O
jornalista Peter Jouvenal, com dupla cidadania britânica e alemã, é prisioneiro
do Taleban desde
dezembro de 2021. Casado com uma afegã que hoje vive na Inglaterra com as três
filhas do casal, ele teria sido preso a mando de Abdul Haq Wasiq, diretor de
inteligência talibã, ampliando uma lista que conta com mais de uma dezena de
ocidentais detidos pelos radicais. As informações são da organização
jornalística Who What Why.
A
prisão ocorreu quando Jouvenal visitava uma casa que pretendia alugar em Cabul.
Ele visitou o Afeganistão pela
primeira vez há mais de 40 anos, para cobrir a guerra Afegã-Soviética, tendo
trabalhado para a norte-americana CBS News e a britânica BBC. Posteriormente,
converteu-se ao Islamismo e casou com a afegã Hassina.
O jornalista enxergou
a ascensão dos talibãs ao poder como uma oportunidade de investir no
Afeganistão, devido à necessidade de o novo governo atuar na recuperação
econômica de um país com as finanças arrasadas. Particularmente, pensava em
atuar no trilionário ramo
da mineração, que já atraiu o interesse
da China.
À
parte a atuação como empresário, Jouvenal também seguia no ramo jornalístico,
sempre com o objetivo de mostrar ao mundo as necessidades da população afegã,
que vive uma das mais graves crises
humanitárias do mundo atualmente.
Desde
que ele foi detido, as informações oficiais são poucas. As especulações sugerem
até mesmo que foi preso acusado de ligação com a Al-Qaeda, pelo fato de ter
sido membro da equipe que entrevistou Osama bin Laden nos anos 1990.
Embaixadores britânicos têm sido autorizados a visitar o jornalista, mas por
breves períodos de não mais do que 15 minutos. Ele chegou a conversar
brevemente com a mulher por telefone.
De
acordo com algumas fontes, Jouvenal e outros prisioneiros vivem em celas
pequenas e quase sempre escuras, devido à escassez de energia elétrica. A
alimentação se resume a arroz cozido, eventualmente misturado com um pouco de
feijão. O jornalista estaria com problemas de saúde.
Há,
entretanto, dois fatores que geram otimismo quanto à eventual libertação do
jornalista: os fatos de ser muçulmano e amplamente reconhecido como um grande
conhecedor do Afeganistão e sua história. Inclusive, ele há tempos prega que o
Ocidente precisa adotar uma abordagem diferente em relação ao movimento
militante islâmico. Inclusive dialogando com o próprio Taleban: “A menos que
você os inclua no processo, você nunca terá paz ou um acordo político no
Afeganistão”, costuma dizer ele.
Por
que isso importa?
O
trabalho jornalístico tem sido seriamente afetado pela repressão imposta pelo
Taleban no Afeganistão. Ao menos seis pessoas foram presas pelo grupo radical
em 2022 por serem jornalistas ou colaborarem com profissionais da área. No dia
6 de janeiro, três repórteres foram detidos enquanto trabalhavam na cobertura
de manifestações contra o Taleban na província de Panjshir. Eles
estavam a serviço de um canal no YouTube chamado Kabul Lovers,
com aproximadamente 244 mil inscritos.
Em
outro caso registrado neste ano, o Taleban prendeu Faizullah Jalal, professor
de Direito e ciência política da Universidade de Cabul, em 8 de janeiro. Ele
foi detido por quatro dias sob acusações de fazer declarações “sem sentido” e
“incitar” pessoas contra os talibãs. Depois de solto, Jalal disse ter sido
preso por ter discutido com um porta-voz talibã em um debate na televisão.
Aslam Ejab e Waris Hasrat, da Ariana TV, são as vítimas
mais recentes da repressão talibã à mídia.
Números
mostram que o jornalismo afegão tem sido sufocado pelo Taleban. Em dezembro de
2021, uma pesquisa conduzida em parceria pela ONG Repórteres
Sem Fronteiras (RSF) e pela Associação de Jornalistas Independentes do
Afeganistão (AIJA) apontou que 231 veículos de imprensa foram fechados e mais
de 6,4 mil jornalistas perderam o emprego no Afeganistão desde o dia 15 de
agosto, quando o Taleban assumiu o poder no país.
Os
dados apontam que mais de quatro em cada dez veículos de comunicação
desapareceram nesse período, e 60% dos jornalistas e funcionários da mídia
estão impossibilitados de trabalhar. As mulheres
sofreram muito mais: 84% delas perderam o emprego, contra 52% no caso dos
homens. Entre as 34 províncias do país, em 15 delas não há sequer uma mulher
jornalista trabalhando atualmente.
Dos
543 meios de comunicação registrados no Afeganistão antes da ascensão talibã,
apenas 312 ainda operavam no final de novembro. Isso significa que 43% dos
meios de comunicação afegãos desapareceram em
um espaço de três meses. Das 10.790 pessoas que trabalhavam na mídia afegã
(8.290 homens e 2.490 mulheres) no início de agosto, apenas 4.360 (3.950 homens
e 410 mulheres) ainda estavam trabalhando quando a pesquisa foi realizada.
Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com
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