Por Taciano Medrado
A eleição para presidência do senado ainda dá o que falar. As interferências diretas do executivo e de alguns integrantes da suprema corte brasileira foi escancarada e vergonhoso. Faltou ética e sobrou despudor na luta pelo poder na casa legislativa.
O jornal da Folha de Paulo traz uma matéria, assinada por um grupo de jornalista como Julia Chaib Catia Seabra, João Gabriel, Thaisa Oliveira e Victoria Azevedo, que traduz como foi o cenário do processo eleitoral no senado. Veja conteúdo transcrito ipsis litteris abaixo:
Integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entraram em campo e intensificaram os esforços para garantir a eleição de Rodrigo Pacheco (PSD) como presidente do Senado às vésperas da votação desta quarta-feira (1º).
Na terça (31),
senadores alertaram o governo sobre a possibilidade de crescimento de Rogério
Marinho (PL), ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) que foi adversário de Pacheco.
Diante do cenário, o Palácio do
Planalto acionou dirigentes de partidos como PSD e União Brasil para afiançar a
eles que promessas de entregas de cargos serão cumpridas. Há pedidos de cargos
em empresas públicas, como a Geap (Fundação de Assistência ao Servidor Público).
Ministros do governo também foram
acionados para atuarem em busca de votos para derrotar Marinho.
Já a ex-primeira-dama Michelle
Bolsonaro esteve na tarde desta quarta na posse dos novos senadores,
juntando-se a um grupo de ex-ministros da última gestão que demonstraram apoio
à candidatura de Marinho.
No início da tarde, a previsão de
governistas era a de que Pacheco teria de 44 a 52 votos. O presidente do Senado
foi reeleito para mais dois anos de mandato por 49 votos, ante 32 do
adversário.
O resultado da eleição na Casa
representa uma segunda derrota do bolsonarismo e dá mais uma demonstração de
força de Lula um mês após o início do seu mandato.
Logo após a vitória, Marinho apontou
interferência do governo no resultado eleitoral. O ministro da Secretaria de
Relações Institucionais, Alexandre Padilha, rechaçou que isso tenha ocorrido.
"Este governo não fez qualquer
medida de interferência no processo eleitoral, seja do Senado ou da
Câmara", disse.
"O governo não interferiu em
absolutamente nada no processo eleitoral tanto no Senado como na Câmara porque
não é prática do presidente Lula querer fazer uma intervenção no Congresso
Nacional", continuou.
Apesar da vitória, aliados de Pacheco
tiveram o receio de que Marinho registrasse uma votação mais expressiva.
Um dos problemas apontados por
pessoas próximas de Marinho foi que Pacheco teria "loteado" o Senado
mesmo antes de ser eleito, prometendo o comando das principais comissões
somente a aliados políticos e deixando de fora outras siglas com
representatividade.
O presidente do Senado contou com a
atuação forte do PT de Lula, de aliados antigos do MDB e do senador Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP), que foi um dos principais fiadores da eleição.
A Alcolumbre está prometida a CCJ
(Comissão de Constituição e Justiça), que ele já preside e é a mais importante
da Casa. Já ao senador Rogério Carvalho (PT-SE) está prometida a primeira
secretaria.
A negociação para reeleger Pacheco
também envolveu espaços na Mesa Diretora. O presidente do Senado quis manter em
posições de poder seus principais aliados -como Veneziano Vital do Rêgo
(MDB-PB) na vice-presidência. Mas ele esperava o placar para definir o destino
de duas secretarias que estão hoje nas mãos do PL e do Progressistas.
Mesmo tendo a segunda maior bancada
do Senado, o PL corre o risco de ficar sem espaços importantes na Casa diante
da formação de blocos. O partido do ex-presidente se juntou ao PP e ao
Republicanos -que somam 22 senadores-, mas o governo articula dois blocos ainda
maiores.
A influência e espaço de Alcolumbre
também viraram motivo de reclamação em diversos partidos, entre eles a União
Brasil. Na montagem do governo, o partido de centro ficou com três ministérios.
Dois deles foram indicados pelo senador: o dos ministros das Comunicações,
Juscelino Filho (União Brasil), e da Integração, Waldez Góes (PDT).
Embora seja do PDT e esteja apenas
licenciado do partido, o ex-governador do Amapá Waldez Góes é próximo de
Alcolumbre -o senador também articulou a indicação do aliado junto a
governadores da região da Amazônia.
Pouco após as nomeações, dirigentes e
integrantes da União Brasil reclamaram que a equipe petista conduziu o processo
de forma atabalhoada e acabou contemplando apenas Alcolumbre, e não a
totalidade da União Brasil.
Aliados do governo Lula no Congresso
já admitiam, antes da votação, que o nome de Alcolumbre acabou pesando contra a
candidatura de Pacheco em alguns momentos, o que aumentou a conta do que o
governo precisou fazer para garantir a vitória.
Sem dar detalhes de qual foram as
moedas de troca, eles admitem que o PT, por exemplo, corre o risco de acabar
sem a presidência de comissões de destaque no Senado.
Eles entendem ainda que, não fosse
uma intensificação na movimentação do governo para conseguir votos de
senadores, a margem da vitória de Pacheco seria menor do que o placar
registrado nesta quarta.
"Estávamos muito confiantes que
se a eleição fosse ontem ou hoje, no começo da tarde, nós teríamos uma grande
possibilidade de vitória, mas é fato que houve um trabalho muito forte do nosso
adversário e do próprio governo", afirmou Marinho após a derrota.
Ele ainda insinuou que pode ter
acontecido troca de votos por indicações a cargos, mas disse que não tem como
provar essa possibilidade.
"Não posso afirmar, porque não vi, mas claramente houve uma diminuição nos votos que nós achávamos que tínhamos assegurado. O que houve nas entrelinhas, o Diário Oficial certamente, no futuro, vai poder constatar, ou não, se houve algum tipo de favorecimento. Não vou fazer pré-julgamentos", completou.
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