filho (União-PE) e Pedro Paulo (PSD-RJ).
Em
entrevista à Globo News, Zeca Dirceu, líder do PT na Câmara, disse que vai
sugerir Lira nomes para a relatoria.
“Mais
importante sobre quem vai ser o relator, é que a gente tenha um bom arcabouço
fiscal, novo, moderno, flexível e equilibrado. Não podemos engessar as
finanças do país”, disse ele, que defendeu uma proposta sem “nenhum tipo de
radicalismo”.
No
final de semana, a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann,
vocalizou no Twitter parte das preocupações discutidas nos bastidores por
parlamentares petistas.
“Se
é verdade que a economia crescerá menos este ano segundo indicadores divulgados
pelo governo, precisamos então aumentar os investimentos públicos e não
represar nenhuma aplicação no social. Em momentos assim, a política fiscal tem
de ser contracíclica, expansionista”, defendeu ela.
Em
seminário no Rio de Janeiro na manhã desta segunda-feira sobre contas públicas
foi a vez do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, comentar o tema. Disse
que Haddad pode esperar “total lealdade e parceria, ao contrário das
especulações que são publicadas”, mas defendeu o debate em torno do arcabouço.
“Agora,
não nos peçam para deixar de dizer o que pensamos e ajudar o governo a
acertar”, ressalvou o economista, fundador do PT e tido como mais heterodoxo na
economia dentro da sigla, na comparação com Haddad.
“Não
tem expectativa de substituir ninguém nem muitos menos de competir”, afirmou.
PRESSÃO
ESPERADA
Nesta
manhã, Haddad minimizou a pressão que tem sido alvo e rechaçou a divisão entre
“ala política e econômica”.
“Não
faz sentido esse tipo de divisão, toda decisão é técnica e política, ainda mais
uma decisão dessa importância, por isso é o presidente da República que dá a
última palavra (sobre o arcabouço)”, disse.
Nos
bastidores da Fazenda, a pressão de parte do PT tem sido tratada de forma
natural, seria o papel do partido. Uma fonte lembrou que, no primeiro governo
Lula, o PT pedia a demissão de ministros e que ao final tudo funcionou bem.
No
mês passado, o titular da pasta obteve uma importante vitória ao conseguir
garantir a retomada da cobrança de impostos federais sobre combustíveis em meio
a uma disputa de visões entre a equipe econômica e alas do governo e do PT, que
viam a medida como impopular e inflacionária.
Experiente
parlamentar petista, o senador Humberto Costa (PE) disse que confia muito no
trabalho de Haddad e defendeu que o arcabouço leve em conta um grau de
flexibilidade em casos de retração econômica e que se permita usar o dinheiro
em caixa quando houver crescimento. Cobrou paciência dos correligionários.
“É
uma pressa desnecessária, tem que conhecer (a proposta), ouvir o ministro e se
a posição for essa, vamos apoiar que é a posição final do governo”, disse. “Não
se pode ter posição pré-definida; não conhece e já está atacando”, criticou.
(Reportagem
adicional de Rodrigo Viga Gayer)
Fonte: Isto È dinheiro
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