Em
duas semanas, o Brasil pode chegar a um milhão de pessoas infectadas por dia
com Covid. A projeção, feita pela Universidade de Washington (EUA), considera
que os casos são muito superiores aos dados oficiais e devem mais do que dobrar
em 15 dias.
O
país vive um apagão de números sobre a doença, portanto não se sabe o tamanho
da onda de contaminações impulsionada pela variante ômicron atualmente. Isso
porque os sistemas de notificação do Ministério da Saúde estão instáveis há um
mês, após ataques hackers, e não há uma política ampla de testagem.
A
universidade estima que 468 mil pessoas tenham sido infectadas no Brasil apenas
nesta sexta (7), incluindo aquelas que não fizeram exames. A quantidade é quase
nove vezes superior aos testes positivos registrados pelos estados nas últimas
24 horas (53.419, segundo o consórcio de veículos de imprensa).
Seguindo
a projeção, o país deve chegar a 1 milhão de infectados no dia 23 de janeiro e
a um pico de 1,3 milhão em meados de fevereiro.
A
estimativa é dez vezes maior do que o número registrado no auge da doença no
Brasil, em março do ano passado, quando foram quase 100 mil casos positivos por
dia.
Segundo
a epidemiologista Fátima Marinho, integrante da rede de pesquisadores que envia
os dados brasileiros à Universidade de Washington, a projeção é baseada num
cálculo complexo, considerando vários fatores de cada país, e é bastante
confiável a curto prazo.
"Esse
aumento para 1 milhão em duas semanas é plausível, porque o modelo aplica o que
já se sabe da doença nos EUA e na Europa, por exemplo, que têm números muito
apurados. Na Inglaterra o teste é gratuito em qualquer farmácia e vai direto
para o sistema do governo", diz.
De
acordo com ela, é esperado que a doença siga neste ano o mesmo caminho dos últimos
dois anos: um aumento durante o inverno no hemisfério norte, depois uma alta
nas transmissões no Brasil em janeiro e fevereiro, com um pico em março.
"Vamos
repetir, como temos repetido todo ano. Não tem por que o cenário ser diferente
dos outros anos e dos outros países. É impressionante que o governo não faça
nada, sabendo antecipadamente o que vai acontecer", critica a professora
da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
O
ritmo de crescimento projetado para as mortes, porém, é muito inferior. Os
cálculos indicam que o país pode chegar a 313 óbitos diários por Covid em duas
semanas, apenas 12% a mais do que as 279 mortes estimadas para esta sexta.
Ainda assim, a projeção é bastante superior ao registro oficial dos estados,
que foi de 148 nas últimas 24 horas.
Segundo
especialistas, a menor letalidade da doença está ligada à menor gravidade da
variante ômicron e ao avanço da cobertura vacinal no país. O Brasil tem 78% da
população com ao menos uma dose da vacina, 68% com o primeiro ciclo de
imunização completo e 13,4% com o reforço.
Os
dados registrados pelos estados indicam que, enquanto a média móvel de casos
cresceu 477% em relação aos dados de duas semanas atrás, a média de mortes
continua estável, ou seja, não teve variações superiores a 15% nesse período.
"Felizmente,
temos a vacina para evitar uma tragédia como a que vimos no ano passado, em
relação às mortes. Mas, se quisermos o controle da situação e evitar que novos
óbitos ocorram, precisamos saber a quantidade de casos. Com a política atual de
testagem, não teremos esse controle", diz Domingos Alves, professor da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.
Para
os especialistas, exatamente pela falta de testagem no país, os dados oficiais
não devem alcançar os da projeção. No entanto, eles dizem que, mesmo com a
subnotificação, o registro de casos confirmados deve dobrar até a próxima
semana.
"O
dado oficial nunca vai chegar nem perto do número real de infectados porque não
testamos. As informações que teremos nos próximos dias serão apenas daquelas
pessoas que se infectaram e tiveram sintomas mais graves e, por isso, foram
testadas", diz Wallace Casaca, coordenador do Infotracker, projeto da USP
e Unifesp que monitora a pandemia.
Os
especialistas explicam que a subnotificação ocorre principalmente pela falta de
testagem em massa, o que leva, em geral, à contabilização apenas dos
sintomáticos moderados a graves, e a um atraso, ou, muitas vezes, à ausência
completa do registro dos casos.
O
sanitarista Christovam Barcelos, um dos coordenadores da plataforma
MonitoraCovid19, da Fiocruz, também chama a atenção para o enorme gargalo que
se formou a partir do apagão dos sistemas de notificação desde 10 de dezembro.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prometeu normalizar a situação até a
próxima semana.
"O
apagão não foi só o ataque às nuvens. Está na origem, atrasando a entrada de
notificações nas unidades de saúde privadas e públicas. Então mesmo que todos
os sites voltem, existe ainda muito dado represado. Portanto, nas próximas
semanas, veremos uma explosão de casos que pode ser falsa também, porque são
números de dezembro que só foram digitados em janeiro", diz.
Ele
ressalta que já se percebia um aumento de infecções desde o início de dezembro,
apesar de isso não ter transparecido nas estatísticas oficiais. Dados de
hospitais particulares, alta na positividade de testes e até um questionário
aplicado pelo Facebook aos usuários indicaram mais pessoas com sintomas naquele
momento.
"Isso
piorou principalmente com as festas de fim de ano, a partir de 20 de dezembro.
As pessoas esquecem que festa não é só uma noite de Natal ou Ano-Novo, é uma
sequência de eventos e viagens", lembra.
Ainda
que os dados oficiais não deem conta de dimensionar o tamanho do surto,
diversas localidades do país já registram pressão nos sistemas de saúde e
voltaram a adotar medidas emergenciais.
O
governo do Ceará, por exemplo, suspendeu cirurgias eletivas e a Prefeitura de
São Paulo voltou a montar tendas para atendimento de pacientes.
Com informações da FolhaPress
Para ler mais
acesse, www: professortacianomedrado.com
AVISO: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Blog do professor Taciano Medrado. Qualquer reclamação ou reparação é de inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não respeitem os critérios podem ser removidos sem prévia notificação.
Postar um comentário