Foto crédito: Tacilla Medrado
A queda da taxa de câmbio voltava a refletir nesta
quinta-feira (31) o apetite do mercado pelo Brasil. Às 15h03, o dólar caía
0,91%, a R$ 4,7410. Após fechar em alta na véspera, a moeda americana rondava
as cotações do início da pandemia de Covid-19, em março de 2020, e caminhava
para fechar com uma queda trimestral de aproximadamente 15%, a maior desde
junho de 2009.
Assim
como ocorreu na véspera, o dólar perde valor nesta quinta contra quase todas as
moedas de países emergentes. A alta frente ao real nesta quarta (30) foi
exceção.
A
fraqueza da divisa americana demonstra o interesse de investidores
internacionais em faturar com os juros altos que economias em desenvolvimento
estão pagando enquanto os títulos do Tesouro de nações economicamente
desenvolvidas, principalmente os dos Estados Unidos, oferecem retorno negativo
em relação à inflação.
O
real garantia nesta sessão o quarto melhor retorno de juros, atrás apenas do
peso argentino, do rublo russo e da lira turca, nessa ordem. Atualmente a taxa
básica de juros brasileira (Selic) é de 11,75% ao ano, com expectativa de
chegar a 12,75%, frente a uma inflação na casa dos 7%. Ou seja, os juros reais
estão perto de 6% ao ano.
O
apetite de investidores estrangeiros pelos juros pagos pela renda fixa de
países emergentes nesta sessão pode ter respaldo também no plano americano para
frear a inflação global com um despejo de petróleo no mercado. Como subir juros
é a resposta mais elementar dos bancos centrais à alta de preços, um ataque à
principal causa da inflação reduz expectativas sobre aumentos acima do esperado
das taxas de crédito.
PETROBRAS
E VALE SUSTENTAM IBOVESPA
Na
Bolsa de Valores do Brasil, a alta do setor de commodities sustentava ligeiro
avanço de 0,05% do Ibovespa, a 120.500 pontos.
As
ações mais negociadas da Petrobras subiam 1,39%. Os papéis da estatal
brasileira lideravam a lista dos ativos mais movimentados, apesar da queda do
petróleo. A mineradora Vale também aparecia nessa lista, com um ganho de 0,27%.
PETRÓLEO
CAI COM PLANO DE BIDEN PARA LIBERAR RESERVAS DOS EUA
A
administração de Joe Biden está avaliando um plano para liberar aproximadamente
um milhão de barris de petróleo por dia das reservas estratégicas dos Estados
Unidos, disseram fontes ligadas à gestão do presidente americano à agência de
notícias Bloomberg.
Até
180 milhões de barris poderiam ser liberados durante alguns meses. O plano é
usar as reservas para combater a inflação dos combustíveis, que foi acelerada
pela forte valorização da matéria-prima a partir do início da invasão da Rússia
à Ucrânia.
É
a maior liberação de estoques de petróleo da história, segundo informação
atribuída à RBC Capital pelo The Wall Street Journal.
Com
a medida, o governo Biden conseguirá colocar um milhão de barris por dia no mercado,
segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
Os
americanos também planejam liderar outros países na liberação das suas reservas
estratégicas, o que ampliaria de forma maciça a oferta e pressionaria a queda
dos preços.
Com
isso, os preços do petróleo mergulhavam 4,72% nesta quinta-feira (31). O barril
Brent era negociado a US$ 108,09 (R$ 512,04).
A
valorização da commodity no último mês, atingindo as cotações máximas desde
2008, é um dos principais sintomas sobre a visão do mercado de que as sanções à
Rússia, um dos principais exportadores de petróleo e gás natural, podem reduzir
a oferta por um longo período, dando fôlego para a alta da inflação global.
A
Alemanha ativou seu plano de emergência para garantir o abastecimento de gás
diante das ameaças de suspensão do fornecimento russo.
Pelo
segundo dia seguido, a Bolsa de Frankfurt fechou em queda. O índice DAX,
referência do mercado alemão, cedeu 1,31%. O dia também foi de queda nos
mercados de Londres e Paris, que perderam 0,83% e 1,21%, respectivamente.
Nos
Estados Unidos, o indicador de referência para ações negociadas em Nova York, o
S&P 500, recuava 0,58% neste último dia de março. A baixa trimestral se
encaminhava para 3,9%, no primeiro tombo para um fechamento de trimestre desde
março de 2020. Na ocasião, porém, o mercado americano havia afundado 20% devido
ao início da pandemia.
Também
fraquejavam nesta quinta o Dow Jones, que recuava 0,54%, e a bolsa de
tecnologia Nasdaq, com perda de 0,55%.
Desde
o início deste ano o mercado acionário americano está devolvendo ganhos
acumulados ao longo da pandemia. A retomada das atividades econômicas gerou a
maior inflação em 40 anos e obrigou o Fed (Federal Reserve, o banco central do
país) a encerrar um programa de estímulos que injetava dinheiro no mercado por
meio da compra de títulos imobiliários e do Tesouro.
Neste
mês, o Fed também elevou os juros de referência do país pela primeira vez desde
2018, tirando as taxas do zero e indicando mais ajustes até o fim deste ano.
O
aumento foi de 0,25 ponto percentual e, inicialmente, o mercado avaliava que os
próximos ajustes seriam na mesma medida. A pressão inflacionária ampliada pela
guerra na Ucrânia, porém, tem levado analistas a cogitar que o Fed apertará o
crédito de forma mais agressiva.
Elevações
robustas nos juros americanos podem provocar fuga do capital alocado em países
emergentes para a segurança dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, o que só
não está ocorrendo neste momento devido aos juros elevados oferecidos por
economias em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
ALTA
DO CÂMBIO NA VÉSPERA REFLETE AJUSTE DA PTAX
Nesta
quarta-feira (30), o índice de referência da Bolsa de Valores conseguiu
sustentar ligeira alta de 0,20%, a 120.259 pontos, apoiado principalmente no
setor de commodities. Com isso, o Ibovespa manteve o patamar de 120 mil pontos
alcançado na véspera.
O
dólar, porém, fechou em alta de 0,58%, cotado a R$ 4,7850. A desvalorização da
moeda brasileira foi na contramão dos ganhos apresentados pelas principais
moedas de países desenvolvidos e de emergentes frente à divisa americana.
Participantes
do mercado disseram à agência Reuters que a alta do dólar na última sessão está
principalmente relacionada à aproximação do último dia do mês e do primeiro
trimestre, quando o Banco Central calcula a Ptax. Trata-se de uma taxa de
câmbio que serve de referência para liquidação de derivativos.
No
fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis
mais convenientes às suas posições, e, nesta quarta-feira, os comprados em
dólar que apostam na valorização da moeda americana prevaleceram.
O
economista Igor Lucena também atribuiu a alta do dólar nesta quarta a um
movimento momentâneo de investidores estrangeiros rumo a ativos ligados à moeda
americana, que oferecem maior segurança em períodos de aumento dos riscos
globais, como é o caso dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
Com
a continuidade da guerra pressionando a inflação, o potencial de retorno desses
papéis cresce devido à necessidade de elevação dos juros para a contenção da
alta dos preços.
"Apesar
de uma tendência de baixa [do dólar frente ao real] desde o início do ano, em
alguns momentos, temos esses movimentos de subida. Isso ocorre quando, por
exemplo, investidores percebem que a guerra não vai acabar tão cedo e, com
isso, fogem para papéis ligados à inflação e a moedas", comentou.
Um
dia após negociações entre representantes de Rússia e Ucrânia criarem
expectativas sobre uma trégua na guerra devido a alguns avanços em negociações
realizadas na terça-feira (29), a esperança do mercado sobre a redução dos
riscos econômicos gerados pelo conflito desvaneceu.
Apesar
das promessas de "redução drástica" da atividade militar russa em
Kiev e Tchernihiv, autoridades ucranianas relataram ataques nos arredores das
duas cidades e em outros pontos do país. Bolsas da Europa e dos Estados Unidos
fecharam em baixa.
Em
Nova York, o índice S&P 500, referência para as ações americanas, caiu
0,63%. Os indicadores Dow Jones e Nasdaq perderam 0,19% e 1,21%,
respectivamente.
Na
Europa, o indicador que acompanha as 50 maiores empresas da zona do euro perdeu
1,08%. As Bolsas de Paris e Frankfurt caíram 0,74% e 1,45%, nessa ordem.
Londres subiu 0,55%.
"Nós
estamos céticos quanto à esperança", disse Lisa Shalett, diretora de
investimentos do Morgan Stanley, para a rede de televisão Bloomberg, após
Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, ter afirmado que ainda falta muito
trabalho antes de um acordo com a Ucrânia, reforçando as dificuldades para
alcançar o cessar-fogo.
Apesar
dos sinais de recuperação dos últimos dias do mercado americano, revelando o
desejo de investidores de "comprar na baixa" após um processo de
correção das altas de 2021, o risco para os investimentos é uma realidade
diante de um problema geopolítico, segundo Shalett.
Com informações da FolhaPress.
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