Lula
da Silva declarou, numa entrevista, que não gosta do Banco Central (BC)
autônomo. E não gosta porque, para o lulopetismo clássico, o governo deve
mandar na autoridade monetária para definir, conforme critérios políticos,
quais devem ser os juros básicos da economia. A autonomia, segundo os petistas,
“afeta a soberania popular e nacional” ao “transferir o controle do BC aos
bancos privados”, como se lê em um comentário do partido a respeito do projeto
de lei que conferiu independência ao BC, em 2021. Nada muito diferente dos
manifestos radicais do PT primevo.
De
volta ao poder, o presidente Lula mostrou que continua incapaz de compreender
que, sem autonomia, o Banco Central depende da boa vontade do governante para
fazer seu trabalho de preservação do poder de compra da moeda. A mão pesada de
Dilma Rousseff no BC para forçar uma queda dos juros logo no início de seu
primeiro mandato, em 2011, a título de impulsionar o crescimento, abriu a
picada para o desastre que estava por vir – inflação descontrolada,
instabilidade econômica e recessão. Mas Lula e o PT são teimosos.
Em
entrevista à GloboNews, o presidente disse que a autonomia formal do BC é “uma
bobagem”. Além disso, Lula sugeriu que, se autonomia fosse eficiente, a
inflação não estaria tão alta. “Por que, com um banco independente, a inflação
está do jeito que está?”, questionou, ignorando o fato, óbvio, de que a
inflação só não está mais alta porque o BC tomou as providências necessárias.
Aliás, pode-se dizer que, não fosse a autonomia do BC, o então presidente Jair
Bolsonaro teria usado a autoridade monetária para seus propósitos eleitoreiros,
mandando criar artificialmente um aumento momentâneo do poder de compra dos
brasileiros para ganhar votos. Talvez até se reelegesse – vejam só os petistas do
que a autonomia do BC nos livrou.
As
declarações de Lula, portanto, não surpreendem ninguém, mas são dignas de
lamento. É inacreditável que o presidente hesite em reconhecer a importância de
um marco institucional tão relevante para o País.
Ao
longo de sua história, o PT sempre defendeu o combate à inflação por meio do
controle de preços de combustíveis, incentivos setoriais e uma política cambial
que reduza a volatilidade da moeda. Não são propostas de um passado distante,
mas as diretrizes expressas do programa apresentado por Lula na campanha
eleitoral de 2022.
Esse
receituário heterodoxo foi testado e reprovado no governo de Dilma, quando o BC
ignorou os sinais de deterioração da economia e abriu mão da defesa da moeda,
sua função primordial, perdendo o controle da inflação e da ancoragem das
expectativas. A combinação entre juros em patamares artificialmente baixos e os
efeitos de uma política fiscal expansionista mergulharam o País em uma profunda
crise econômica até hoje não totalmente superada.
Foi
após esse contexto que ressurgiu o debate sobre a autonomia do Banco Central.
Um dos pilares do projeto de lei complementar aprovado pelo Congresso foi o
estabelecimento de mandatos fixos para os diretores e o presidente da
instituição em períodos não coincidentes com os do presidente da República.
Longe de representar privilégio aos membros da autarquia, a proposta deu a eles
a blindagem necessária para executar suas atividades sem pressões políticas do
governo de plantão, independentemente de seu viés político.
Tema
completamente superado, a autonomia do BC é mais um dos vários dogmas aos quais
o PT mantém um apego visceral. Quando Lula a critica, trai a si mesmo, pois
sabe que a independência que deu ao BC lhe garantiu um primeiro mandato
tranquilo. Pior: amplia as incertezas e a volatilidade da economia, desancora
as expectativas do mercado e cria um ambiente propício para que um BC sobre o
qual ele não tem qualquer poder ou ascendência volte a aumentar a taxa básica
de juros. Com o enorme desafio de pacificar o País após os violentos ataques à
democracia, Lula deveria abandonar essa retórica inconsequente. Com esse
discurso, ele boicota seu próprio governo e castiga justamente os mais pobres,
que ele diz tanto defender.
Fonte: Notas & Informações/Estadão
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