Da Redação
Prof.Taciano Medrado
Uma “tempestade perfeita” se abateu sobre o dólar no mercado
brasileiro nesta quinta-feira, com a moeda norte-americana fechando no menor
patamar desde junho e aproximando-se do suporte psicológico de 5 reais, puxada
por forte ajuste de posições pró-Brasil num contexto de esperanças sobre
reformas locais e de mais ingresso de fluxo estrangeiro.
A sinalização do Banco Central de
que o ciclo de cortes da Selic caminha
para um fim, o salto nos preços das commodities e a confirmação pelo BC de que
dará saída parcial ao mercado na esteira do desmonte do overhedge minaram
qualquer demanda pela moeda norte-americana nesta sessão.
O dólar à vista caiu 2,55%, a 5,0417 reais na venda, menor nível desde
16 de junho (4,9398 reais) e maior queda percentual diária desde 6 de novembro
(-2,80%).
A cotação oscilou em baixa durante todo o dia, indo de 5,1334 reais na
máxima (-0,78%) a 5,0322 reais (-2,73%) na mínima.
No mercado futuro da B3 (B3SA3), o contrato de
dólar para primeiro vencimento cedia 2,90%, a 5,0215 reais, às 17h40, após
tocar 5,0170 reais no piso da sessão.
O real foi, de longe, o maior destaque nos mercados globais de câmbio
nesta sessão, já marcada por rali em várias divisas de risco.
Analistas comentaram que o câmbio reagiu a um movimento de “compra de
Brasil”, que fez o Ibovespa superar os 115 mil pontos durante a sessão e os
juros longos caírem quase 10 pontos-base.
“O Brasil ainda está barato em dólar”, disse Rafael Ribeiro, analista da
Clear. “Isso com certeza foi um dos pontos para o investidor estrangeiro olhar
para o nosso mercado. E quando você tem uma sinalização positiva no avanço da
agenda de reformas isso se reflete em aumento de fluxo para a bolsa, o que
impacta o dólar”, completou.
Notícias de que o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, afirmou
que o projeto de reforma tributária pode ser votado já na próxima semana soaram
como música para os ouvidos de investidores, os quais entendem que esse seria
mais um passo na direção de ortodoxia fiscal, o que afastaria movimentos para
flexibilizar ou furar o teto de gastos.
Do ponto de vista de liquidez, a indicação clara de que o BC dará
suporte à liquidez no fim do ano também nocauteou o dólar. O BC vendeu nesta
quinta 800 milhões de dólares em contratos novos de swap cambial tradicional
–ou seja, fez injeção líquida de moeda no mercado. Mantido o atual ritmo, a autarquia
caminha para despejar 9,602 bilhões de dólares em swaps a mais do que o lote a
vencer em janeiro.
“Em razão da recente apreciação da moeda (do real), havia dúvidas se o
BC iria atuar dessa forma (com venda líquida de swaps)”, comentou Sergio Goldenstein,
consultor independente e estrategista na Omninvest Independent Insights e
ex-chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do Banco Central.
O tom considerado “hawkish” (favorável a alta de juros) pelo Comitê de
Política Monetária (Copom) do BC na véspera foi mais um gatilho para as vendas
de dólares, uma vez que a indicação de retirada “em breve” da promessa de não
subir juros foi considerada uma surpresa, na avaliação do Citi. A queda dos
juros a sucessivas mínimas recordes nos anos mais recentes é citada por
analistas como um dos fatores de pressão sobre o câmbio.
O ambiente externo de fraqueza do dólar jogou a pá de cal na moeda nesta
sessão. O índice da moeda norte-americana caía 0,35% no fim da tarde, com
fortes ganhos em pares do real como peso chileno, peso colombiano, rublo russo
e dólar australiano –todos sensíveis aos preços das commodities, a exemplo da
divisa brasileira.
O índice ThomsonReuters/CRB de matérias-primas saltava 1,6% nesta
quinta, para picos desde março. Veja gráfico do real (invertido) e do índice
CRB:
O Credit Suisse, conhecido no mercado por calls mais conservadores,
ainda se diz relutante em montar posições estruturais a favor do real, mas
afirma que o cenário está mais colorido para o real.
O banco avalia que expectativas de um carry (taxa de retorno) mais alto
e percepção de real ainda subvalorizado e de ativos brasileiros ainda com baixa
presença nas carteiras com um quadro externo “firmemente construtivo” sugerem
que o movimento atual de baixa do dólar ante o real pode ter espaço para se
estender.
“Agora veríamos potencial para o dólar ser negociado em níveis tão
baixos quanto 5,00 reais no curto prazo, ponto em que pensamos que o
posicionamento para uma volta tática em direção à área de 5,30-5,35 se tornará
atraente novamente.”
Fonte: Monettimes
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