Soldados russos conduzem
prisioneiros ucranianos: sete dos nove homens da imagem seriam executados
(Foto: reprodução de vídeo/The New York Times)
Novas
evidências surgiram para reforçar as denuncias de que tropas russas cometeram
crimes de guerra, especialmente execuções sumárias, contra ucranianos na cidade
de Bucha,
nas proximidades de Kiev. O jornal norte-americano The New York Times teve acesso a vídeos e ouviu
testemunhas que confirmam um caso em particular: o de oito indivíduos
executados por militares da Rússia.
Uma das testemunha é um sobrevivente, que se fingiu de morto depois de ter sido
atingido por um disparo.
A
principal evidência é um vídeo registrado no dia 4 de março por uma câmera de
um serviço fechado de segurança. Ela mostra nove indivíduos enfileirados sendo
conduzidos por soldados
russos armados. Imagens registradas por uma testemunha mostram a mesma
cena, embora de outro ângulo. Um dos homens veste uma blusa azul que o destaca
em relação aos demais.
As
imagens não exibem o momento da execução, mas testemunhas descrevem o que
aconteceu após a gravação ser interrompida. Os homens foram levados para a
parte de trás de um edifício comercial que vinha sendo usado como base
dos militares
russos. Foram ouvidos disparos, e nenhum dos indivíduos retornou.
Imagens
registradas por um drone reforçam a evidência de que os homens foram
executados. Elas foram registradas no dia seguinte, 5 de março, e mostram
corpos caídos no chão atrás do tal edifício, na rua Yablonska 144. Entre os
mortos está um homem de roupa azul, e ao lado dos corpos aparecem dois soldados
russos vigiando o local. O mesmo homem de azul está em fotos de pessoas mortas
que foram feitas por agências de notícias após a saída das tropas russas da
cidade.
O
sobrevivente
O
único homem que sobreviveu ao pelotão de execução russo é Ivan Skyba, de 43
anos. Segundo ele, oito dos homens eram civis que se juntaram à resistência
armada, e o nono era o dono da casa onde o grupo estava escondido. Na manhã do
dia 4 de março, quando a cidade já era controlada por Moscou, eles foram
descobertos e levados por soldados russos.
Um
dos homens foi executado imediatamente, enquanto Skyba e outro indivíduo,
Andriy Verbovyi, foram levados para dentro do prédio. Ambos foram interrogados
e agredidos, e na sequência Verbovyi também foi morto. Skyba, então, se juntou
novamente aos demais presos na parte de trás do prédio, onde um deles confessou
que todos eram combatentes. Esse homem foi libertado, e as autoridades
ucranianas dizem que ele está sendo investigado por “traição”.
De
acordo com Skyba, os soldados passaram a debater o que fazer com os
prisioneiros. “Livre-se deles, mas não aqui, para que seus corpos não fiquem
espalhados”, teria dito um dos russos, segundo o sobrevivente. Então, os seis
remanescentes foram levados por dois militares para o lado do prédio, onde já
havia um corpo, agora identificado como sendo de Andriy Matviychuk, executado com
um tiro na cabeça.
Foi
ao lado do prédio que os soldados executaram os outros cinco indivíduos. “Fui
baleado e caí. A bala entrou no lado do meu corpo”, diz Skyba, cuja lesão foi
confirmada por um médico de Bucha, que o tratou e posteriormente testemunhou
sobre os eventos. “Eu caí e fingi estar morto. Eu não me movi e não respirei.
Estava frio lá fora e você podia ver a respiração das pessoas”, conta o
sobrevivente.
De
acordo com Stephen Rapp, ex-embaixador dos Estados Unidos para questões de
crimes de guerra, o evento relatado “é o tipo de incidente que pode se tornar
um forte argumento para a acusação de crimes
de guerra“. Os acusados não seriam apenas os soldados, mas também seus
comandantes.
Embora
os homens mortos fossem combatentes, estavam desarmados e fora de combate. De
acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas) e a Cruz Vermelha, a lei
determina que os prisioneiros devem ser tratados com humanidade e protegidos de
maus-tratos em todas as circunstâncias.
O
massacre de Bucha
A
pressão global por punições à Rússia, às suas tropas e ao presidente Putin
aumentou bastante depois que os corpos
de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as
tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército
russo. As imagens dos mortos foram divulgadas
pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e
chocaram o mundo.
As
fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício
de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes
à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava
uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.
“O
massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer
coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o
ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta
no Twitter.
Moscou,
por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram,
o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve
sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer
ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção
encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso
em Mariupol
com a maternidade“.
Entretanto, imagens
de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam
o argumento da Rússia. O The New York Times realizou uma investigação com base
nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo
humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente
nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das
tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de
abril.
Mais
recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo
das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E
acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas
comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para
outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências
de crimes.
Vadym
Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar,
um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em
1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas,
essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.
“O
maior crime
de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi
Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está
destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que
pudermos para impedir o genocídio”.
Os
mortos de Putin
Desde
que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve
envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com
inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de
vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai
aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.
Na
conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso,
ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro
do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a
invasão à Ucrânia que
colocou o mundo em alerta.
Com informações do site a Referência
Para
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