Por: William Douglas, juiz federal no TRF-2 (RJ e ES),
professor e escritor.
Citarei três casos e depois comentarei.
Caso 1.
A imprensa publica foto do juiz Marcelo Bretas em
uma academia, dizendo que de lá acompanhou diligências policiais. Óbvia
insinuação de que o juiz não estava no local de trabalho. Só faltou dizer que
não era horário de expediente, foi entre 6 e 8 da manhã.
Caso 2.
A imprensa noticia que o Presidente nomeou um pastor
presbiteriano para a Comissão de Ética. Só faltou dizer que o nomeado, entre
outras qualificações, é Doutor pela USP, Mestre pela Mackenzie, instituição
onde já foi Reitor. Esqueceu de dizer que é advogado e membro do conselho
deliberativo da Santa Casa de Santos.
Caso 3.
Rubens Teixeira, mais de uma vez nomeado para relevantes cargos públicos, foi anunciado
unicamente como “pastor da Assembleia de Deus”. A mídia só não disse que ele é
Doutor em Economia (UFF), Mestre em Engenharia Nuclear (IME) e bacharel em
Engenharia Civil (IME), Direito (UFRJ) e Ciências Militares (AMAN). Esqueceu de
anotar que, além de outras qualificações, é analista do BACEN e escritor best
seller com livros já traduzidos para inglês, espanhol e leto.
Ora, é óbvio que ser pastor não desqualifica ninguém,
mas causa estranheza que a imprensa seja tão obcecada com a religião a ponto de
IGNORAR as qualificações relacionadas aos cargos.
Curioso que falam tanto em estado laico, sem nem
saber direito o que isso é, mas são os primeiros a tacharem pessoas por seus
credos e limitar qualquer notícia a esse predicado.
Ao meu sentir, temos uma imprensa que não está
cumprindo o papel de informar nem está sendo leal e “laica”. Isso me parece
preconceito religioso e serviço mal feito. A falta de informação suficiente
induz nos leitores o entendimento de que as indicações do Dr. Ribeiro e do Dr
Teixeira se basearam unicamente no fato de serem pastores evangélicos, sendo
essa a única qualificação mencionada nas matérias. A indicação para uma
função técnica e pública faz com que seja necessário pesquisar as
aptidões acadêmicas e a experiência profissional para o exercício do cargo.
Sem esses cuidados básicos, a imprensa desinforma, e isto é o oposto de sua
missão.
Além disso, é violação dos direitos humanos
discriminar alguém por sua fé.
Lamentável, portanto, que atividade tão preciosa
quanto a liberdade de imprensa seja mal utilizada. Mais lamentável ainda é
sabermos que o abuso das meias verdades, da manipulação, da afronta aos
direitos humanos, e a deslealdade, vai minando a credibilidade da imprensa. E
todos nós precisamos da imprensa, ao menos quando ela age como tal e não como
veículo de informação parcial e enviesada.
O caso 1 trata da perseguição a magistrados e os
dois outros de perseguição religiosa. A quem interessa desconstruir e
desconstituir a magistratura? Qual a autoridade moral de quem ignora a
qualificação técnica de alguém nomeado para uma função técnica ?
Fica aqui o alerta para quem lê e confia nas
notícias mancas, e o alerta para quem as produz: pode demorar, mas o povo
terminará por não levar mais a sério aquilo que é escrito sem a devida
seriedade.
Amo
a liberdade de imprensa e reafirmo sua importância para uma democracia. Porém,
é justo esperar que a própria imprensa zele por sua credibilidade, trazendo
informação com lealdade."
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