Da Redação
Voltou a circular essa semana pelas redes sociais um vídeo em que um homem mostra um peixe que diz ser um tucunaré e exibe larvas dentro do olho do animal. A legenda em tom alarmista diz: "Atenção pescadores de Tucunaré, este é o Gnastoma Spirinelis que o Marco Parisi de Votuporanga contraiu após comer um tucunaré. Já são mais de 400 casos da doença pelo consumo de tucunaré no Brasil. É grave e pode ir para o olho , cérebro e fígado. A recomendação é não consumir (principalmente sashimis) o peixe". A mensagem é #FAKE.
Esse
vídeo já circulou pela primeira vez em 2019 e foi desmentido pelo site Fato ou
Fake com matéria publicada no portal de notícia G1. De acordo com a matéria foi
consultado pela equipe do Fato ou Fake, e o Ministério da Saúde afirmou que a informação de contaminação pelo consumo de tucunaré é falsa.
O órgão afirma que não foi notificado sobre qualquer surto alimentar nos
últimos anos causados pelo consumo do peixe.
O
Ministério da Saúde esclareceu à época ainda que não existe o parasita “Gnastoma
Spirinelis”. "O que há relatos na literatura mundial é de uma doença
chamada gnostostomíase, causada por várias espécies de vermes parasitas do
gênero Gnathostoma, com registros de casos em humanos, mas principalmente em
áreas tropicais e subtropicais, sendo mais comumente diagnosticada na
Ásia."
Doutor
em medicina veterinária com atuação na área de Tecnologia e Inspeção
Higienicossanitária do Pescado e Sanidade de Organismos Aquáticos, Andre Muniz
Afonso diz que o peixe mostrado no vídeo é mesmo um tucunaré.
Professor
da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ele destaca que a identificação dos
parasitas não pode ser feita apenas pela visualização do vídeo, pois é
necessária a coleta de algumas amostras e posterior identificação por
especialistas.
Contudo,
Muniz acredita que os parasitas mostrados no vídeo sejam da família
Diplostomidae, conhecidos como "vermes dos olhos" (eye-flukes) pelos
criadores de peixes.
Ele
diz que esses parasitas podem ser encontrados no cristalino e humor vítreo dos
peixes, levando-os à catarata e cegueira. Isso faz com que tenham dificuldade
em se alimentar, emagreçam e morram. Esses parasitas não estão associados a
doenças em humanos, apesar de causarem prejuízos em criações de peixes,
normalmente no Norte do Brasil.
De
acordo com o professor, as formas mais seguras de se consumir os peixes são
aquelas onde existe o tratamento pelo calor. "Recomenda-se o cozimento a,
pelo menos, 60 °C por 10 minutos. No caso do consumo cru, recomenda-se,
previamente ao consumo, que o peixe seja congelado."
Ele
destaca que decreto 9.013, de 29 de março de 2017, publicado pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), recomenda que "os produtos
da pesca e da aquicultura infectados com endoparasitas transmissíveis ao homem
não podem ser destinados ao consumo cru sem que sejam submetidos previamente ao
congelamento à temperatura de -20ºC (vinte graus Celsius negativos) por vinte e
quatro horas ou a -35ºC (trinta e cinco graus Celsius negativos) durante quinze
horas."
O
professor aponta, entretanto, que o congelamento não elimina os riscos do
consumo do pescado cru causados por microorganismos, como bactérias, por
exemplo.
Assim
como o Ministério da Saúde, o professor destaca que a mensagem que circula na
internet veicula de forma errada o nome do parasita. "O nome correto do
gênero é Gnathostoma, existindo várias espécies, dentre elas o Gnathostoma
binucleatum, Gnathostoma spinigerum, Gnathostoma doloresi, mais comuns na
América do Sul."
Segundo
o professor, esses parasitas podem provocar a doença conhecida como
Gnatostomíase no homem, principalmente pelo consumo de peixe cru, com destaque
para certas espécies usadas em ceviches.
Ele
diz que esses relatos são mais comuns no Peru e no Equador, com apenas três
relatos na literatura para o Brasil. Em um deles, um homem do Rio de Janeiro,
de 37 anos, em viagem ao estado de Tocantins, relatou ter consumido tucunaré
cru.
O
homem apresentou vermelhidão subcutânea causada pela migração do parasita e,
após o diagnóstico definitivo, foi medicado e apresentou cura imediata.
Muniz
explica que o homem não é o hospedeiro comum do parasita e, uma vez infectado,
a larva geralmente fará uma migração errática, sendo mais comumente encontrada
no tecido subcutâneo dos membros superiores, causando desconforto e irritação.
O parasita pode ser removido em procedimento médico simples.
Existem
casos mais graves onde essas larvas foram parar nos pulmões, sistema
digestório, sistema genitourinário, ouvidos, olhos e sistema nervoso central.
Mas, segundo o professor, nada se compara a esse número veiculado na mensagem
falsa, de 400 casos.
Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com
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