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Andre Coelho / Getty Images A pesquisa mais recente do Datafolha,
divulgada na semana passada, apontava que Moro tinha 8% das intenções de voto
A
saída, ainda que temporária, do ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro
(União Brasil) da disputa pela Presidência da República surpreendeu o meio
político e, principalmente, os entusiastas da chamada "terceira via".
Moro
vinha enfrentando dificuldades para consolidar sua pré-candidatura e não
conseguia aumentar as intenções de voto para o seu nome e ameaçar a liderança
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro
(PL), que aparecem em primeiro e segundo lugar, respectivamente, nas pesquisas
mais recentes.
Passado
o susto, políticos e analistas já começam a avaliar quais os impactos diretos
no xadrez eleitoral se a desistência de Moro se confirmar.
Especialistas
ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que a saída do ex-juiz da Operação Lava
Jato do páreo presidencial deverá beneficiar Jair Bolsonaro e uma eventual
candidatura unificada na "terceira via". Em contrapartida, o movimento
deverá, avaliam, prejudicar a candidatura de Lula.
A
desistência de Moro foi anunciada por meio de suas redes sociais e culminou em
uma sequência de movimentos que ele vinha fazendo na tentativa de obter mais
estrutura para sua pré-candidatura.
Moro
anunciou que disputaria a Presidência no final de 2021, ao se filiar ao
Podemos. De lá para cá, porém, ele se deparou com as limitações de recursos
financeiros e políticos do partido para alavancar suas pretensões.
Nos
últimos dias, ele passou a manter conversas com o União Brasil, partido
resultante da fusão entre o Democratas e o PSL. O partido é, hoje, o maior do
país e tem direito a fundo partidário de aproximadamente R$ 1 bilhão. Sua ida
para a legenda, porém, esbarrou na resistência de lideranças internas que
alegaram que sua filiação não significaria a adesão automática do partido à sua
pré-candidatura.
Com
o prazo de filiação partidária determinado pela Justiça Eleitoral se esgotando,
Moro aceitou o convite do União Brasil e comunicou que, "nesse momento",
abria mão de sua candidatura.
"Para
ingressar no novo partido, abro mão, nesse momento, da pré-candidatura
presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um
Brasil melhor", diz um trecho da nota.
A
pesquisa mais recente do Datafolha, divulgada na semana passada, apontava que
Moro tinha 8% das intenções de voto. Lula aparece com 43% e Bolsonaro com 26%.
Beneficiados:
Bolsonaro e terceira via
Para
os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, o cenário mais provável é o de
que Jair Bolsonaro "herde" parte significativa desse eleitorado. Isso
aconteceria porque o perfil desses eleitores é parecido com o daqueles que já
votam em Bolsonaro.
"Se
congelássemos o cenário político brasileiro no momento presente, certamente o
maior beneficiado desta decisão seria Jair Bolsonaro, dada a maior proximidade
político-ideológica dos eleitores de Bolsonaro e Moro", diz Ariane Roder,
cientista política e professora do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em
Administração (Coppead) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ela
diz, no entanto, que essa migração de votos não seria imediata.
"Na
verdade, a transferência de votos de Moro não será automática para Bolsonaro e,
além disso, o ex-juiz pode vir a apoiar algum outro candidato", explica.
A
cientista política e professora do Laboratório de Estudos Eleitorais, de
Comunicação Política e de Opinião Pública da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), Carolina Botelho, também avalia que a saída de Moro deverá
impactar positivamente a campanha de Bolsonaro, que vem mostrando uma reação
nas pesquisas e diminuindo a distância entre ele e Lula.
"Preferencialmente,
esses votos (de Moro) devem ir para Bolsonaro. O PT ganharia pouco com essa
mudança", afirma.
A
avaliação do cientista político e presidente do conselho científico do Ipespe,
Antonio Lavareda, é semelhante à de Carolina e Ariane. Ele salienta, ainda, que
não é só Bolsonaro que poderá se beneficiar. Para ele, a saída de Moro facilita
a construção de uma candidatura unificada no campo da chamada "terceira
via", termo pelo qual ficou conhecido o grupo de políticos que não está
alinhado a Lula ou a Bolsonaro.
"Essa
saída ajuda Jair Bolsonaro, uma vez que muitas intenções de voto de Moro são
situadas à direita do espectro político-ideológico brasileiro. Agora, sem essa
candidatura, vai aumentar a chance de triangulação da disputa e de que a tal
terceira via venha a ser competitiva", afirmou Lavareda.
Prejudicado:
Lula
Os
especialistas são cautelosos, mas avaliam que a candidatura de Lula pode ser
prejudicada pela saída de Moro da corrida presidencial.
Para
Ariane Roder, a desistência momentânea de Moro prejudica a pré-candidatura do
petista tanto por potencialmente fornecer mais votos a Bolsonaro quanto por
abrir uma brecha para uma candidatura competitiva que rompa a disputa entre ele
e o atual presidente ainda no primeiro turno.
"Lula
é habilidoso para o embate com Moro, que no meu entender seria seu principal
inimigo político. Ou seja, acho que Lula estava se preparando para esse
momento. A retirada momentânea de Moro traz uma indefinição sobre se haverá ou
não uma candidatura articulada e potente ao centro", explica Ariane.
O
diretor do instituto de pesquisa de opinião pública Quaest, Felipe Nunes, faz
uma avaliação parecida.
"A
fragmentação de candidaturas diminuía as chances de uma alternativa fora da
polarização Lula-Bolsonaro. A saída de Moro pode simplificar esse quadro e
aumentar as chances de coordenação eleitoral entre aqueles que gostariam de uma
alternativa", explica.
Carolina
Botelho, no entanto, faz uma ressalva sobre os impactos efetivos da saída de
Moro do páreo. Segundo ela, as pesquisas de intenção de voto já vêm apontando
um alto grau de "adesão" a Lula e Bolsonaro.
"Acho
que pode mudar pouca coisa porque os eleitores já têm mostrado uma forte adesão
às candidaturas de Lula e de Bolsonaro, especialmente nas simulações de segundo
turno", afirmou.
Os
especialistas também avaliam que é preciso cautela em relação ao movimento
anunciado nesta semana por Moro. Isto porque o prazo para o registro de
candidaturas para as eleições deste ano se encerra apenas no dia 15 de agosto.
Até lá, há espaço para novas negociações envolvendo Moro e uma eventual
candidatura sua à Presidência.
Na
quinta-feira, por exemplo, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB)
desmentiu os rumores de que iria desistir da corrida presidencial, anunciou que
deixaria o cargo e manteve sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto.
"Não
acho que Moro esteja fora do jogo. Ele recuou para dialogar com outros
pré-candidatos como Doria, e a senadora Simone Tebet (MDB-MS). Não sejamos
inocentes. Não sejamos inocentes. A política é densa. O que se vê é apenas uma
camada superficial do que de fato está ocorrendo nos bastidores", avalia
Ariane Roder.
Com
informações da BBC News
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