Foto divulgação
Deputados
da CRE (Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional) da Câmara ouvidos
pelo Poder360 são contra mudar o artigo 142 da Constituição para
limitar a atuação das Forças Armadas à defesa externa.
Primeiro
e 2º vice-presidentes do colegiado, José
Rocha (União Brasil-BA) e Claudio
Cajado (PP-BA) não veem necessidade de remover da Constituição o
trecho que diz que as forças destinam-se “à garantia dos poderes
constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.
A ideia é defendida em um artigo assinado por 2
professores universitários sobre como deve ser a política para a defesa no novo
governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O texto foi publicado no site da Fundação Perseu Abramo, braço
teórico do PT, em 8 de setembro de 2022 –leia a íntegra (336 KB).
Os
autores são Marco Cepik, professor de economia e relações internacionais da
UFRGS, e Sebastião Velasco e Cruz, professor de ciência política e relações
internacionais da Unicamp.
Integrante
da CRE e aliada de Lula, a deputada Perpétua
Almeida (PCdoB-AC) disse que a opinião publicada no site da fundação
do PT “não quer dizer, necessariamente, nem a opinião do partido e muito
menos a do governo”.
Ninguém
da equipe de transição de Lula falou em entrevistas sobre a tese de mudar o
artigo 142 para limitar a atuação das Forças Armadas. Mas o Poder360 apurou
que o artigo tem circulado entre pessoas sondadas para o Ministério da Defesa.
Perpétua
afirmou que tanto os “saudosistas dos regimes antidemocráticos” quanto aqueles
que “não compreenderam a importância de termos Forças Armadas fortes num país
altivo e soberano, com as riquezas naturais e biodiversidade, do tamanho que é
o Brasil” interpretam o artigo 142 de forma equivocada.
A
mudança que ela considera de fato “necessária e urgente” é a da PEC (proposta
de emenda à Constituição) 21 de 2021, de sua autoria, que limita a participação de
militares da ativa em cargos políticos de natureza civil para “preservar as
Forças Armadas de governantes como [Jair] Bolsonaro, que, no seu
governo, tentou usar essas instituições de Estado como sua espada”.
No
texto publicado pela Fundação Perseu Abramo, os acadêmicos dizem que “as Forças
Armadas servem para garantir a defesa da nação contra ameaças militares
externas, caso contrário, elas não têm função em um Brasil democrático”.
Para
os 2 professores, a construção atual do texto na Constituição Federal é “ambígua, gera
ineficiências e ameaça a democracia”. Eles sugerem que as Forças Armadas sejam
limitadas exclusivamente à defesa externa ou, “apenas excepcionalmente”, a
missões de apoio em catástrofes naturais e desastres.
O
artigo 142 é um dos mais citados por aliados e apoiadores do atual
presidente Jair Bolsonaro (PL) quando sugerem alguma intervenção militar.
Para
o 1º vice-presidente da CRE da Câmara, José Rocha, a redação atual não permite
às Forças Armadas intervirem para garantir a lei e a ordem por iniciativa
própria, e, sim, somente por solicitação do Poder Executivo, do Poder
Legislativo ou do Poder Judiciário.
Ele
afirmou que qualquer tentativa de mudar esse trecho da Constituição estaria
fadada ao fracasso. “Acho que [as Forças Armadas] têm o papel delas
definido na Constituição e é isso que tem dado equilíbrio até hoje. Sou
inteiramente contra qualquer mudança do artigo 142”, declarou.
O
que diz o artigo 142:
“Art.
142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas
com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente
da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes
constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”
O
que diz o trecho do texto publicado no site da Fundação Perseu Abramo:
“Do
ponto de vista regulatório, é crucial modificar a redação do artigo 142 da
Constituição Federal para que as Forças Armadas se limitem à defesa externa e,
apenas excepcionalmente, a missões de apoio em catástrofes naturais e
desastres. A formulação atual é ambígua, gera ineficiências e ameaça a
democracia. Vejamos: ‘As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo
Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e
regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade
suprema do presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da
lei e da ordem’ (destaque é nosso). Propomos retirar o trecho final
destacado, explicitando que as Forças Armadas se destinam exclusivamente à
defesa nacional”.
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