Autor: Jan D. Walter/DW
O Haiti está preso há anos em uma crise política e humanitária
permanente. Esta semana, policiais à paisana atacaram a casa do
primeiro-ministro interino, Ariel Henry, quando ele voltava da cúpula da
Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Depois, manifestantes, muitos dos quais
disfarçados de policiais, invadiram o aeroporto da capital Porto Príncipe para
esperar o primeiro-ministro.
De
acordo com o sindicato da polícia haitiana, supostos membros de gangues mataram
15 policiais apenas nas últimas duas semanas. Furiosos, os agentes acusam o
chefe do governo de não ajudá-los - alguns até especulam que ele esteja aliado
às gangues. De acordo com a organização haitiana de direitos humanos RNDDH, 78
agentes de segurança foram mortos desde que Henry assumiu o cargo em julho de
2021.
Situação
política desoladora
Ariel
Henry foi nomeado como primeiro-ministro pelo então presidente Jovenel Moïse.
No entanto, apenas dois dias depois, antes mesmo de Henry ser empossado, Moïse foi assassinado. Não há Parlamento que possa
confirmar constitucionalmente Henry no cargo - os haitianos não elegem um desde
2015.
As
eleições gerais e presidenciais de novembro de 2021 não ocorreram porque Henry
dissolveu o comitê eleitoral por alegações de parcialidade. Desde então,
manteve-se no cargo. E, por essa razão, é considerado por muitos haitianos como
um governante ilegítimo. Muitos suspeitam de maquinações estrangeiras por trás
de sua chegada ao poder, bem como por trás do assassinato de Moïse.
Mesmo
antes do assassinato do presidente, a situação política no Haiti era
considerada desoladora. Anos atrás, o governo efetivamente perdeu o controle de
partes do país para criminosos. Na capital, Porto Príncipe, gangues controlam mais da metade dos distritos. Tendo
em vista a situação de segurança catastrófica, observadores também acreditam
que eleições democráticas dificilmente seriam viáveis.
Tropas
estrangeiras vão intervir?
Em
outubro de 2022, Henry pediu à Organização das Nações Unidas (ONU) e aos países
amigos que enviassem tropas para combater as gangues. No início desta semana, o secretário-geral da ONU,
António Guterres, enfatizou a urgência de enviar forças armadas ao país
caribenho para proteger a população e garantir caminhos para ajuda humanitária.
Apesar
disso, parece que ninguém quer assumir essa responsabilidade. "Os riscos
são altos, as chances de sucesso são duvidosas", explica Judith Vorrath,
da Fundação de Ciência e Política, da Alemanha.
Mesmo
que fosse possível repelir as gangues e garantir infraestruturas críticas como
o porto e importantes vias de acesso, isso não seria uma solução permanente.
"Ninguém sabe como poderia deixar o país se não houver progresso no
processo político", destaca Vorrath.
Resistência
interna
Além
disso, tropas estrangeiras provavelmente teriam que enfrentar uma resistência
considerável - não apenas das gangues, observa o International Crisis
Group. A oposição política e grande parte da população haitiana rejeitam
qualquer nova intervenção. As experiências anteriores com operações da ONU
foram péssimas.
Os
capacetes azuis da Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (MINUSTAH,
na sigla em francês), de 2004 a 2017, realizaram ações brutais contra membros
da oposição, estupraram moradores e participaram da exploração sexual de
menores. Após o devastador terremoto de 2010, trouxeram a cólera - mais de 500
mil pessoas adoeceram e até 10 mil sucumbiram à epidemia.
Na
maior parte do tempo, as forças de paz foram comandadas pelo Brasil, com a
participação de contingentes de vários outros países.
A
missão política da ONU BINUH (Escritório Integrado das Nações Unidas no Haiti),
que está no país desde 2019, também sofre com a desconfiança.
"Muitas
pessoas, inclusive em outros países onde a ONU opera, não necessariamente
diferenciam entre missões de manutenção da paz, presença da ONU e outras
missões que são cobertas pelo Conselho de Segurança da ONU", explica
Vorrath.
Narrativa
imperialista
Soma-se
a isso a narrativa do imperialismo racista dos EUA, predominante na América
Latina, que também mobiliza os haitianos contra intervenções estrangeiras que
tenham alguma conexão com a potência mundial do norte. Muitos no Haiti assumem
que o assassinato do presidente Moïse foi articulado ou mesmo executado por
serviços secretos estrangeiros.
"Essas
enormes reservas certamente também são um motivo para a relutância em países
que, como o Canadá, poderiam ser considerados para uma missão no Haiti",
diz Vorrath.
O
governo de Ottawa forneceu ao país uma ajuda de 98 milhões de dólares somente
no ano passado - entre outras coisas para fortalecer as forças de segurança e o
judiciário. Em meados de janeiro, enviou à polícia haitiana veículos blindados
para usar na luta contra as gangues.
As
gangues controlam a política?
As
gangues haitianas realizam crimes típicos deste tipo de grupo: roubo, extorsão,
tráfico de drogas etc.
Por
essa razão, lutam pela supremacia em territórios relativamente limitados. De
acordo com um relatório da ONU, elas também intimidam a população com violência
sexual, espalhando terror.
No
entanto, muitas das incontáveis gangues estão agora organizadas em duas
grandes coalizões. Os confrontos no verão passado mataram cerca de 500 pessoas,
a maioria civis. O líder da aliança de gangues "G9", Jimmy
"Barbecue" Chérizier, está nas listas de sanções da ONU e de vários
Estados-membros.
Agora
parece que com a disseminação e organização mais forte das gangues não apenas a
violência está aumentando, mas também sua influência.
"As
gangues sempre foram usadas politicamente, por exemplo, para manipular eleições
ou eliminar adversários políticos", explica Vorrath. "A questão agora
é se, à medida que se tornam mais poderosas, elas vão se separar de seus
clientes e protegidos na política, mesmo que provavelmente ainda não tenham sua
própria agenda política no sentido mais estrito", explica.
O
fato de as gangues estarem cada vez mais populares também se deve à pobreza. O
Haiti é o país mais pobre do hemisfério ocidental. A organização de ajuda International
Rescue Committee classifica a crise humanitária lá entre as dez piores do
mundo.
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