Captura de tela feita em 17 de fevereiro de 2022 de uma publicação no Facebook ( . / )
“Interessante ver a Organização Mundial da Saúde pedindo desculpas porque não autorizou o uso da cloroquina, da azitromicina. Que covardes! Muita gente morreu por causa de vocês”, diz o apresentador Sikêra Júnior no vídeo compartilhado no Facebook (1, 2, 3) e Twitter (1, 2).
Uma
busca reversa de fotogramas da gravação - que é um trecho do programa Alerta
Amazonas, da TV A
Crítica - mostra que as imagens começaram a circular em junho de 2020. Na época,
o conteúdo chegou a ser compartilhado pelo deputado Eduardo Bolsonaro
(PSL), no Twitter. "O
golpe da pandemia", por @sikerajr . Tá errado?”, escreveu o filho do
presidente Jair Bolsonaro (PL).
O
período em que o vídeo começou a circular coincide com a data de uma coletiva
de imprensa em que o diretor-executivo do Programa de Emergências da
OMS, Michael Ryan, mencionou um dos remédios citados nas publicações e pediu
desculpas. Mas a declaração do oficial da OMS não possui mais nenhuma
semelhança com o alegado nas redes.
Origem
da desinformação
Em
5 de junho de 2020, Michael Ryan foi questionado sobre mudanças em pesquisas
científicas que poderiam parecer “conflitantes” para o público leigo, como
a retratação de
um estudo da revista The
Lancet que havia indicado que o uso da hidroxicloroquina ou da cloroquina não
trazia nenhum benefício contra a covid-19 e ainda poderia gerar um risco de
cardíaco.
O
resultado do estudo motivou a OMS a suspender temporariamente seu ensaio clínico com a
hidroxicloroquina por questões de segurança, em 25 de maio de 2020. Pouco tempo
depois, no entanto, a conclusão da pesquisa precisou ser retirada da The Lancet
devido a problemas com a base de dados utilizada para
fundamentar a análise. Com isso, o ensaio clínico da OMS foi retomado em junho de 2020.
No
começo da crise sanitária a OMS lançou uma iniciativa chamada Solidarity (Solidariedade)
com o objetivo de identificar se medicamentos já fabricados, inclusive a
hidroxicloroquina, poderiam ser usados para neutralizar o vírus. No entanto,
até o momento não existe eficácia comprovada dos medicamentos na prevenção ou
tratamento da doença.
“A
OMS e OPAS [Organização Pan-Americana da Saúde] continuam a analisar as
evidências produzidas sobre o tema, de modo a prover os países e suas
populações com informações baseadas na ciência”, afirmou a assessoria de
imprensa da OPAS à AFP no dia 16 de fevereiro de 2022.
Em resposta ao jornalista na
coletiva em 5 de junho de 2020, Ryan defendeu a atitude tomada pela OMS
explicando que o órgão se baseou em uma revista científica “confiável” que
publica artigos revisados por pares que, em sua grande maioria, não são
retratados. Mas, destacou o diretor-executivo do Programa de Emergências da
OMS, quando há problemas com os dados que embasaram um estudo, “o correto
é que o jornal retire o artigo”.
“Isso
é fazer a coisa certa. Eu sei que isso às vezes pode dar a impressão de que a
comunidade científica está confusa ou dando mensagens contraditórias e por isso
nós todos pedimos desculpas coletivamente a todos vocês, mas devemos seguir a
ciência, devemos seguir as evidências e estamos absolutamente dedicados a
garantir que as pessoas que entram em ensaios clínicos estão entrando em
ensaios seguro”, afirmou Ryan.
O
pedido de desculpas do oficial da OMS não foi, portanto, por não ter
recomendado o uso da hidroxicloroquina ou da azitromicina contra a covid-19.
Uma
busca por palavras-chave também não localiza nenhuma publicação recente do
órgão “se desculpando” por não recomendar os medicamentos para tratar
a covid-19.
Ao
AFP Checamos, a assessoria da OPAS, organização internacional de saúde pública
dependente da OMS, negou que tenha aconselhado o uso desses medicamentos contra
o coronavírus.
“Essa
informação é falsa. Não houve qualquer pedido de desculpas. A Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) não
recomendam o uso de hidroxicloroquina e azitromicina para profilaxia ou
tratamento de pessoas com COVID-19, por falta de evidências robustas que
demonstrem a eficácia desses medicamentos contra a COVID-19”, afirmou.
A
versão mais recente do relatório “Atualização
contínua da terapia potencial COVID-19: resumo de revisões sistemáticas
rápidas”, publicada em 26 de janeiro de 2022 pela OMS e pela Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS), afirma que estudos preliminares não mostraram
benefícios do uso da hidroxicloroquina e da azitromicina em pacientes com a
doença.
“A
OMS e OPAS continuam a analisar as evidências produzidas sobre o tema, de modo
a prover os países e suas populações com informações baseadas na ciência”,
acrescentou a assessoria do órgão ao Checamos.
A
ivermectina é um medicamento utilizado no tratamento de doenças infecciosas,
como sarna, oncocercose ou piolhos. Já a hidroxicloroquina, derivada da
cloroquina, é usada para tratar enfermidades como malária, lúpus e artrite
reumatoide. Desde o início da pandemia, estudos têm sido realizados para
analisar se o uso de ivermectina e hidroxicloroquina em indivíduos infectados
pelo SARS-CoV-2 traria algum benefício contra a doença. No entanto, até o
momento, não há estudos suficientes que comprovem o benefício da ivermectina e
hidroxicloroquina na prevenção ou tratamento em qualquer estágio da covid-19.
Artigo publicado pela OMS em 2 de
março de 2021“faz uma recomendação forte contra o uso de
hidroxicloroquina” na prevenção da doença, após a análise de seis estudos.
Embora
um estudo australiano
publicado em abril de 2020 tenha observado uma eficácia in vitro (laboratório)
da ivermectina contra o vírus SARS-CoV-2, sua eficácia em humanos ainda não foi
comprovada. Em 31 de
março de 2021, a OMS emitiu um outro documento, desta vez sobre a
administração da ivermectina em infectados pelo novo coronavírus, e aconselhou
a não usar o remédio em pacientes com covid-19, exceto no contexto de um ensaio
clínico.
A
AFP já publicou outras verificações mostrando que esses medicamentos não são
eficazes contra a covid (1, 2, 3).
Peça
de desinformação semelhante também foi verificada pelo projeto Comprova (do qual o AFP Checamos faz parte) e
pelo Aos Fatos.
Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com
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