Por Steve Rosenberg
Deixe-me
começar com uma admissão. Tantas vezes, pensei: “Putin nunca faria isso”. Então
ele vai e faz.
“Ele
nunca anexaria a Crimeia, certo?” Ele fez.
“Ele
nunca começaria uma guerra em Donbass.” Ele fez.
“Ele
nunca lançaria uma invasão em grande escala da Ucrânia.” Ele lançou.
Concluí
que a frase “nunca faria” não se aplica a Vladimir Putin.
E
isso levanta uma questão desconfortável:
“Ele
nunca apertaria o botão nuclear primeiro. Não é?”
Não
é uma questão teórica. O líder da Rússia acaba de colocar
as forças
nucleares de seu país em alerta “especial”, reclamando de “declarações
agressivas” sobre a Ucrânia por líderes da Otan (Organização do Tratado do
Atlântico Norte).
Ouça
atentamente o que o presidente Putin tem dito. Na quinta-feira (24) passada,
quando anunciou na TV sua “operação
militar especial” (na realidade, uma invasão em larga escala da Ucrânia),
fez um aviso assustador: “Para qualquer um que considere interferir de fora: se
o fizer, enfrentará consequências maiores do que qualquer outra que enfrentou
na história”.
“As
palavras de Putin soam como uma ameaça direta de guerra nuclear”, acredita o
Prêmio Nobel da Paz Dmitry Muratov, editor-chefe do jornal Novaya Gazeta.
Naquele
discurso de TV, Putin não estava agindo como o mestre do Kremlin, mas o mestre
do planeta; da mesma forma que o dono de um carro veloz se exibe girando seu
chaveiro no dedo, Putin estava girando a bomba nuclear. Ele disse muitas vezes:
se não há Rússia, por que precisamos do planeta? Ninguém prestou atenção. Mas
isso é uma ameaça de que, se a Rússia não for tratada como ele quer, tudo será
destruído”, afirmou Muratov.
Em
um documentário de 2018, o presidente
Putin comentou que “… se alguém decidir aniquilar a Rússia, temos o
direito legal de responder. Sim, será uma catástrofe para a humanidade e para o
mundo. Mas sou um cidadão da Rússia e seu chefe de Estado. Por que precisamos
de um mundo sem a Rússia nele?”.
Avanço
rápido para 2022. Putin lançou uma guerra em grande escala contra a Ucrânia,
mas as forças armadas ucranianas estão resistindo
duramente. As nações ocidentais se uniram – para surpresa do Kremlin – para
impor sanções econômicas e financeiras potencialmente incapacitantes contra
Moscou. A própria existência do sistema de Putin pode ter sido colocada em
dúvida.
“Putin
está em apuros”, acredita Pavel Felgenhauer, analista de defesa de Moscou. “Ele
não tem muitas opções, uma vez que o Ocidente congele os ativos do Banco
Central russo e o sistema financeiro da Rússia realmente imploda. Isso tornará
o sistema impraticável. Uma opção para ele é cortar o fornecimento de gás para
a Europa,
esperando que isso faça os europeus descerem. Outra opção é explodir uma arma
nuclear em algum lugar sobre o Mar do Norte entre a Grã-Bretanha e a Dinamarca
e ver o que acontece”.
Se
Vladimir Putin escolhesse uma opção nuclear, alguém em seu círculo próximo
tentaria dissuadi-lo? Ou impedi-lo?
“As
elites políticas da Rússia nunca estão com o povo”, diz o Prêmio Nobel Dmitry
Muratov. “Eles sempre ficam do lado do governante.”
E,
na Rússia de Vladimir Putin, o governante é todo-poderoso. Este é um país
com poucos
freios e contrapesos; é o Kremlin que dá as ordens.
“Ninguém
está pronto para enfrentar Putin”, diz Pavel Felgenhauer. “Estamos em um local
perigoso.”
A
guerra na Ucrânia é a guerra de Vladimir Putin. Se o líder do Kremlin atingir
seus objetivos militares, o futuro da Ucrânia como nação soberana ficará em
dúvida. Se for percebido que ele está falhando e sofrer pesadas baixas, o medo
é que isso possa levar o Kremlin a adotar medidas mais desesperadas.
Especialmente
porque o “nunca faria” não se aplica mais.
Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site da rede britânica BBC
Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.co
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