Um
diretor da CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, disse no ano
passado a militares e pessoas próximas de Jair Bolsonaro que o presidente
brasileiro não deveria desacreditar o processo eleitoral brasileiro. A notícia
é da agência Reuters, que falou com duas pessoas sobre o
ocorrido em condição de anonimato.
Segundo
a Reuters, William Burns, diretor da CIA nomeado por Joe Biden, fez uma reunião
a portas fechadas em julho do ano passado, quando veio ao Brasil em uma viagem
não anunciada nem registrada.
Ele
se encontrou no Palácio do Planalto com o presidente e dois de seus
conselheiros — o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência, e Alexandre Ramagem, que então era
chefe da Abin.
Burns
também jantou na casa do embaixador dos Estados Unidos com Augusto Heleno e com
o então ministro-chefe da Casa Civil Luiz Eduardo Ramos, dois
generais. Historicamente, os militares brasileiros têm proximidade com a CIA e
outros serviços de inteligência norte-americanos, que tiveram papel destacado
na promoção do golpe que levou à ditadura civil-militar no país em 1964.
Segundo
fontes ouvidas pela Reuters, no jantar, Heleno e Ramos tentaram minimizar o
impacto das declarações de Bolsonaro atacando o sistema eleitoral do país. Em
resposta, Burns teria dito a eles que o processo democrático é sagrado, e que
Bolsonaro não deveria falar como tem falado.
"Burns
estava deixando claro que as eleições não são um tópico com o qual eles
devessem brincar", disse a fonte à Reuters. "Não foi uma palestra,
foi uma conversa."
Não
é comum, diz a Reuters, citando suas fontes, que diretores da CIA mandem
recados políticos. Mas Biden deu uma espécie de carta branca a Burns para atuar
como porta-voz informal do governo.
O
tom do recado dado em julho foi reforçado quando, em agosto, o conselheiro de
segurança nacional dos Estados Unidos também visitou Bolsonaro e levantou
preocupações semelhantes. Mas a reprimenda de Burns foi mais veemente, afirmou
uma fonte da Reuters em Washington, que não quis entrar em mais detalhes.
À
Reuters, um oficial do departamento de estado dos EUA afirmou que "é
importante que os brasileiros tenham confiança em seu próprio sistema
eleitoral". A CIA afirmou à agência que não iria se pronunciar sobre o
assunto, e o governo Bolsonaro não respondeu ao pedido de comentário enviado.
No
sábado, o ex-cônsul dos EUA no Rio de Janeiro Scott Hamilton engrossou o caldo
ao escrever, em artigo, que os Estados Unidos deveriam deixar claro para
Bolsonaro que qualquer tentativa de sabotar a eleição poderia ser o gatilho
para sanções multilaterais.
Com
informações da Revista Consultor Jurídico,
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