POLÍTICA: ISOLAMENTO DO PT DIFICULTA UNIÃO DA ESQUERDA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS



Foto ilustração Internet



Por: Bruna Aidar/huffpostbrasil


A 2 meses do prazo final de registro de candidaturas para as eleições municipais deste ano, as movimentações dos partidos de esquerda para o pleito reforçam divergências que se instalaram em 2018 e indicam que a criação de uma frente ampla da oposição para enfrentar Jair Bolsonaro em 2022 ainda é pouco factível.


Além do impacto do fim das coligações proporcionais e do fato de as eleições municipais envolverem questões regionais muitas vezes apartadas da polarização em nível nacional, dirigentes partidários ouvidos pelo HuffPost apontam que as alianças firmadas agora não necessariamente serão replicadas em 2022. Oficialmente, a maioria deles defende que é cedo para discutir a disputa presidencial


Parte dessas legendas já decidiu atuar em bloco, enquanto o PT, o maior representante da esquerda, caminhará isolado em grande parte das capitais, com alianças prioritárias com o Psol. E embora todas as siglas oposicionistas conversem entre si e prevejam composições majoritárias em parte dos mais de 5 mil municípios brasileiros, persistem rusgas como aquela entre PT e PDT, encabeçadas pelo ex-presidente Lula e pelo ex-governador do Ceará Ciro Gomes.


No PT, a decisão de priorizar candidaturas próprias nas capitais vem por ordem de Lula, visando não só a retomar parte do espaço perdido pela legenda – que encolheu no número de prefeituras em 2016, perdendo 374 prefeituras – mas também usar o pleito como uma prévia da polarização entre PT e Bolsonaro, que, aposta, deve se repetir em 2022


Em alguns casos, contudo, como o de Porto Alegre (RS), o PT admite abrir mão da cabeça de chapa. Na capital gaúcha, por exemplo, a tendência é que a candidata à Prefeitura seja Manuela d’Ávila (PcdoB), que foi vice de Fernando Haddad (PT) em 2018.


Apesar da determinação lulista, há questões a serem resolvidas internamente pelo partido: no Recife (PE), a candidatura de Marília Arraes enfrenta resistência de dirigentes locais, que preferiam uma aliança com o PSB. Em São Paulo (SP), o nome do ex-deputado Jilmar Tatto tampouco é unanimidade.


O Psol ainda não referendou a lista de partidos com os quais poderá coligar, mas já havia definido, no ano passado, que conversas estavam autorizadas com todas as siglas de oposição a Bolsonaro, incluindo os que têm menor representatividade eleitoral, como PCO, PSTU, PCB e UP. Nas capitais, contudo, o presidente nacional da legenda, Juliano Medeiros, diz que a maior parte das alianças construídas até agora é, de fato, com o PT.

Os psolistas devem contar com o apoio petista em pelo menos duas capitais: Florianópolis (SC), que tem o professor Elson Pereira como pré-candidato, e Belém (PA), em que o nome da legenda deve ser o deputado federal Edmilson Rodrigues. Nos 2 casos, o arco de partidos na chapa também deve envolver PDT, PSB e Rede.

Frente de oposição sem PT

Sem o PT, a frente formada pelo PDT com PSB, Rede e PV garante que priorizará alianças entre eles, pelo menos em 2020. No Rio de Janeiro (RJ), por exemplo, a chapa do grupo terá a deputada estadual Martha Rocha, do PDT, e o ex-presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, da Rede – eles ainda discutem quem encabeçará a chapa.



Ainda não há unanimidade, no entanto, quanto à permanência da atuação em bloco para as eleições de 2022. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, diz que a frente foi formada pensando exclusivamente neste ano. “2022 vamos discutir em 2022, ninguém sabe como será a conjuntura lá na frente, e 2 anos de política no Brasil são uma eternidade”, disse ao HuffPost.


Líder da Rede no Senado, Randolfe Rodrigues afirma, no entanto, que o grupo já mira, sim, uma construção para 2022. Para este ano, o plano é que a frente dispute em todas as capitais, com um candidato de alguma das 4 legendas, com a determinação, por parte da Rede, de que não seja estabelecida qualquer aliança com partidos que estejam de alguma forma alinhados a Bolsonaro.


“É um critério do partido: partidos que estejam defendendo as ideias do governo federal estão fora do rol de alianças. A Rede intervirá contra Bolsonaro e sua necropolítica”, criticou o senador.


Carlos Lupi, que comanda o PDT, afirmou ao HuffPost que dará “prioridade absoluta” à frente alternativa, mas que, em alguns municípios, a realidade local “torna difícil” a composição. Questionado sobre o PT, ele afirma não haver “qualquer impeditivo” de coligação, diz manter o diálogo com a presidente petista, Gleisi Hoffmann – e não com o ex-presidente Lula – e alfineta: “Em capitais, o PT não tem nenhum nome forte”.


Lupi acrescenta que sua estratégia prioritária é lançar o maior número possível de nomes, especialmente para constituir uma plataforma sólida em 2022, em apoio à candidatura de Ciro Gomes. “Onde a gente tiver viabilidade eleitoral, priorizaremos nomes próprios para termos um time muito grande nas ruas nas próximas eleições, apoiando o Ciro.


Apontado como possível candidato à Presidência, o governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, aposta em uma “larga fragmentação” nas eleições municipais, com as legendas focando em lançar candidaturas próprias para fortalecer as respectivas chapas de vereadores. Na sua avaliação, as articulações, agora, são puramente locais.


“O que às vezes acontece é permuta, mas não vinculado a 2022. Esta eleição [municipal] é pouco nacionalizada, só nas capitais é que a questão nacional imbrica mais fortemente. É muito difícil fazer isso, são 5.000 eleições; imagina tentar enquadrar isso em uma caixinha. 2022 pertence a 2022”, disse


Dino integra o grupo de oposição que, como PSB, PDT e Rede, não rechaça alianças que estejam inclusive fora do campo da esquerda. “A tendência do sistema político como um todo é de união apenas nos segundos turnos. E nacionalmente, para quando houver o segundo turno, é necessário que você tenha ambiente para que as forças da esquerda se juntem. Se fica muita aresta, muita mágoa, dificulta.”



Nesse sentido, ele aposta, por exemplo, que Lula e Ciro ainda devem se acertar e retomar a parceria política: 


“Acho que é mais uma coisa temporária [a rixa de ambos], basta olhar o seguinte: se você me pedisse hoje para apontar cinco propostas diferentes deles, eu teria dificuldade. A visão é muito parecida quanto ao papel do Estado, bolsonarismo, postura do Brasil na política externa, entre outros temas”, acrescentou o governador.


Sobre a sua própria candidatura, Dino se esquiva e diz que, no momento, o “mais importante é melhorar o ambiente no nosso campo político”. 


“Eu posso ser candidato a um cargo nacional se houver forças políticas desejando. Não tenho ansiedade, acho que o importante é você ter clima, se for para dividir mais ainda, não me meto nisso”, opinou.


 

Novo partido para 2022? 

O governador do Maranhão sinaliza para uma discussão que deve envolver algumas das legendas de esquerda a partir do ano que vem: a possibilidade de que as menores delas, frente à possibilidade de não sobreviverem à cláusula de barreira, tenham que se fundir a outras. Recentemente, surgiu a informação de que uma dessas uniões poderia envolver PCdoB e PSB, já visando a uma possível candidatura de Dino em 2022.


Questionados sobre o assunto, tanto Dino quanto Siqueira desconversaram. O dirigente do PSB chegou a classificar a informação como “fake news”. “Se o Dino quiser vir, é um grande quadro e será bem-vindo, mas não temos essas conversas nem com o PCdoB nem com nenhum partido”, disse o presidente nacional do PSB.


Nos bastidores, a informação é de que a criação de um novo partido chegou, sim, a ser mencionada, mas que não há um debate avançado. “Não há conversa sobre esse assunto. O que tenho dito, em termos gerais, é que haverá uma reorganização da esquerda em 2021 por conta das novas regras eleitorais e da cláusula de barreira. Se vai atingir PCdoB, PSB, é um assunto do futuro”, afirmou Dino. “O que tenho destacado é que, nessa reorganização, creio que a esquerda deve buscar maior convergência.”



Para ler outras matérias  acesse, www: professortacianomedrado.com

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