Da redação
Prof. Taciano Medrado
Prof. Taciano Medrado
Este 3 de novembro, o dia da eleição
presidencial nos Estados Unidos, poderá ser lembrado como o dia nacional da
ansiedade. Meio mundo espera ansiosamente a reeleição do presidente Donald
Trump. Outro meio mundo espera ansiosamente uma vitória incontestável do
candidato democrata, Joe Biden. Tanta é a ansiedade que quase dois terços dos
cerca de 150 milhões de eleitores que devem votar desta vez já foram às urnas
antecipadamente ou votaram por correio.
As pesquisas não ajudam os eleitores a relaxar — ou a se conformar. Há
as que indicam a vitória de Trump, umas por pequena margem, outras por uma
grande margem. Outras garantem a vitória de Biden, também por pequena ou grande
margem. E há descrédito nas pesquisas porque elas falharam feio em 2016.
Em média, as pesquisas previram a vitória da candidata democrata Hilary
Clinton por três pontos. Ela ganhou no voto popular por dois pontos. Mas isso
não adiantou: Trump fez mais delegados para o Colégio Eleitoral. Agora, os
institutos de pesquisa e os analistas políticos tentam entender por que suas
previsões falharam em 2016. E se vão voltar a falhar em 2020.
O primeiro problema, que agora os pesquisadores consideram, é o tom das
perguntas. Descobriram, agora, que há evidências significativas, baseadas em
psicologia comportamental, de que a maneira com que as perguntas são formuladas
predetermina uma pequena variedade de possíveis respostas. E os entrevistados
dão respostas que não equivalem a sua intenção de voto, reconheceu o Instituto
Gallup.
Uma das razões para isso é que os entrevistados têm a tendência a dar
respostas mais socialmente aceitáveis. A maioria das pessoas prefere não
revelar sua intenção de voto claramente, porque não gosta de confrontos —
nem mesmo dentro da própria casa, quando responde a perguntas. Declarar o
voto em Trump poderia desagradar muita gente em 2016.
Uma pesquisa do Instituto Cato sugeriu que quase dois terços dos
eleitores acreditam que o clima político está muito radicalizado e, portanto,
preferem não dar respostas genuínas a questões políticas.
Outra falha do sistema diz respeito à amostra. Isto é, ao tamanho e à
qualidade da amostra — ou quem responde à pesquisa: a localização dos
entrevistados, os fatores demográficos e o meio utilizado na entrevista
(linha fixa versus celular). O grupo de entrevistados não corresponde
necessariamente ao grupo de eleitores que irão às urnas, uma vez que votar não
é obrigatório nos EUA.
Embora as pesquisas de intenção de voto prevejam margens de erro, elas
não são confiáveis se a amostra não reflete a população,
dizem agora os pesquisadores. Eles descobriram, por exemplo, que 17%
dos eleitores que "aprovam fortemente" o desempenho de Trump na
presidência admitiram que nunca revelam sua intenção de voto.
Embora a metodologia de elaboração da amostra importe mais do que o
tamanho, ter uma amostra suficientemente representativa da população também é
importante. Alguns institutos de pesquisa decidiram que a amostra deve ser
constituída por pelo menos mil eleitores em cada Estado. E sabe-se que alguns
institutos trabalham com amostras de 400, 500 ou 600 eleitores. A margem de
erro é muito alta.
Um terceiro fator de flutuação das pesquisas é o ciclo de notícias em
momentos diferentes — especialmente em Estados que flutuam entre democratas e
republicanos de uma eleição para outra. Em 2016, as notícias de última
hora sobre investigações pelo FBI dos e-mails privados de Hilary Clinton,
quando era secretária de Estado, a campanha dos russos para desacreditá-la e a
divulgação de e-mails supostamente comprometedores do comitê do Partido
Democrata pela WikiLeaks foram fatores que influenciaram a eleição,
dizem agora os pesquisadores.
Seja como for a ansiedade, vai passar neste 3 de novembro — ou não. As
previsões são de que a contagem dos votos, em alguns Estados, pode levar toda a
semana. Nesses Estados, os votos enviados pelo correio só poderão ser contados
depois da contagem daqueles depositados nas urnas.
Esses votos passarão por um processo de escrutínio muito rígido, que
inclui conferências de assinaturas e do procedimento de votação, sob as vistas
de fiscais dos dois partidos. Esses fiscais, em grande parte advogados, irão
certamente abrir discussões sobre a validade de muitos votos. E poderão se
originar aí ações judiciais que irão retardar a confirmação dos resultados das
eleições
No topo dessas incertezas, há mais um fator que agrava a ansiedade:
Trump já anunciou aos quatro ventos que não irá aceitar uma derrota se for
por pequena margem. Ele irá recorrer à Justiça.
Poderá, por exemplo, exigir, por via judicial, a recontagem dos votos em
um ou outro Estado. Esse será um processo que vai chegar à Suprema Corte. Em
2000, ela proibiu a recontagem dos votos na Flórida, depois que o procedimento
foi autorizado em primeira instância e pelo tribunal superior do Estado. Para a
Suprema Corte autorizar a recontagem desta vez, terá de contrariar seu
precedente
Trump poderá também alegar que houve fraudes e outros problemas nas
eleições, principalmente por causa do número de votos sem precedentes pelo
correio (por causa do coronavírus)
Ele vem, há tempos, declarando que o voto pelo correio, que é um
procedimento antigo no país e nunca foi suspeito de fraudes, desta vez será
corrompido pelos democratas — e, por causa isso, não aceitará a derrota. Nesse
caso, a eleição será decidida pela Suprema Corte — ou, como se diz no futebol,
"no tapetão".
Se assim for, prevê-se que quatro ministros conservadores irão votar a
favor de Trump e os três ministros liberais, mais o conservador John Roberts,
poderão votar a favor de Biden. A única dúvida é o voto do ministro conservador
Brett Kavanaugh, nomeado por Trump. A dúvida surge por causa de seus votos
anteriores. Nesse caso, Kavanaugh, não os 150 milhões de eleitores, irá decidir
quem será o próximo presidente do país.
Para ler outras
matérias acesse, www: professortacianomedrado.com
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