Da Redação
Podem
comportar-se como amigos em privado, mas não o farão em público. Ambos estão
numa posição difícil. Tillerson, tal como Donald Trump, tem de fazer a expiação
da sua amizade passada com a Rússia. Trump mostrou essa distância com o ataque
à Síria e Tillerson tem vindo a fazê-lo com a condenação do alegado papel da
Rússia na utilização de armas químicas por parte de Assad. Atacou a Rússia pela
"cumplicidade" ou pela "incompetência". São declarações
significativas e curiosas para um membro de um governo que sabe algumas coisas
quer sobre cumplicidade quer sobre incompetência. As informações são da CNN Brasil .
Putin está a enviar um sinal simbólico. Ele poderá ter esperado por relações mais amigáveis com a administração Trump, mas já percebeu que isso não irá acontecer. Neste momento, nos EUA, não há espaço para uma amizade com a Rússia. A comunicação social está com uma atitude histérica anti-Rússia e Trump rodeou-se de russofóbicos. Eu sabia que isto iria acontecer, só não esperava que fosse tão rápido. Durante a campanha eleitoral, visitei a Rússia por quatro vezes e falei com vários grupos académicos, além de ter dado entrevistas a vários meios de comunicação russos. Avisei os meus colegas de que Trump é um homem vulgar, vazio, impulsivo, com má índole, oportunista e preconceituoso. Até podia parecer um amigo, mas depois de estar contra a Rússia é muito mais perigoso do que seria Clinton. Eles na altura não concordavam comigo, mas agora julgo que já terão aprendido a lição.
É
real o perigo de um conflito entre EUA e Rússia?
É
real e é assustador. Os especialistas do Bulletin of the Atomic Scientists
sabiam o que estavam a fazer quando acertaram o relógio do apocalipse para dois
minutos antes da meia-noite - o mais perto que já estivemos de um conflito
nuclear desde 1952. Eu já estava muito preocupado quando Hillary Clinton
defendeu uma zona de exclusão aérea na Síria. O próprio general Dunford, o
chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, avisou que isso levaria à
guerra com a Síria e com a Rússia... Agora, depois dos bombardeamentos, não sei
o que Trump terá em mente para o segundo ato. Para já, é certo que a sua taxa
de aprovação irá subir e conseguiu que a comunicação social começasse a falar
de outra coisa que não apenas da incompetência do seu governo.
Desse
ponto de vista o ataque resultou?
Sem
dúvida. Antes só se falava da incapacidade da administração e agora as atenções
estão centradas no ataque corajoso que foi feito em nome de valores mais altos.
Confesso que o espetáculo é confrangedor. Quem é que ele vai atacar a seguir? O
Irão? A Coreia do Norte? De novo a Síria? Neste momento a Síria parece o
pretexto mais óbvio para um confronto entre os EUA e a Rússia, mas também
existem outras situações instáveis e por resolver, nomeadamente na Ucrânia e
nos países Bálticos, com o destacamento de tropas da NATO. Não nos podemos
esquecer de que a Rússia colocou mísseis com capacidade nuclear em
Kaliningrado.
A
Coreia do Norte é outra questão complicada...
Trump
ameaçou que lidaria com o assunto se a China não resolvesse a questão. Antes da
Síria essa parecia ser a questão mais explosiva. Seul é uma das cidades mais
populosas do mundo e está completamente à mercê da artilharia norte-coreana.
Também neste caso, tal como na Síria, não existe uma solução militar para o
problema. Precisamos com urgência de diplomacia, mas ainda não vimos sinais de
que Trump seja capaz de ser diplomático. Ainda não vimos nenhum sinal que
indique que ele é capaz de pensar de forma estratégica e de antecipar as
consequências das suas ações. É assustador que alguém tão instável e impetuoso
possa ter o dedo no botão nuclear.
E
Tillerson?
Durante
os primeiros 70 dias de governo deve ter estado num programa qualquer de
proteção de testemunhas porque ninguém o viu nem o ouviu. Agora aparece como o
todo-poderoso Rex, para lutar contra a Rússia, contra as armas químicas e
defender os inocentes no mundo. A confirmar-se será uma mudança positiva, uma
vez que antes, enquanto chefe da Exxon Mobil, proteger inocentes e não
envenenar o planeta eram objetivos que estavam bastante abaixo na sua escala de
prioridades.
Para ler mais acesse, www:
professortacianomedrado.com
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