O líder supremo da
Coreia do Norte, Kim Jong-un, em escola militar de Pyongyang, junho de 2014
(Foto: Divulgação/Prachatai)
Da Redação
Durante
30 anos, Kim Kuk-song foi um importante agente da inteligência da Coreia do Norte. Ao longo
desse período, ele alega ter comandado missões para assassinar desertores no
exterior e coordenado a construção de um laboratório para produzir drogas
ilegais que posteriormente seriam exportadas. Depois de fugir do país, em 2014,
passou a trabalhar para os rivais sul-coreanos. Agora, decidiu revelar alguns
dos segredos mais bem guardados do mundo, em depoimento à rede britânica BBC. As informações são do site de notícias internacionais A Referência .
O
ex-espião norte-coreano conta que ocupou cargo importante na RGB (Agência Geral
de Reconhecimento, da sigla em inglês), a agência de inteligência
norte-coreana. A missão que julga a mais importante sob seu comando foi o
assassinato de Hwang Jang-yop, outro ex-espião que havia desertado
para o Sul. À época, o presidente Kim Jong-il estava doente, e o filho Kim
Jong-un, hoje o líder nacional, já havia sido o escolhido para suceder o pai no
poder.
“Para
Kim Jong-un, [a morte do desertor] foi um ato para satisfazer o líder supremo.
Uma ‘Força Terror’ foi formada para assassinar Hwang Jang-yop em segredo. Eu
dirigi e executei pessoalmente o trabalho”, conta o ex-agente. “Na Coreia do
Norte, o terrorismo é uma ferramenta política que protege a mais alta dignidade
de Kim Jong-il e Kim Jong-un. Foi um presente para demonstrar a lealdade do
sucessor ao seu grande líder”.
Mas
a missão secreta deu errado, e os responsáveis por executar o desertor foram
presos. Ainda cumprem uma pena de dez anos de prisão em Seul, enquanto
Pyongyang mantém a versão de que jamais teve qualquer responsabilidade no caso.
E trata a questão como uma grande encenação da Coreia do Sul para
denegrir a imagem do Norte.
Outro
caso notório que, segundo Kim, teve ordens do supremo líder norte-coreano foi o
naufrágio do navio sul-coreano Cheonan, atingido por um torpedo em 2010. O
ex-espião nega participação na missão, que terminou com a morte de 46 pessoas.
E, embora não tenha presenciado qualquer ordem partindo de Kim Jogn-un, diz que
é possível fazer essa suposição. “Este tipo de trabalho militar é projetado e
implementado por ordens
especiais de Kim Jong-un. É uma conquista”, diz ele.
Atualmente,
segundo Kim, Pyongyang tem investido cada vez menos nesse tipo de operação
clássica de espionagem. O espiões deram lugar a hackers, e as missões em solo
estrangeiro foram substituídas por ataques cibernéticos. Acredita-se que o país
conte atualmente com uma equipe estatal de cerca de seis mil hackers muito bem
treinados. “A Universidade Moranbong escolhe os alunos mais brilhantes de todo
o país e os coloca em um treinamento
especial de seis anos”, diz o desertor.
Tráfico
de drogas
O
maior desafio do líder norte-coreano é gerar dinheiro. O país é um dos mais
pobres do mundo, e as sanções impostas por governos ocidentais reduzem
consideravelmente as possibilidade de gerar riqueza. Isolada do mundo, a Coreia
do Norte conta com suporte
eventual e insuficiente de aliados como Irã, China e Rússia. Em busca
de alternativas, Kim Jong-un já recorreu ao tráfico de drogas e de armas.
“Depois
de ser designado para a tarefa, eu trouxe três estrangeiros para a Coreia do
Norte, construí uma base de produção no centro de treinamento do escritório de
ligação 715 do Partido dos Trabalhadores e produzi drogas”, diz ele, afirmando
que a produção era focada em metanfetaminas, cujo lucro obtido com o tráfico
era repassado ao líder nacional.
Já
as negociações de armamentos eram direcionadas sobretudo ao Irã. Até hoje, a
Coreia do Norte é tida como uma grande desenvolvedora de armas de destruição em
massa, driblando inclusive as sanções globais impostas ao país. Em meados de
setembro, por exemplo, Pyongyang testou um novo sistema de mísseis
de longo alcance com capacidade para atingir alvos a até 1,5 mil
quilômetros de distância.
Deserção
Kim
conta que a decisão de deixar a Coreia do Norte veio após a morte de Jang
Song-thaek, tio do atual
líder. Ele era visto como uma ameaça ao poder do sobrinho, por isso foi
executado. “Eu imaginava que ele seria banido para o campo”, afirma o
ex-espião, que diz ter ficado surpreso ao saber da execução através da TV
estatal norte-coreana. “Imediatamente senti que minha vida estava em perigo. Eu
sabia que não poderia mais existir na Coreia do Norte”.
Segundo
o desertor, a decisão de conceder a entrevista e revelar os segredos que
carregou por tantos anos é uma forma de tentar ajudar seus compatriotas. “Este
é o único dever que posso cumprir”, diz ele. “Serei mais ativo a partir de
agora para libertar meus irmãos do Norte das garras da ditadura e para que eles
desfrutem de verdadeira liberdade”.
Por
que isso importa?
A
libertação da Coreia do Norte do domínio colonial do Japão, após o final da Segunda
Guerra Mundial, em 1948, elevou Kim Il-sung à posição de líder supremo do país.
Sua morte, em 1994, deu lugar a Kim Jong-il, que serviu por 17 anos até sucumbir
a um ataque cardíaco em 2011. Assim, a família se mantém no poder absoluto há
três gerações, numa das ditaduras mais antigas do mundo.
Kim
Jong-un, então com 28 anos, assumiu o poder em 2011. As especulações sobre a
capacidade do jovem ditador em manter a estabilidade
do regime logo foram afastadas com a sua consolidação no poder. Ele
foi rápido em instalar sua própria equipe de correligionários, revigorar o
partido como órgão político central e recuperar o poder das facções de elite
que, até então, haviam conquistado uma autoridade delegada por Kim Jong-il.
Os
expurgos foram efetivos devido à opacidade informativa. Pouco se sabe de casos
brutais, como a execução de Jang Song-thaek, em 2013, e do ex-ministro de
Defesa Hyon Yong-chol, em 2015. Outros casos menos graves envolvem
aposentadoria ou desaparecimentos
forçados.
A
própria vida pessoal de Kim Jong-un é um mistério. Acredita-se que o ditador
tenha três filhos com a esposa Ri Sol-ju – vista raramente. Sequer se sabe o
sexo do filho caçula, que tem um irmão e uma irmã mais velhos. Raras evidências
apontam ainda que Kim sofre de problemas médicos, como diabetes e gota, devido
à obesidade e ao tabagismo.
Especialistas apontam que, no caso de morte, quem deve suceder o poder é sua irmã mais nova, Kim Yo-jong. Nos últimos anos, a mulher de 34 anos sentou ao lado do irmão em cúpulas com o ex-presidente Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping e fez declarações sobre o aumento de tensões entre os EUA e Pyongyang em junho de 2020.
Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.co
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