Da Redação
O
Plenário do Senado aprovou, por 34 votos a favor e 32 contra, o Projeto de
Resolução que altera as regras das emendas de relator no Orçamento (emendas
RP9), conhecidas como "orçamento secreto", limitando o volume de
recursos. Antes, os deputados federais também aprovaram o projeto por ampla maioria.
Apesar
de o texto tornar obrigatória a identificação dos parlamentares a partir de
2022, os nomes dos solicitantes das emendas de 2020 e 2021 continuarão sob
sigilo.
As
verbas estão suspensas por determinação do Supremo Tribunal Federal, em decisão
que também obriga o Congresso Nacional, a Presidência da República, a Casa
Civil da Presidência da República e o Ministério da Economia a tornar públicos,
no prazo de 30 dias, os documentos encaminhados aos órgãos e às entidades
federais que embasaram as demandas ou resultaram na distribuição de recursos
provenientes das emendas.
O PRN 4/2021 segue agora para promulgação na
forma do substitutivo, apresentado pelo relator no Congresso, o senador Marcelo
Castro (MDB-PI). Ele rejeitou todas as 22 emendas apresentadas. Castro disse
que as emendas de relator-geral no Orçamento sempre existiram, mas que
considera excessivo o volume de recursos dos últimos anos.
Ele
afirmou que seu substitutivo dará "transparência absoluta” para essas
emendas a partir de agora, e limitará o valor delas. O senador explicou que o
projeto de resolução busca dar cumprimento à liminar concedida pelo Supremo
Tribunal Federal a pedido dos partidos Cidadania, PSOL e PSB.
"O
Supremo Tribunal Federal, eu entendo que em boa hora, cobrou desta Casa a
transparência total desses recursos de RP9, o que eu acho que foi um ganho, e
interpreto isso como sendo assim um freio de arrumação que deu o STF, fazendo
com que, daqui para a frente, o Congresso Nacional possa identificar de maneira
clara, insofismável, quem foi o solicitante daquele recurso. Nós estamos
atendendo 100% à decisão do Supremo Tribunal Federal", afirmou Marcelo
Castro.
Daqui pra frente
O substitutivo apresentado pelo relator determina que as mudanças só valerão
para o Orçamento de 2022, ou seja, não abrangem as emendas de 2020 e 2021.
"O passado não está na Resolução. A Resolução não tem poder para
isso", ponderou Castro. O relator observou que ato conjunto das Mesas da
Câmara e do Senado já decidiu, na sexta-feira (26/11), ser impossível
estabelecer retroativamente um procedimento para registro das emendas.
O
PRN 4/2021 teve origem nesse documento, o Ato Conjunto das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal 1/2021, publicado para "dar cumprimento à decisão judicial e
garantir maior publicidade e transparência à execução orçamentária das despesas
classificadas com o indicador de Resultado Primário (RP) 9 (despesa discricionária
decorrente de emenda de relator-geral) das Leis Orçamentárias Anuais de 2020 e
2021". O ato também publicou mais de 600 páginas com emendas RP9 desses
anos, sem indicação dos solicitantes.
O
ato das Mesas informa que há "risco grave, iminente e irreparável,
decorrente da não execução orçamentária" dessas emendas até o fim de 2021.
Castro alertou para a ameaça de paralisação de obras por causa da decisão do
STF.
Neste
ano, foram empenhados R$ 9,3 bilhões em emendas de relator, sendo que quase a metade
foi para Saúde. Além disso, R$ 7,6 bilhões de emendas ainda não foram
empenhados. As autoridades responsáveis têm até sexta-feira (3/12) para indicar
os montantes dos cronogramas de pagamento que serão utilizados ainda neste ano.
O
texto aprovado permite ao relator-geral "realizar indicações para execução
das programações" oriundas de solicitações recebidas "de
parlamentares, de agentes públicos ou da sociedade civil". Solicitações e
indicações terão que ser publicadas individualmente "e disponibilizadas em
relatório em sítio eletrônico pela Comissão Mista de Orçamento (CMO) e
encaminhadas ao Poder Executivo".
A
CMO já publicou dados relativos a 2020 e 2021. O presidente do
Senado, Rodrigo Pacheco, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
enviaram petição ao STF solicitando o restabelecimento dessas emendas na
execução do Orçamento. A relatora no tribunal é a ministra Rosa Weber.
Críticas
Os senadores Alvaro Dias (Podemos-PR), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Alessandro
Vieira (Cidadania-SE), Lasier Martins (Podemos-RS), Reguffe (Podemos-DF), José
Aníbal (PSDB-SP), Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), Jean Paul Prates (PT-RN),
Cid Gomes (PDT-CE), criticaram a proposta por entenderem que os solicitantes de
emendas em 2020 e 2021 também precisam ser identificados. Reclamaram, ainda,
que há muitos vetos presidenciais pendentes de apreciação pelo Congresso e que
eles teriam prioridade de votação.
Diversos
parlamentares afirmaram que vão recorrer ao STF contra a aprovação da
resolução.
Alvaro
Dias defendeu a extinção das emendas de relator. "O projeto é uma anistia
para atos praticados anteriormente e garantia de clandestinidade no repasse de
recursos públicos", criticou. Reguffe disse que as emendas RP9
"desmoralizam o Poder Legislativo" pela falta de transparência.
O
substitutivo aprovado determina um teto para o valor das emendas de relator
equivalente à soma das emendas impositivas individuais e de bancada. Caberá à
CMO definir anualmente o limite do relator-geral.
O
Projeto de Lei Orçamentária para 2022 reserva R$ 10,5 bilhões para emendas
individuais e R$ 5,7 bilhões para emendas de bancada estadual. Com isso, as
emendas de relator-geral do Orçamento teriam um teto de R$ 16,2 bilhões no
Orçamento do ano que vem. O valor é próximo das emendas de relator deste ano,
que têm uma dotação de R$ 16,8 bilhões.
O
valor das emendas de relator é decidido na votação do parecer preliminar do
Projeto de Lei Orçamentária. Castro observou que a Comissão pode decidir por um
valor inferior ao teto. "Em 2018, o relator-geral não apresentou
emendas", acrescentou.
As
indicações deverão ser compatíveis com o Plano Plurianual (PPA) e com a Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO), e estar de acordo com a legislação aplicável à
política pública a ser atendida.
Para
a senadora Simone Tebet (MDB-MS), o Congresso estava “rasgando a Constituição”.
Em sua opinião, o limite do valor total das emendas de relator continuará muito
alto.
Os senadores Esperidião Amin (PP-SC), Eduardo Girão (Podemos-CE) e Paulo Rocha (PT-PA) também anunciaram voto contrário ao projeto. Girão defendeu a extinção das emendas de relator-geral no Orçamento. Amin lembrou a CPI dos Anões do Orçamento, em 1993-94. Com informações da Agência Senado e Agência Câmara.
Texto: Revista Consultor Jurídico
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