Por: Waldeck Ornélas é especialista em planejamento
urbano-regional, autor de “Cidades e Municípios: gestão e planejamento
Sou do tempo em que se vivia a mística do
desenvolvimento do Nordeste brasileiro tendo como referência a Sudene, a
poderosa Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, criada pelo
presidente Juscelino Kubitschek e liderada pelo economista Celso Furtado.
Coroava-a o Conselho Deliberativo, formado pelos governadores dos estados e
pelo ministro de estado a que estivesse vinculado o tema do desenvolvimento
regional, cujas reuniões mensais, religiosamente realizadas, constituíam
momento de grande mobilização administrativa e efervescência política. Eram
tempos em que uma vibração de confiança e entusiasmo permeava toda a sociedade
Esvaziada, extinta, depois recriada, a Sudene
ainda existe hoje em dia, embora já não se ouça mais falar dela, porque perdeu
a importância e o significado. Juntou-se ao DNOCS, o carcomido Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas, ao qual se une agora também a Codevasf,
criada para desenvolver o Vale do São Francisco, promover a agricultura
irrigada, e pouco a pouco descaracterizada – a partir do projeto da
transposição sem revitalização – e espraiada por meio Brasil, como se as poucas
águas do Velho Chico tivessem alagado um imenso território. Das instituições
regionais sobrevivem a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf),
cumprida sua missão de aproveitar o potencial energético de Paulo Afonso e de
todo o canyon, e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), preservado pela
fiscalização do Banco Central
O sonho de novas políticas públicas para a
região esvaiu-se a partir do momento em que, esgotado o Sistema 34/18 de
incentivos fiscais, os governadores dos estados do Nordeste abandonaram o
Conselho Deliberativo, matando a política de desenvolvimento regional.. .
Foi
essa lembrança na memória que me dominou ao assistir à live Nordeste Export, do
Fórum Regional de Logística e Infraestrutura Portuária. Tendo como tema a
atualidade e perspectivas do transporte multimodal, desfilaram os projetos da
Ferrovia Transnordestina e da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), além
de uma apresentação da ANTAQ sobre a inativa Hidrovia do São Francisco. A
Ferrovia Centro Atlântica (FCA) não compareceu.
Muito emblematicamente, participou do evento o
prefeito de Petrolina (PE), que junto com Juazeiro (BA) formam o maior núcleo
urbano do interior do Nordeste, menor apenas que Feira de Santana, esta a 100km
de Salvador. Trata-se dos dois grandes pontos nodais do hinterland regional,
com grande importância logística.
No caso de Feira de Santana é o maior
entroncamento rodoviário no Nordeste e portal de entrada de Salvador, capital
da Bahia e importante região metropolitana. Já em relação ao Polo Juazeiro –
Petrolina a situação é crítica, uma vez que apesar da sua expressão econômica,
continua relegado: por lá não passa a Transnordestina, está abandonado pela FCA
e não conta com a hidrovia, ora desativada
É que cada projeto hoje caminha isolado e
independente dos demais, sem qualquer integração ou articulação, sequer
projetada. E a força política mobilizada para superar as lacunas não logram
conseguir êxito. Como se vê, consórcio interestadual – o novo modelo adotado –
não substitui a dignidade e a importância do antigo Conselho Deliberativo da
Sudene. Trata-se apenas de uma sociedade civil, sem qualquer força
institucional. A emenda ficou pior do que o soneto..
O Nordeste demanda uma nova política de
desenvolvimento. Precisa de estadistas para recomeçar
Para ler mais acesse, www:
professortacianomedrado.com
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